Cimeira da NATO. Começam conversações com Turquia sobre adesão da Suécia e Finlândia

por Inês Moreira Santos - RTP
Stephanie Lecocq - EPA

A cimeira da NATO, em Madrid, começa na quarta-feira com a guerra na Ucrânia como pano de fundo e onde se vai definir a Rússia como a maior e mais direta ameaça. Mas à margem deste evento, e ainda antes de se iniciar, arrancam já encontros paralelos, dos quais se destacam as negociações com a Turquia sobre a adesão da Finlândia e da Suécia à organização.

Entre quarta e quinta-feira, 29 e 30 de junho, decorre a cimeira da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês), no contexto da invasão russa da Ucrânia e na qual se prevê uma atualização do conceito estratégico definido para a última década. Para os próximos dias está em cima da mesa também a candidatura da Suécia e da Finlândia para se juntarem à Aliança do Atlântico Norte, a qual tem visto entraves por parte da Turquia.

Esta terça-feira, a horas de se dar início à cimeira na capital espanhola, vão decorrer reuniões para tentar ultrapassar o veto turco, embora se preveja que a tarefa não seja fácil, uma vez que Recep Tayyip Erdogan se tem manifestado irredutível devido ao apoio nórdico ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão, que a Turquia qualifica de organização terrorista.

O presidente turco anunciou que, nas próximas horas, decorrem conversações com o seu homólogo finlandês, Sauli Niinisto, e com a primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, na presença do secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês), Jens Stoltenberg.

"Vamos encontrar-nos hoje com a primeira-ministra da Suécia, o presidente da Finlândia e o secretário-geral da NATO", afirmou esta terça-feira Erdogan, citado pela Reuters.

"Queremos resultados, não palavras vazias".

A principal expectativa turca para esta cimeira, segundo o chefe de Estado turco, "é a solidariedade incondicional que [a NATO] pode mostrar".

"Pertencemos à Aliança Atlântica há 70 anos, a Turquia não é membro da NATO por acaso", insistiu. "Se a Suécia e a Finlândia se tornarem membros da NATO, têm de ter em conta as preocupações da Turquia, não pode ser de outra forma".
Suécia, Finlândia e Turquia reúnem-se no arranque da cimeira de Madrid
Em maio, a Turquia anunciou bloquear as candidaturas sueca e finlandesa à adesão à NATO e espera-se, agora, que a questão seja um dos destaques da cimeira de Madrid. Nas últimas semanas, têm decorrido negociações para tentar ultrapassar o veto turco, mas Stoltenberg afirmou na segunda-feira, em Bruxelas, que não podia fazer promessas em relação a um desfecho esta semana, pelo que se limitou a dizer que espera "progressos".

Recorde-se que a Turquia acusa a Suécia de albergar militantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), uma organização que Ancara considera terrorista. Além disso, Ancara exige o levantamento dos bloqueios à exportação de armas por Estocolmo e Helsínquia após a intervenção militar da Turquia no norte da Síria em outubro de 2019, o endurecimento da legislação antiterrorista sueca e a extradição de várias pessoas que descreve como terroristas.

Na segunda-feira à noite, o presidente turco declarou que a Turquia vai mostrar "documentos e imagens que provam a hipocrisia dos nossos interlocutores em relação às organizações terroristas curdas, como o PKK, o YPG e o FETO (grupo Gülen)".

Por sua vez, a Suécia espera que as medidas que tem tomado contra o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) convençam a Turquia antes da cimeira da Aliança.

"Condenamos veementemente o terrorismo e consideramos o PKK uma organização terrorista", disse a primeira-ministra Magdalena Andersson também na segunda-feira à noite, após uma reunião na sede da NATO em Bruxelas com o secretário-geral da Aliança, Jens Stoltenberg.

Nas palavras da chefe do Governo sueco, Estocolmo aplicou "legislação contra o financiamento do terrorismo, novas leis para criminalizar a participação em organizações terroristas, a avaliação dos pedidos de extradição apresentados por Ancara e a promessa de não ser um refúgio para terroristas".

"Espero muito que este diálogo possa ser concluído com sucesso num futuro próximo, idealmente antes da cimeira"
, acrescentou Andersson, numa conferência de imprensa.

No mesmo sentido, Stoltenberg reforçou que a Suécia tomou "medidas concretas para responder à Turquia", as quais "constituem uma mudança de paradigma diante da ameaça terrorista".
Cimeira começa amanhã

Condicionada pela guerra na Ucrânia, a cimeira da NATO vai juntar delegações de mais de 40 países, entre os 30 membros da Aliança e outros convidados. O encontro foi convocado e pensado inicialmente antes da invasão russa e tem entre os convidados países da Ásia e do Pacífico (Austrália, Japão, Coreia do Sul e Nova Zelândia), do Médio Oriente (Jordânia) e de África (Mauritânia), assim como os seis estados da União Eurpeia que estão fora da NATO (Finlândia, Suécia, Áustria, Chipre, Irlanda e Malta).

As comitivas chegam já esta terça-feira, na sua maioria, à capital espanhola, e antes do início dos trabalhos oficiais da cimeira, na quarta-feira, vão reunir-se num jantar de gala, oferecido pelo Rei Felipe VI. Durante o dia, Stoltenberg e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, anfitrião do encontro, vão visitar o espaço da Feira de Madrid (Ifema), onde decorrerá a cimeira.

O secretário-geral da NATO fará ainda a abertura de um fórum dedicado à cimeira, um evento paralelo ao do encontro organizado pelo 'think thank' espanhol Real Instituto El cano.

Ao longo do dia, Sánchez recebe na sede do Governo espanhol, a Moncloa, alguns dos seus homólogos, todos de países que não fazem parte da União Europeia: Estados Unidos (Joe Biden), Austrália (Anthony Albanese), Nova Zelândia (Jacinda Ardern) e Islândia (Katrín Jakobsdóttir).

Os trabalhos da cimeira arrancam na quarta-feira e prolongam-se por dois dias, durante os quais a NATO vai adotar um novo Conceito Estratégico, dcocumento que define as suas prioridades para a próxima década e que, segundo Stoltenberg, deverá defnir a Rússia como a maior e mais direta ameaça aos países da aliança militar.

Em Madrid deverão também ser aprovados reforços das forças da aliança no leste europeu e das tropas de alta prontidão, naquela que constituirá "a maior revisão" da estratégia "de dissuasão e defesa coletiva" da NATO desde a Guerra Fria.

Será ainda aprovado um novo pacote de ajuda à Ucrânia e também Geórgia, Bósnia e Moldova terão novos planos de ajuda da NATO.


C/ agências


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