"Sem a América, é impossível". Zelensky insiste em apoio dos EUA à Ucrânia

por Joana Raposo Santos - RTP
Foto: Valentyn Ogirenko - Reuters

Volodymyr Zelensky alerta que, se Donald Trump retirar o apoio dos Estados Unidos à Ucrânia, a Europa não conseguirá preencher esse vazio. As declarações surgem numa entrevista exclusiva ao Guardian na mesma semana em que o presidente ucraniano poderá reunir-se com o homólogo norte-americano.

“Há quem diga que a Europa poderia oferecer garantias de segurança sem os americanos, mas eu respondo sempre que não”, vincou Zelensky. “As garantias de segurança sem a América não são garantias de segurança reais”.

O líder ucraniano vai participar no final desta semana na Conferência de Segurança de Munique, onde deverá encontrar-se com o vice-presidente dos EUA, JD Vance. Donald Trump disse entretanto que “provavelmente” também iria estar com Zelensky esta semana, mas não há uma data oficial divulgada.

“Esperamos que as nossas equipas fixem uma data e um plano de reuniões nos EUA. Assim que isso for acordado, estamos prontos, eu estou pronto”, reiterou o presidente da Ucrânia na entrevista.Na opinião de Zelensky, é “muito importante” que Trump se encontre com uma delegação ucraniana antes de se encontrar com Vladimir Putin.

Apesar de Donald Trump ter vindo a repetir que quer acabar com a guerra na Ucrânia, muitos especialistas temem que isso implique forçar Kiev a ceder às exigências do presidente russo, nomeadamente abdicando de território.

Na segunda-feira, em entrevista à Fox News, o líder norte-americano disse mesmo que a Ucrânia pode vir a tornar-se russa. “Podem chegar a um acordo, podem não chegar a um acordo. Podem ser russos um dia, podem não ser russos um dia”, declarou.

Volodymyr Zelensky já disse estar pronto para negociar com Moscovo, mas quer que Kiev o faça a partir de “uma posição de força”, oferecendo uma troca direta de territórios.

“Vamos trocar um território por outro”, avançou, referindo-se ao território da região russa de Kursk que Kiev conseguiu conquistar numa ofensiva há cerca de seis meses.
Zelensky sem esperança nas Forças de Paz da ONU

Acerca da ideia do presidente francês, Emmanuel Macron, de uma força europeia de manutenção de paz, Zelensky afirmou que “se for parte [de uma garantia de segurança], se implicar entre 100 mil a 150 mil tropas europeias, então sim”.

“Mas, ainda assim, não estaríamos ao mesmo nível que o Exército russo que enfrentamos”, acrescentou.

O presidente da Ucrânia disse ainda não considerar que “as tropas das Nações Unidas [Forças de Paz da ONU, conhecidas como capacetes azuis] ou algo semelhante tenham alguma vez na história realmente ajudado alguém”.

“Atualmente, não podemos apoiar esta ideia. Somos a favor de um contingente [de manutenção da paz] se fizer parte de uma garantia de segurança, e volto a sublinhar que sem a América isso é impossível”.
“Só o Patriot nos pode defender”
Numa tentativa de obter apoio de Trump, o presidente ucraniano afirmou que iria oferecer às empresas americanas contratos de reconstrução lucrativos e concessões de investimento.

"Aqueles que estão a ajudar-nos a salvar a Ucrânia terão a oportunidade de a renovar, com as suas empresas e as empresas ucranianas. Estamos dispostos a falar sobre tudo isto em pormenor", esclareceu Zelensky na entrevista ao Guardian, divulgada esta terça-feira.

Volodymyr Zelensky disse ainda ser crucial para a segurança da Ucrânia que o apoio militar dos EUA continue, dando o exemplo dos sistemas de defesa aérea Patriot fabricados na América. “Só os Patriot nos podem defender contra todos os tipos de mísseis, só os Patriot”, declarou.

“Existem outros sistemas [europeus], mas não podem fornecer uma proteção total. Por isso, mesmo com este pequeno exemplo podemos ver que, sem os Estados Unidos, as garantias de segurança não podem ser completas”.

Trump anunciou esta terça-feira que o secretário do Tesouro, Scott Bessent, se deslocará em breve à Ucrânia para se reunir com o presidente ucraniano.

"Esta guerra DEVE e VAI TER UM FIM RÁPIDO - demasiada morte e destruição", escreveu na sua rede social, Truth Social. "Os Estados Unidos gastaram MILHARES DE MILHÕES de dólares, com poucos resultados".
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