Valentina Tereshkova tornou-se pioneira no espaço há 52 anos

por Nuno Patrício - RTP
Valentina Tereshkova - Cosmonauta russa, primeira mulher e civil no espaço Fotos: Федеральное Kосмическое Aгентство России - Roscosmos/Reuters

A 16 de junho de 1963, às 12h30, hora de Moscovo, entrava na órbita terrestre a nave russa Vostok 6 (Восток-6 ), tripulada pela primeira mulher cosmonauta do mundo.

Foi uma proeza pioneira. Estávamos em 1963. Valentina Tereshkova, uma rapariga soviética com 26 anos, tornava-se a primeira e mulher a subir à órbita terrestre e a olhar o mundo de uma perspetiva acessível a poucos.

Decorridas cinco décadas, Valentina, como gosta que a chamem, quer voltar ao espaço, mas desta vez quer ir mais longe: Marte.
Quem é Valentina Tereshkova
A história desta mulher começa a 6 de março de 1937. Valentina, filha de um condutor de tratores agrícolas de uma operária têxtil, nasce na localidade russa de Maslennikovo, distrito de Yaroslavl.

                     

É segunda de três irmãos. Aos oito anos, teve a oportunidade de começar a estudar. Começou a trabalhar numa fábrica têxtil aos 18. Os estudos, esses, continuaram, mas por correspondência. Em 1958, entusiasma-se pelo paraquedismo e três anos mais tarde, em 1961, começa a prepara-se para ser cosmonauta.

Após vários testes, Valentina Vladimirovna Tereshkova acabaria por ser a escolhida de um grupo restrito de apenas quatro mulheres.

A experiência como paraquedista seria fundamental, porque as cápsulas Vostok não precisavam de ser pilotadas e, depois da reentrada na atmosfera, ejetavam o tripulante.

Naqueles primeiros anos de Guerra Fria, Valentina não era militar e continuava a trabalhar na fábrica têxtil: seria a primeira mulher, civil, a viajar até ao espaço.
Treinos intensos e rigorosos
Depois do histórico voo de Yuri Gagarine, em 1961, o visionário Sergei Korolev, um dos mentores do programa espacial russo, teve a ideia de enviar uma mulher ao espaço. Valentina e outras quatro jovens foram selecionadas para treinos rigorosos.


Testes de isolamento, horas no sistema de centrifugação, diversos voos nos aviões a jato MIG 15, aulas de engenharia espacial e mais de 120 saltos de paraquedas, em tudo iguais ao treino masculino. 


Porém, apesar destas provas exigentes, Valentina e as outras mulheres não foram integradas no corpo de cosmonautas em circunstâncias análogas às dos homens. 

Na verdade, o primeiro voo espacial de uma mulher só aconteceu por propaganda – e foi o líder soviético Nikita Khrushchev quem escolheu Valentina.


Um voo atribulado

Nas décadas de 50 e 60 a corrida espacial entre norte-americanos e soviéticos estava no auge, mas a antiga URSS ganhava terreno.

O primeiro satélite artificial (Sputnik), primeiro ser vivo no espaço (Laika), primeiro humano no espaço (Gagarine) eram marcos soviéticos. Era quase evidente que a primeira mulher no espaço também teria de ser russa.

O mais curioso neste caso é que, além de ter sido a primeira mulher, foi a primeira civil a atingir a óbita terrestre, algo que não se voltou a repetir ate aos anos de 1980.

Mas esta viagem espacial, que até parecia correr sob rodas aos olhos do mundo, teve alguns percalços. Tudo começou quando Valentina se encontrava em órbita. No dia 16 junho de 1963, a cosmonauta Valentina Tereshkova, a bordo da apertada cápsula espacial Vostok 6, levantava voo do cosmódromo de Baikonur, na antiga província soviética do Cazaquistão.

Foram 48 voltas em quase três dias em órbita da Terra (mais do que a soma de todos os voos do Projeto Mercury). Um longo período orbital não previsto que se estimava em pouco mais de 24 horas e que só foi prolongado devido a um mau posicionamento de reentrada da cápsula.


O problema foi descoberto por Valentina e comunicado para a missão de controlo em Terra. A cápsula estava orientada 90 graus no sentido errado, o que faria que quando fossem acionados os motores, em lugar de voltar para a Terra, iria ser lançada numa órbita superior sem possibilidade de regresso. Ou seja, morreria no espaço.

Esta dificuldade poderia ter sido facilmente resolvida, se houvesse autorização por parte da missão de controlo para que a cosmonauta assumisse o comando manual da nave. Todavia, de início, no centro de controlo, não acreditaram nas palavras de Valentina. E só ao segundo dia é que descobriram e resolveram o problema. A missão era para durar um dia. Durou três.

Mas a epopeia espacial feminina ainda não tinha terminado. Ao cabo de três dias, com muitos nervos e fome, Valentina TereshKova tinha já passado mais tempo no espaço do que todos os astronautas norte-americanos juntos.

No regresso, Tereshkova sofreu mais alguns problemas quando foi ejetada da cápsula e quase morreu afogada, devido à falta de apoio terrestre, após ter mergulhado num lago de paraquedas. Toda a história foi ocultada pelo regime soviético. A versão real dos factos seria divulgada anos mais tarde.
Marte, um desejo de regressar ao espaço

Valentina Tereshkova, agora com 78 anos, ainda sonha com o espaço. "Ainda tenho sonhos sobre aquela viagem", confessou a cosmonauta durante uma entrevista na delegação da ONU, em Viena, há cerca de dois anos.


E surpreendeu os seus compatriotas ao expressar desejo de voar até Marte: "É meu planeta favorito. O mais provável é que os primeiros voos a Marte sejam só de ida, essa é minha opinião. Eu estou disposta, mas infelizmente isto não acontecerá tão cedo".

A Rússia não se esqueceu dos feitos desta mulher. O nome de Valentina Tereshkova está presente numa calçada dedicada aos cosmonautas russos, bem como em várias ruas do país. O seu rosto aparece em selos dos correios de vários países.

               

Foi a única mulher na História que viajou ao espaço sem a companhia de outros cosmonautas. Valentina Tereshkova foi condecorada em 2013 com a Ordem de Alexander Nevsky, pela mão de Vladimir Putin. 
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