Destruição de barragem. Kherson em estado de emergência face a inundações

por Inês Moreira Santos - RTP
EPA

Depois da destruição da barragem de Nova Kakhovka e das consequentes inundações, na terça-feira, foi declarado um estado de emergência na região ocupada de Kherson. As autoridades russas que controlam esta região ucraniana confirmaram o desaparecimento de sete pessoas nas cheias e receiam que estejam em perigo mais de 42 mil habitantes das áreas em redor do Rio Dnipro.

O estado de emergência foi imposto pelas autoridades depois de o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, dizer ao Conselho de Segurança que a destruição da barragem “terá consequências graves e de grande alcance para milhares de pessoas no sul da Ucrânia, em ambos os lados da linha da frente, com perda de casas, alimentos, água potável e meios de subsistência”.

“A magnitude da catástrofe só será plenamente compreendida nos próximos dias”, afirmou, segundo cita o Guardian. "A destruição da barragem é possivelmente o incidente mais significativo de danos à infraestrutura civil desde o início da invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022".Segundo a agência russa de notícias Tass, cerca de de 2.700 habitações foram inundadas na terça-feira, na sequência da destruição da barragem. Pelo menos 1.300 pessoas foram retiradas pelas autoridades, estando sete pessoas desaparecidas.

A mesma fonte adianta ainda que as forças de ocupação russas na região criaram “40 centros de alojamento temporários, onde estão 345 pessoas”. Há também um “grupo de 350 socorristas pronto para trabalhar na região de Kherson”, segundo as autoridades que acrescentam que foram enviadas “cerca de 100 unidades de equipamentos, incluindo motas aquáticas”.

"Agora estamos a procurar informações sobre os desaparecidos. Sabemos ao certo" que sete pessoas estão desaparecidas, disse o autarca de Kakhovka.

As equipas de socorro estão no terreno e o nível da água na cidade já começou a baixar, embora ainda seja "muito significativo", acrescentou Vladimir Leontiev, de acordo com a agência de notícias russa Interfax. Cerca de 900 pessoas foram retiradas da região de Kakhovka, incluindo 17 resgatadas de telhados, já que a água atingiu os 12 metros de altura. As previsões apontam, contudo, que o nível da água comece a baixar dentro de três dias.
As autoridades ucranianas, por sua vez, admitem ter retirado mais de 17 mil pessoas das áreas afetadas.

"Mais de 40 mil pessoas correm o risco de estar em áreas inundadas (…) Infelizmente, mais de 25 mil civis estão no território sob controlo russo", anunciou o procurador-geral ucraniano Andrey Kostin.

A situação mais difícil está “a ocorrer no distrito de Korabelny, na cidade de Kherson” e até agora, “o nível da água subiu 3,5 metros, mais de mil casas estão inundadas", disse, num comunicado, o vice-chefe de gabinete da Presidência ucraniana, Alexey Kouleba, que assegurou que as evacuações vão continuar durante o dia e nos próximos dias de autocarro e comboio.

"Nesta fase, 24 localidades na Ucrânia foram inundadas", disse o ministro do Interior ucraniano, Igor Klymenko.

A barragem de Kakhovka é uma estrutura fundamental no sul da Ucrânia que fornece água à Crimeia, a península anexada pela Rússia em 2014. Considerada no início da invasão como um alvo prioritário para os russos, esta barragem hidroelétrica no rio Dniepre está agora na linha da frente entre as regiões controladas por Moscovo e o resto da Ucrânia.
Milhares de pessoas sem água potável

Centenas de milhares de pessoas ficaram sem acesso à água potável desde a destruição parcial da barragem de Kakhovka, disse o presidente da Ucrânia. De acordo com Volodymyr Zelensky, pelo menos "dezenas de milhares" de pessoas ainda estão presas na região.

"Os nossos serviços, todos aqueles que podem ajudar as pessoas, já estão envolvidos. Mas só podemos ajudar no território controlado pela Ucrânia", escreveu o presdente ucraniano no Instagram. "Na parte ocupada pela Rússia, as forças de ocupação nem estão a tentar ajudar as pessoas".


Zelensky condenou o ataque à barragem, acusando as forças russas e alegando que foi "absolutamente deliberado".

"Os terroristas russos provaram mais uma vez que são uma ameaça para todos os seres vivos"
, acrescentou.

Na terça-feira, Kiev e Moscovo acusaram-se mutuamente pela destruição parcial da barragem, mas ainda não há dados que comprovem o que aconteceu.
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