Facebook. 208 mil publicações contestam as atrocidades de Bucha

A contrainformação da guerra também se faz no Facebook. Nesta rede social, há três vezes mais publicações a contestar a veracidade das atrocidades de Bucha do que as partilhas a testemunhar a violência perpetrada naquela localidade dos arredores de Kiev.

Carla Quirino - RTP /
Oleg Pereverzev - Reuters

As publicações na rede social Facebook foram analisadas pelo Instituto de Diálogo Estratégico (ISD), organização independente dedicada à salvaguarda dos Direitos Humanos e à análise de manipulação online em tempo real e conteúdos digitais que contenham desinformação, ódio e extremismo. Um estudo de publicações no Facebook em 20 países descobriu que, três semanas após o massacre de Bucha, as partilhas que mais circulam sobre os eventos são as que o contestam.

De acordo com o ISD, foram identificadas e seguidas 145 publicações que não questionaram a veracidade das imagens de alegados crimes de guerra cometidos pelo exército russo em Bucha. A replicação desta informação refletiu-se em 172 mil partilhas.

Em contrapartida, a investigação verificou que existem três vezes mais publicações a questionarem as evidências da violência contra civis.

Das dez publicações do Facebook mais replicadas em 20 países, mencionando Bucha, foram detetadas 55 que contestam a violência contra civis. A corrente de partilhas transformou as 55 publicações em 208 mil numa semana.
Principais conclusões
Quando as tropas russas se retiraram da localidade ucraniana de Bucha a 30 de março, as imagens das atrocidades foram divulgadas pela a comunicação social para todo o mundo. Perante as mortes de civis e testemunhos de sobreviventes, os media estatais e as autoridades russas responderam com "uma versão alternativa dos eventos", diz o estudo.

As fontes de Moscovo partilharam as imagens vindas de Bucha associadas a uma narrativa em que era negada qualquer participação e atribuíam responsabilidades do massacre a uma construção ucraniana, “com o objetivo de comprometer a reputação da Rússia".

Das 200 partilhas analisadas, "44 mostraram uma tendência pró-Kremlin e seis foram publicadas em páginas vinculadas aos media estatais russos ou às embaixadas russas", observa o estudo.

O ISD sublinha que 55 das publicações analisadas (27,5 por cento) "questionam a legitimidade das imagens de Bucha utilizadas pelos grandes media ocidentais".

O estudo dá conta de que essas mesmas 55 partilhas que "questionaram a narrativa mainstream sobre as atrocidades em Bucha ganharam significativamente mais força online do que aquelas que não questionaram a narrativa mainstream".

Das publicações analisadas, apenas duas tinham a verificação que se referia à fonte, afirmando: "Este link é de uma editora que o Facebook acredita estar parcial ou totalmente sob o controlo editorial do Governo russo".
Facebook na UE
Embora a comunicação social estatal russa tenha sido banida das redes sociais na UE, "a interpretação pró-Kremlin dos eventos em Bucha foi encontrada em 34 publicações em dez países da EU", afirma o ISD.

Na Eslováquia, sete das dez publicações sobre Bucha incluíam narrativas pró-russas.


Publicação espanhola | ISD

Em Espanha, a publicação mais partilhada sobre o massacre vem do youtuber Ruben Gisbert e levanta dúvidas sobre as reportagens populares sobre o massacre. Na legenda do vídeo lê-se "cadáveres encontrados em Bucha (Ucrânia)".

No Chipre e na Grécia, as publicações das embaixadas russas locais foram encontradas entre as dez principais partilhas sobre Bucha.

Fora da Europa, o segundo vídeo mais replicado nos EUA sobre Bucha, com 25.900 partilhas, afirma: "A realidade sobre o massacre em Bucha foi encontrada, civis foram mortos por neonazis ucranianos para culpar os russos".

A publicação não apresenta um rótulo de verificação de fatos.


Publicação nas redes sociais norte-americanas | ISD

Sem sinais de abrandamento, a guerra e a contrainformação em torno das atrocidades vai continuar a ter palco nas redes sociais.
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