Guerra no Médio Oriente
Dar à luz em Gaza. O receio de 50 mil grávidas palestinianas
O Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) revelou esta semana que cinquenta mil mulheres grávidas na Faixa de Gaza já não têm acesso aos serviços básicos de saúde. O cerco total da região de Gaza pelas forças militares israelitas está a ameaçar a vida destas mulheres palestinianas e dos futuros bebés que não têm um sítio seguro para onde ir. São 5500 as grávidas que deverão dar à luz em novembro.
Os bombardeamentos israelitas contra as instalações médicas localizadas em Gaza têm deixado muitas pessoas deslocadas sem acesso seguro a cuidados médicos. Na terça-feira à noite, 17 de outubro, um ataque aéreo israelita fez explodir o hospital palestiniano de Al-Ahli, no norte da região, causando a morte a pelo menos 500 civis, que se encontravam feridos ou em busca de abrigo, segundo dados do ministério da Saúde de Gaza. A maioria das vítimas deste e outros ataques, desde o início do conflito, têm sido mulheres e crianças. De acordo com o ministério da Saúde de Gaza, até esta sexta-feira, 3.785 pessoas foram mortas e outras 12.493 ficaram feridas, incluindo 3.983 crianças e 3.300 mulheres.
A agência das Nações Unidas para a saúde sexual e reprodutiva (UNFPA) estima que pelo menos 50 mil mulheres palestinianas em Gaza estejam atualmente grávidas e que cerca de 160 mulheres deem à luz todos os dias no meio da violência dos ataques e do caos que se vive na região. A maior parte sem acesso seguro a cuidados médicos ou a um refúgio seguro para onde ir. "As mulheres grávidas não têm para onde ir e estão a enfrentar desafios impensáveis", afirmou Dominic Allen, representante da UNFPA numa entrevista à Sky News.
As milhares de mulheres grávidas em Gaza não só enfrentam altos riscos durante a gravidez,
dada a falta de acesso a medicação e material básico nos hospitais,
para além da falta de acesso a água, alimentação, produtos de higiene ou
roupa. Como também têm dificuldades no acesso a serviços de partos seguros, uma vez que os hospitais estão sobrelotados de doentes e à beira da rutura.
“Eu sofro temendo pelo meu filho ainda não nascido”, conta uma
das três mulheres grávidas atualmente presas em Gaza, que relataram as
“condições terríveis” que enfrentam diariamente. A agência da ONU
divulgou os testemunhos da gravidez e do medo de dar à luz nesta
situação nas suas redes sociais.
“Imaginem! Suportar isto durante os últimos três meses de gravidez antes de dar à luz, com a possibilidade de complicações, sem roupa, sem higiene e sem apoio, sem saber o que lhes vai acontecer no dia seguinte ou mesmo na próxima hora ou no próximo minuto" disse Dominic Allen, numa outra entrevista à CNN.
Com o sistema de saúde à beira do colapso e o acesso a combustível, água e eletricidade cada vez mais escasso, as Nações Unidas apelam a um cessar-fogo imediato e a abertura de um corredor humanitário, de modo a restabelecer o acesso a Gaza para permitir a entrada de ajuda e abastecimento humanitário e a travar a crise humanitária que se está a desenvolver na região.
"Precisamos de acesso humanitário imediato a toda a Faixa de Gaza (...) Até as guerras têm regras. O direito humanitário internacional e o direito dos direitos humanos devem ser respeitados e cumpridos; os civis devem ser protegidos e nunca ser utilizados como escudos" afirmou António Guterres, secretário-Geral da ONU.