Ucrânia. Embaixador português espera "afirmação clara" em julho para futura adesão à NATO

por Lusa
Alina Yarysh - Reuters

O embaixador português junto da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) diz esperar, em julho, uma "afirmação clara" de apoio à integração da Ucrânia na Aliança Atlântica, para quando "as circunstâncias o permitam", após o final da guerra.

"No seio da Aliança há uma assunção de responsabilidade relativamente àquilo que já foi prometido à Ucrânia em 2008 [na cimeira de Bucareste] e ninguém contesta isso, a questão agora é apenas afirmar isso de uma maneira que seja suficientemente clara e positiva em Vilnius", afirmou Pedro Costa Pereira, em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas, no quartel-geral da organização, em antecipação da cimeira de 11 e 12 de julho, na capital da Lituânia.

Nesta entrevista a cerca de um mês da cimeira de Vilnius, o representante permanente de Portugal lembrou que "já foi tomada uma decisão relativamente à adesão futura da Ucrânia à NATO", em 2008, quando ficou claro de que "um dia a Ucrânia pertenceria à NATO", mas desde então "a questão ficou posta num canto durante os 15 anos que se seguiram".

Aquando da cimeira da Aliança Atlântica de julho, Pedro Costa Pereira disse esperar uma tomada de posição "que seja aceitável para todos", na qual esteja refletido que "esse compromisso que já foi assumido em 2008 se possa traduzir daqui para a frente em passos concretos, quando as circunstâncias o permitam".

"Será utilizada uma linguagem que retome aquilo que foi já decidido em Bucareste em 2008, mas (...) que permita compreender que desta vez não é para pôr debaixo do tapete, é para avançar logo que as circunstâncias o possibilitem", insistiu.

No comunicado da cimeira de Bucareste, realizada em abril de 2008, lia-se que "a NATO se congratula com as aspirações euro-atlânticas da Ucrânia e da Geórgia à adesão".

"Acordámos hoje que estes países se tornarão membros da NATO. Ambas as nações têm dado contribuições valiosas para as operações da Aliança" e, por isso, "daremos agora início a um período de intenso envolvimento com ambos os países a um nível político elevado, a fim de abordar as questões ainda pendentes relacionadas com as suas candidaturas", podia ainda ler-se.

Uma eventual integração da Ucrânia na NATO só poderá ser concretizada no final da guerra da Ucrânia, dado que a Aliança Atlântica se rege pelo artigo 5.º, que prevê reação dos Aliados perante ataque armado contra um dos membros.

Mas o Presidente ucraniano tem vindo a pressionar para avanços nesta adesão e, na semana passada por ocasião da segunda cimeira da Comunidade Política Europeia, na Moldova, indicou esperar um "convite claro" na cimeira de julho.

"No verão, em Vilnius, na cimeira da NATO, é necessário um convite claro para a adesão da Ucrânia e são necessárias garantias de segurança no caminho para a integração", declarou Volodymyr Zelensky.

Um dia depois destas declarações, Zelensky reconheceria, numa rara admissão, que a adesão da Ucrânia à NATO será "impossível" antes do fim da guerra em curso com a Rússia.

De acordo com Pedro Costa Pereira, estas garantias de segurança referidas por Zelensky são "uma questão que é fora do contexto da NATO", pelo que entre os Aliados "há países com certeza que têm capacidade de garantir a segurança da Ucrânia e há outros que não têm essa capacidade e meios".

Pedro Costa Pereira é o representante português junto da NATO desde o final de 2019.

A cimeira de Vilnius juntará chefes de Governo e de Estado dos atuais 31 Aliados (após a integração da Finlândia em abril passado) que irão decidir novas medidas para reforçar a dissuasão e defesa e rever os aumentos significativos das despesas com o setor da defesa, bem como para manter o apoio à Ucrânia, face à invasão russa iniciada em fevereiro de 2022.

Naquele que é descrito como o ambiente de segurança mais complexo e imprevisível desde a Guerra Fria, principalmente devido à guerra na Ucrânia, os líderes da NATO estarão focados no reforço da Aliança Atlântica para uma cooperação mais forte entre a Europa e a América do Norte que garanta a segurança dos mil milhões de cidadãos dos 31 atuais países-membros.

Nesta cimeira, estarão em cima da mesa discussões sobre um eventual convite à Ucrânia para integração quando as condições estiverem reunidas, a sucessão do atual secretário-geral da organização, a conclusão do processo de adesão da Suécia marcado pelo bloqueio turco e húngaro, e ainda um olhar para o sul, para regiões como o Sahel, Mali e Síria, embora mantendo Kiev como prioridade.

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