"Esperamos ser consultados". Europa condena plano de paz dos EUA que inclui cedência de territórios ucranianos

A proposta, que não contou com a participação da Ucrânia, está a ser criticada pelos Estados-membros. Moscovo negou entretanto que exista qualquer avanço nas negociações de paz.

Joana Raposo Santos - RTP /
Foto: Thomas Peter - Reuters

A Ucrânia recebeu na quarta-feira um plano de paz dos Estados Unidos que inclui a cedência de territórios controlados pela Rússia e a redução do Exército ucraniano em metade, de acordo com as agências Reuters e France-Presse. Vários líderes europeus vieram já condenar a proposta, vincando que tanto eles como Kiev devem participar na elaboração de qualquer plano.

O documento inclui "o reconhecimento da [anexação da] Crimeia e de outras regiões tomadas pela Rússia" e "a redução do exército para 400 mil pessoas", avançou um responsável ucraniano à AFP, pedindo para não ser identificado.

“Não entendemos se é realmente um plano de Trump” ou da “sua comitiva”, acrescentou o funcionário. Segundo o Guardian, o documento foi desenvolvido pelo enviado norte-americano Steve Witkoff em conjunto com o conselheiro do Kremlin Kilill Dmitriev.

Kiev está “a receber sinais de que tem de aceitar este plano”, acrescentou o responsável à AFP.

A proposta terá sido avançada no mesmo dia em que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, viajou até à Turquia para se reunir com o homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, de modo a relançar as conversações de paz com Moscovo, atualmente paralisadas.Rússia nega ter recebido proposta
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, veio já negar que tenha havido progressos significativos quanto a um acordo de paz. “Até ao momento não há novidades sobre este ponto que possamos avançar”, disse aos jornalistas na quarta-feira.

O Ministério russo dos Negócios Estrangeiros também afirmou não ter conhecimento de qualquer nova proposta de paz dos EUA. A porta-voz Maria Zakharova assegurou que Moscovo não recebeu qualquer projeto de acordo “desse nível” vindo de Washington.

“Se o lado americano tivesse apresentado propostas, elas teriam sido comunicadas através dos canais diplomáticos estabelecidos entre os nossos dois países”, garantiu.Líderes europeus exigem ser incluídos
A União Europeia já reagiu aos alegados avanços, com a chefe da diplomacia a frisar que qualquer plano para pôr fim à guerra precisa de receber o apoio tanto da Ucrânia, como da Europa de modo a funcionar.

"O que nós, europeus, sempre apoiámos foi uma paz duradoura e justa, e saudamos quaisquer esforços nesse sentido. É claro que, para que qualquer plano funcione, é necessário o apoio dos ucranianos e dos europeus", disse aos jornalistas esta quinta-feira, em Bruxelas.

Já o ministro polaco dos Negócios Estrangeiros, Radoslaw Sikorski, declarou esta manhã que a Europa acolhe com agrado os esforços de paz na Ucrânia, mas espera ser consultada sobre os mesmos.

"Elogiamos os esforços de paz, mas é claro que é a segurança da Europa que está em jogo. Por isso, esperamos ser consultados", disse aos jornalistas em Bruxelas. "Espero que não seja a vítima a ter restrições à sua capacidade de se defender, mas sim o agressor".

O ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Noël Barrot, considerou por sua vez que o presidente russo está a impedir a paz na Ucrânia e frisou que o povo ucraniano não pretende qualquer forma de capitulação.

José Manuel Albares, ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha, defendeu esta quinta-feira que qualquer plano de paz para a Ucrânia não pode ser feito sem Kiev e a União Europeia.

Considerou ainda que um plano de paz deve garantir a existência de um Estado ucraniano soberano e democrático.

c/ agências
Tópicos
PUB