Israel ataca Beirute e Líbano denuncia violação de acordo de cessar-fogo

Israel levou a cabo ataques aéreos nos subúrbios a sul de Beirute na noite de quinta-feira, instalando o pânico e lavando milhares de pessoas a fugir na véspera de um feriado muçulmano. O Líbano acusou Israel de estar a violar um acordo de cessar-fogo.

Mariana Ribeiro Soares - RTP /
Ali Hankir - Reuters

Pelo menos dez ataques aéreos atingiram os subúrbios a sul de Beirute – uma área extensa conhecida como Dahiyeh – na noite de quinta-feira. Os bombardeamentos começaram cerca de 90 minutos depois de o exército israelita ter emitido alertas de evacuação para quatro locais naquela área.

As Forças de Defesa de Israel (IDF) justificaram os ataques com o facto de terem identificado uma unidade do Hezbollah que estaria a produzir "milhares" de drones, financiados por "terroristas iranianos", considerando que se trata de uma “violação flagrante os entendimentos entre Israel e o Líbano”.

Por sua vez, uma fonte de segurança libanesa disse à Reuters que o exército libanês tinha recebido um aviso na quinta-feira a informar que equipamento militar estava a ser armazenado numa área em Dahiyeh. Após visitar o local, o exército determinou que não havia ali qualquer equipamento militar armazenado. Esta foi considera a pior onda de bombardeamentos desde que uma trégua mediada pelos EUA, em novembro, pôs fim a uma guerra de um ano entre Israel e o movimento armado libanês Hezbollah, apoiado pelo Irão.

O presidente libanês, Joseph Aoun, e o primeiro-ministro Nawaf Salam condenaram os ataques como uma "violação flagrante" dos acordos internacionais.

"Considero que constituem um ataque sistemático e deliberado à nossa pátria, à segurança, estabilidade e economia, especialmente na véspera dos feriados e da temporada turística", disse Nawaf Salam numa publicação na rede social X.

O Irão também condenou a “agressão” israelita contra o Líbano, afirmando que estes ataques constituem “um flagrante ato de agressão contra a integridade territorial e a soberania do Líbano".

As celebrações do feriado muçulmano Eid Al-Adha deveriam ter começado na quinta-feira. Milhares de pessoas fugiram das ruas da área densamente povoada após o alerta de evacuação, causando um congestionamento.

“Os ataques geraram um pânico e um medo renovados na véspera do Eid Al-Adha", disse o gabinete do Coordenador Especial das Nações Unidas para o Líbano, no X.

Israel promete continuar a atacar Beirute se Líbano não desarmar Hezbollah
O exército israelita diz que o “uso extensivo” de drones pelo Hezbollah foi fundamental para os seus ataques contra o Líbano e o ministro da Defesa israelita, Israel Katz, disse esta sexta-feira que o exército continuará a atacar Beirute se o Líbano não desarmar o Hezbollah.

"Não haverá calma em Beirute, nem ordem ou estabilidade no Líbano, sem segurança para o Estado de Israel. Os acordos devem ser respeitados e, se não fizerem o que for necessário, continuaremos a agir, e com grande força”, disse Katz, em comunicado.

“Apesar dos acordos entre Israel e o Líbano, a unidade aérea do Hezbollah continua envolvida em atividades terroristas e a expandir as suas capacidades”, disseram as forças israelitas, em comunicado.

O Hezbollah e Israel acusam-se mutuamente de não cumprirem os termos da trégua, assinada em novembro último.

O exército israelita tem atacado continuamente o sul do Líbano e as tropas israelitas ainda ocupam cinco posições no topo de colinas no sul. Desde que a trégua foi firmada, Israel atacou os subúrbios de Beirute três vezes, maioritariamente em resposta a lançamentos de rockets do Líbano. O Hezbollah, por sua vez, negou o envolvimento nestes ataques.

A mais recente guerra entre Israel e o Hezbollah começou em outubro de 2023, quando o Hezbollah lançou rockets contra posições militares israelitas em solidariedade com o grupo armado palestiniano Hamas.

No ano seguinte, Israel intensificou a sua ofensiva com fortes bombardeamentos que mataram milhares de combatentes do Hezbollah, destruindo grande parte do seu arsenal e eliminando a sua principal liderança, incluindo o seu então secretário-geral, Hassan Nasrallah.

Autoridades libanesas afirmam que os ataques israelitas mataram cerca de 4.000 pessoas, incluindo muitos civis, e levaram ao deslocamento de mais de 1,2 milhões de residentes. Autoridades israelitas, por sua vez, afirmam que mais de 80 soldados e 47 civis foram mortos nas hostilidades.

O cessar-fogo levou à retirada de Israel e determina que o Hezbollah deve retirar todo o equipamento militar e combatentes do sul do Líbano e que todos os grupos militantes não estatais devem ser desarmados em todo o país. Por sua vez, passou a ser o exército libanês a assumir o policiamento do sul do Líbano.

c/agências
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