Netanyahu defende investigação a todas as lideranças sobre ataques do Hamas
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reconheceu hoje que os ataques do grupo islamita Hamas em 07 de outubro de 2023 revelaram uma "falha grave" que deve ser alvo de uma investigação a todos os níveis do Estado.
"Houve aqui uma falha, uma falha grave. Esta falha deve ser investigada a fundo, examinando a esfera política, a militar, a de segurança, todos os envolvidos. E isso só será possível com uma ampla comissão nacional de inquérito, imparcial e não tendenciosa a favor de qualquer dos lados", defendeu o primeiro-ministro num vídeo divulgado pelo seu gabinete.
O chefe do Governo israelita aludiu ao precedente da comissão criada nos Estados Unidos após os ataques terroristas da Al-Qaida de 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque e Washington, que era "metade republicana, metade democrata".
Este modelo, sustentou, permitia que "qualquer questão" fosse colocada e que "qualquer pessoa" considerada relevante para esclarecer os factos fosse convocada.
"Não haverá confronto entre os lados. Todos contribuirão e todos serão questionados, e só assim chegaremos à verdade. É assim que deve ser feito, e é assim que será feito", declarou Netanyahu.
O chefe do Estado-Maior israelita, Eyal Zamir, já tinha solicitado na passada sexta-feira uma investigação externa às falhas de segurança que permitiram os ataques do Hamas há dois anos no sul de Israel, que desencadearam a guerra na Faixa de Gaza.
Zamir anunciou a nomeação de um antigo general para chefiar um painel de peritos encarregado de uma comissão adicional que investigará as falhas do exército em lidar com relatórios anteriores que alertavam para a possibilidade de ataques desde 2018.
O general Roni Numa, que se reformou do exército israelita em 2018, depois de ter desempenhado as funções de chefe do Comando Central, vai liderar a nova equipa, que incluirá outros cinco ex-oficiais de alta patente.
A decisão surgiu depois de outra equipa de ex-oficiais de alta patente, liderada pelo general Sami Turgeman, ter conduzido uma revisão das investigações internas das Forças de Defesa de Israel (IDF) sobre as falhas nos ataques de 2023, nos quais morreram cerca de 1.200 pessoas e outras 251 foram levadas como reféns.
A equipa concluiu que muitas das investigações foram inadequadas e apontou também várias questões não abordadas, incluindo relatórios dos serviços de informações sobre os planos do Hamas.
Em novembro, Zamir demitiu vários generais e oficiais de alta patente da reserva militar, a quem responsabilizou pessoalmente pelo fracasso militar naquela data.
Netanyahu tem expressado oposição a uma comissão de inquérito estatal liderada pelo Supremo Tribunal para investigar as falhas de segurança antes e durante os massacres liderados pelo Hamas, apesar de a maioria da sociedade, como demonstram as sondagens, exigir que seja criada.
Perante a pressão, inclusive em protestos nas ruas, o Governo israelita decidiu em novembro criar uma comissão para investigar as falhas de segurança nos ataques do Hamas, mas evitando uma estrutura estatal independente.
Na altura, foi anunciado que um painel intergovernamental teria poderes para definir os termos dos temas e do mandato da comissão.
O Movimento por um Governo de Qualidade em Israel, uma organização apartidária e sem fins lucrativos, descreveu esta futura comissão como uma "manobra para encobrir o sucedido".
Em retaliação aos ataques do Hamas, Israel lançou uma operação militar em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou mais de 70 mil mortos, na maioria civis, segundo as autoridades locais controladas pelos islamitas, a destruição de quase todas as infraestruturas do território, um desastre humanitário e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.