Economista Yuliya Yurchenko alerta para impacto de privatizações no plano de reconstrução

Yuliya Yurchenko, economista e ativista do Movimento Social Ucraniano, alertou hoje para as consequências negativas do programa de privatizações no âmbito do plano de reconstrução e reforma da Ucrânia, país candidato à adesão à União Europeia (UE).

Lusa /

"Sim, o investimento tem de acontecer. Sim, a organização precisa de acontecer. Mas não podemos permitir a venda dos últimos ativos remanescentes do país", disse Yuliya Yurchenko, professora de Economia Política na Universidade de Greenwich, no Reino Unido, em declarações à agência Lusa.

Na semana passada, representantes de quase quatro dezenas de países, incluindo Portugal, e cerca de 15 instituições internacionais participaram, em Lugano, Suíça, numa conferência sobre a reconstrução da Ucrânia após a guerra iniciada pela Rússia em 24 de fevereiro.

O primeiro-ministro ucraniano, Denis Chmygal, apresentou na conferência de Lugano, na Suíça, um plano para a reconstrução contemplando um investimento de 750.000 milhões de dólares (aproximadamente o mesmo em euros, ao câmbio atual) num prazo de 10 anos, que inclui reformas relacionadas com a adesão da Ucrânia à UE.

Yurchenko afirma que, ao abrigo do plano, são esperadas privatizações de vários serviços públicos, que poderão agravar a qualidade de vida dos ucranianos.

"Antes da guerra, a Ucrânia já era o país mais pobre da Europa. Se se começar a vender todas estas empresas a empresas estrangeiras, isso irá destruir ainda mais a economia e a qualidade de vida dessas pessoas. Todos precisam de acesso à educação, aos transportes e aos cuidados de saúde. Se começarem a vender esses bens a preço de mercado, muitas pessoas não poderão pagar esse serviço. É preciso manter muitos dos setores nas mãos do Estado", sustentou.

Para Yuliya Yurchenko, a Ucrânia devia aprender com os exemplos de países como o Reino Unido, apontando o caso dos caminhos-de-ferro britânicos, pioneiros das privatizações e que, afirma, são hoje das ferrovias "mais ineficientes, ineficazes e mais caras de toda a Europa".

"Nas empresas privadas, quando há partes da empresa que não são tão lucrativas como outras, elas são simplesmente cortadas e o que isso significa é que, por exemplo, em termos de transportes, muitas cidades e aldeias mais pequenas ficariam sem transportes públicos e isso cria enormes problemas para a economia local", observou a economista, oradora na Universidade de Verão da European Left, hoje concluída em Aveiro.

Por outro lado, realça que se essas empresas forem mantidas sob propriedade do Estado, então "qualquer que seja o lucro ou o financiamento necessário, é muito mais fácil de organizar" e se forem lucrativas, então o orçamento do Estado também beneficia com isso e "também se pode garantir a prestação de serviços e a qualidade dos serviços de que se precisa, quando e onde for necessário".

A autora de "Ukraine and the Empire of Capital: From Marketization to the Armed Conflict" (Ucrânia e o Império do Capital: Da Mercantilização ao Conflito Armado") disse compreender que, sobretudo devido ao acesso à tecnologia e à propriedade intelectual, terão de estar envolvidos na reconstrução do país os investidores estrangeiros, mas realçou que as condições oferecidas a estes são "um campo de batalha sério".

"Muito dependerá do tipo de condições em que esse investimento seria inscrito nos contratos, nomeadamente se os investidores forem autorizados a fazer o que quiserem e basicamente tiverem regras mais relaxadas", advertiu.

Tópicos
PUB