Resistência ucraniana em Bakhmut teme ficar sem munições

A intensidade dos combates nas zonas ocidentais de Bakhmut continuam, mas os militares ucranianos temem ficar sem capacidade para ripostar devido à escassez de munições. As forças russas estão cada vez mais perto de dominar a cidade.

RTP /
Forças Armadas Ucranianas perto da cidade de Bakhmut Sofiia Gatilova - Reuters

Os relatos das dificuldade surgem das várias frentes de combate.

Volodymyr, lider do 17º Batalhão de Tanques ucranianos, explica à BBC que há um ano carregava as 40 armas da unidade com rockets BM-21 Grad, todas ao mesmo tempo. “Agora só podemos disparar algumas de cada vez contra alvos russos. Não temos munições suficientes para as nossas armas".

Durante a reportagem para a televisão britânica são descritos os procedimentos de ataque do batalhão. Após uma comunicação a pedir disparos contra alvos russos, Volodymyr e seus homens saem da linha de árvores onde estavam camuflados e preparam-se para o disparo. Depois de falharem o primeiro tiro por 50 metros, o segundo cai certeiro.

A função desta unidade é fornecer apoio ao restante exército que segura os limites de Bakhmut contra os invasores.

Volodymyr diz-se frustrado por não poder fazer mais: "Poderíamos ter dado mais apoio aos nossos companheiros que estão a morrer lá".

O militar sublinha que a Ucrânia já gastou as próprias reservas de munições Grad. Conta agora com munições provenientes de outros países. Volodymyr afirma que agora o abastecimento chega da Chéquia, Roménia e Paquistão mas reclama que os rockets provenientes do Paquistão "não são de boa qualidade".
Epicentro político
As forças ucranianas resistem na devastada Bakhmut, enquanto analistas acreditam que a cidade tem pouco valor estratégico, mas adquiriu importância política.

Já no centro da cidade destruída por bombardeamentos russos, as descrições citadas na Al Jazeera revelam grande violência.

Os militares ucranianos permanecem escondidas numa ”rede de porões mal iluminados e apertados nos distritos ocidentais da cidade”.

Nos últimos 10 meses tem sido feita uma resistência cerrada contra a Rússia em confrontos, já considerados os mais longos e sangrentos da guerra.

O grupo mercenário Wagner da Rússia tem liderado grande parte do avanço em Bakhmut. Yevgeny Prigozhin, fundador desta unidade e aliado do presidente Vladimir Putin, disse este mês que as suas forças controlavam 80 por cento da cidade.

“Eles não param de atacar dia e noite. Só param quando nós os atingimos. Aí estão ocupados a assistirem os feridos e mortos”, explicou um vice-comandante da 93ª brigada ucraniana, que se identificou como Filósofo.

“Pouco a pouco, eles estão a destruir pequenos pedaços de Bakhmut”, acrescentou, a partir de um posto de comendo subterrâneo quando lá fora decorria um novo bombardeamento.

A defesa da cidade é cada vez mais precária porque há apenas uma estrada sob controlo ucraniano que abastece as posições entrincheiradas. Chamam de “A Estrada da Vida”, mas os veículos queimados descartados ao longo da via vital sinalizam a luta mortal.

“Do nosso lado, estamos cansados, as pessoas estão exaustas”, observou o Filósofo à agência de notícias AFP, mas remata: “cada dia que resistimos aqui dá mais oportunidades para outras unidades se prepararem para um contra-ataque.”

Serhiy Cherevatiy, porta-voz do grupo de forças do leste da Ucrânia, disse à televisão nacional na quarta-feira que nas últimas 24 horas, as forças russas atacaram 324 vezes usando artilharia e múltiplos lançadores de rockets.

"Os russos estão a destruir edifícios em Bakhmut para impedir que nossos soldados os usem como fortificações", declarou Cherevatiy, à Reuters.

O militar já tinha descrito na terça-feira que houve um número recorde de ataques numa seção da frente mais a norte - perto da cidade de Kupiansk, no nordeste da Ucrânia.
Vista aérea de Bakhmut | Brigada 93ª ucraniana via Reuters

Em Washington, o principal general dos EUA na Europa argumentou que os militares da Ucrânia obteriam o armamento necessário a tempo.

O general Christopher Cavoli, Comandante Supremo Aliado da Europa, citou como exemplo que mais de 98 por cento dos veículos de combate prometidos a Kiev já estavam entregues.

O analista militar Denys Popovych declarou à Rádio NV ucraniana que “não havia perspetiva imediata de mudar as coisas em Bakhmut”.

"Se Bakhmut cair, a Rússia terá recursos para enviar para outro lugar.Bakhmut oferece uma oportunidade para destruir as tropas russas e impedir que sejam engajadas noutros lugares", argumentou Popoovych.

Bakhmut já abrigou cerca de 70 mil pessoas e era conhecida pelas salinas e pela produção de espumantes.

c/agências
PUB