A alimentação é um direito consagrado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ainda assim, cerca de 733 milhões de pessoas confrontaram-se com a falta de alimentos em 2023, segundo dados das Nações Unidas. A persistência da fome no mundo paira sobre o Dia Mundial da Alimentação, que se assinala esta quarta-feira.
No ano passado, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) divulgou que mais de um milhão de crianças morrem de fome a cada ano.
A desnutrição aguda grave é a causa de morte de uma em cada cinco crianças com menos de cinco anos, ainda de acordo com as Nações Unidas.
São diversas as organizações que alertam para o agravamento do problema, caso não sejam tomadas medidas: prevê-se que, em 2030, cerca de 582 milhões de pessoas se encontrem em situação de subnutrição crónica.
A crescente preocupação deve-se ao aumento dos níveis de pobreza e das desigualdades entre a população, como situações de risco climático, crises económicas e conflitos globais.
Em Portugal
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de 2024 estabelecem como meta “acabar com a fome e garantir o acesso de todas as pessoas, em particular os mais pobres e pessoas em situações vulneráveis, incluindo crianças, a uma alimentação de qualidade, nutritiva e suficiente durante todo o ano”.
Em Portugal, são inúmeras as organizações que lutam diariamente para que as pessoas afetadas pela carência de alimentos tenham acesso a refeições e à consequente melhoria da qualidade de vida.
De acordo com os dados da Pordata relativos a 2024, cerca de 20,1 por cento da população enfrenta o risco de pobreza ou de exclusão social.Na proposta de Orçamento do Estado para 2025, o Governo prevê dez mil milhões de euros para erradicar a pobreza até 2030.
Em 2022, Portugal situava-se abaixo da média da pobreza da União Europeia, visto que a taxa de risco de pobreza era de 16,4 por cento.
Entretanto, o número subiu para 17 por cento, “o que fez com que mais de 60 mil pessoas ficassem em risco de ficar pobres, uma realidade que afetou principalmente as mulheres”, segundo o relatório Portugal, Balanço Social, da Nova School of Business & Economics, que visa definir um retrato socioeconómico das famílias portuguesas.
Estima-se, portanto, que a vulnerabilidade económica afete mais de um 1,8 milhões de pessoas em território nacional.
Fome na guerra
Com o reacender de diversos conflitos, as condições precárias aumentaram nas zonas de combate e os pedidos de ajuda estão cada vez mais presentes. Há regiões em que a “fome e morte generalizada” são uma ameaça, expõe ONU - algumas, como o Sudão, a Faixa de Gaza e a Síria, são zonas de permanente conflito.
No Sudão, estima-se que cerca de 25 milhões de pessoas estejam em situação de fome e de subnutrição, refere o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas.
Na Síria, declarou em fevereiro o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, cerca de 13 milhões de pessoas “vão para a cama com fome depois de uma década de guerra”.
Com o recrudescimento do conflito no Médio Oriente, a falta de alimentos aumentou na região. Este ano, António Guterres afirmou que a população de Gaza não tem acesso a alimentos e, por isso, das 700 mil pessoas mais famintas do mundo, “quatro em cada cinco habitam aquela pequena faixa de terra”.A ajuda humanitária, embora constante, é insuficiente, em parte devido aos ataques que sofrem à entrada da região.
A falta de alimentos faz com que uma em cada seis crianças com menos de dois anos esteja severamente desnutrida. Em março, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Ghebreyesus, referiu que “os menores que sobreviveram a bombardeamentos podem não sobreviver à fome”, evidenciando o agravamento da situação.
A falta de acesso a dietas saudáveis continua a aumentar, tornando-se num problema crítico que afeta Portugal e a população mundial. O Dia Mundial da Alimentação tem tido um destaque de consciencialização para a erradicação da fome.