Banco Central da Rússia suspende venda de moeda estrangeira até setembro

por Inês Moreira Santos - RTP
Maxim Shemetov - Reuters

Com o rublo em queda acentuada desde o início da invasão da Ucrânia, devido às sanções ocidentais, o Banco Central da Rússia anunciou algumas medidas para ajudar a economia do país. A partir desta quarta-feira e durante pelo menos seis meses, fica suspensa a venda de moeda estrangeira e é imposto um limite de dez mil dólares para o levantamento de dinheiro de outros países em bancos russos.

“De 9 de março a 9 de setembro de 2022, o Banco da Rússia estabelece o seguinte procedimento para emitir fundos de depósitos em moeda estrangeira ou contas de cidadãos”, começa por anunciar o Banco Central da Rússia, em comunicado. “Todos os fundos do cliente em contas ou depósitos em moeda estrangeira são mantidos e contabilizados na moeda de depósito, o cliente pode retirar até dez mil dólares americanos em dinheiro e os fundos restantes - em rublos à taxa de mercado no dia da emissão”.

Segundo explica a instituição, "os bancos não poderão vender moeda estrangeira aos cidadãos". Contudo, os russos vão poder trocar dinheiro de outras nacionalidades por rublos durante esse período "a qualquer momento, a qualquer hora e em qualquer montante".

“Nos bancos russos, cerca de 90 por cento das contas em moeda estrangeira não excedem o valor de 10 mil dólares americanos, ou seja, 90 por cento dos titulares de depósitos ou contas em moeda estrangeira poderão receber integralmente os seus fundos em dinheiro”, adianta-se ainda no documento.

Durante o período desta ordem temporária, “a moeda será emitida em dólares americanos, independentemente da moeda da conta”, mas o prazo para qualquer transação deste tipo deverá ser de "vários dias".
Default iminente
Quase em sintonia com o anúncio das medidas do Banco Central da Rússia, a agência de notação financeira Fitch baixou ainda mais o rating da dívida russa, de B para C — dentro da categoria de junk bonds — e já prevê um default iminente, adianta El País.

Antes deste anúncio, os cidadãos russos já estavam a correr para os bancos, não só pelas incertezas geradas pela guerra, mas pelas sanções económicas internacionais que têm sido impostas por vários países à Rússia, por causa da invasão da Ucrânia. E, por isso, estas medidas pretendem evitar que os clientes dos bancos russos corram a comprar dólares americanos com a queda do rublo.

“Para as pessoas comuns, o principal impacto dessas medidas é que não podem mais comprar dólares, que (…) é o melhor ativo financeiro para se proteger contra a inflação”, disse Konstantin Sonin, economista russo da Universidade de Chicago, ao Washington Post.

Sergey Aleksashenko, ex-alto funcionário do Ministério das Finanças e do Banco Central da Rússia, que agora vive nos Estados Unidos, considera esta medida uma “incrível tolice”.

Aparentemente, a saída de depósitos em moeda estrangeira dos bancos russos superou as previsões do Banco da Rússia e colocou em questão a capacidade dos bancos de cumprir as suas obrigações”, escreveu no Substack. “O maior erro que a autoridade monetária pode cometer na Rússia é mexer nas poupanças privadas – se não houve corrida aos bancos até agora, isso vai acontecer”.

Recorde-se que, na semana passada, a União Europeia anunciou a exclusão de sete bancos russos do sistema Swift, medida que vigorará a partir de 12 de março e pode levar a um retrocesso na economia russa. E na terça-feira, os Estados Unidos anunciaram a suspensão da importação de petróleo russo, o que acentuou a queda do rublo.
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