Novas negociações para cessar-fogo. Hamas anuncia libertação de mais reféns israelitas

por Inês Moreira Santos - RTP
Atef Safadi - EPA

Apesar do frágil cessar-fogo entre Israel e o Hamas ter estado ameaçado nas últimas semanas, vão começar as negociações indiretas para a segunda fase do acordo. A informação foi confirmada pelas autoridades israelitas pouco depois de o movimento radical palestiniano ter anunciado que vai libertar esta semana mais reféns do que o previsto, incluindo os corpos de duas crianças.

As negociações para a segunda fase do acordo de cessar-fogo em Gaza, que já deviam ter começado a 4 de fevereiro, devem iniciar-se ainda esta semana, anunciou o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros Gideon Saar.

"Isso acontecerá esta semana", anunciou Gideon Saar, numa conferência de imprensa em Jerusalém.

Estas novas negociações, que visam garantir a libertação dos 64 reféns ainda em Gaza, podem não ser fáceis, uma vez que incluem questões como a gestão de Gaza num eventual pós-guerra.

"Não aceitaremos a presença contínua do Hamas ou de qualquer outra organização terrorista em Gaza"
, explicou Saar, que adiantou que se as negociações forem construtivas, Israel poderá prolongar o cessar-fogo.

"Se virmos que há um diálogo construtivo com possibilidade de chegar a um acordo, faremos esse prazo ser mais longo".
Troca de reféns antecipada
Do lado do Hamas houve confirmação de que, na quinta-feira, serão entregues os corpos de quatro reféns, incluindo de dois menores e da mãe. Um líder do grupo extremista palestiniano adiantou ainda que serão também libertados seis reféns vivos no sábado em troca de centenas de prisioneiros palestinianos mantidos presos pelas autoridades israelitas.

“Entregaremos os quatro corpos dos prisioneiros de ocupação na quinta-feira, 20 de fevereiro, incluindo os corpos da família Bibas”, anunciou esta terça-feira o chefe negociador do Hamas, Khalil al-Hayya, sem explicar os motivos para as alterações de planos.

O gabinete de Benjamin Netanyahu confirmou também que foi fechado um acordo, no Cairo, para garantir a libertação de seis reféns vivos no próximo fim de semana e mais quatro na próxima semana. Se este plano for para a frente, serão libertados mais reféns do que o previsto nesta fase do acordo.

“Esta quinta-feira, Israel vai receber os corpos de quatro reféns mortos”, disse Netanyahu, de acordo com a agência francesa AFP, acrescentando que mais quatro corpos de reféns deverão ser devolvidos na próxima semana.

Dos 33 reféns que serão libertados na primeira fase do acordo de cessar-fogo, dividida em três fases, 19 já foram libertados e Israel diz que oito estarão mortos. De acordo com as autoridades israelitas, os seis a serem libertados no sábado são os últimos reféns vivos na lista dos que deviam ser libertados nesta fase inicial.

Entretanto, o grupo de campanha Hostages and Missing Families Forum divulgou os nomes dos seis israelitas que devem ser libertados no sábado.

“O Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas acolhe com profunda alegria o regresso de Eliya Cohen , Tal Shoham , Omer Shem Tov , Omer Wenkert , Hisham Al-Sayed e Avera Mengistu este sábado”
, publicou o grupo num comunicado, após Israel e o Hamas confirmarem que seis reféns seriam libertados.

Os quatro corpos que serão entregues na quinta-feira incluem os de Shiri Bibas, de nacionalidade argentina, e dos seus dois filhos, Ariel e Kfir, de 5 e 2 anos. Kfir foi o refém mais jovem raptado a 7 de outubro, quando tinha apenas 9 meses de idade, no Kibbutz Nir Oz, a apenas 1,5 quilómetros da fronteira de Gaza.

O pai das crianças, o israelita Yarden Bibas, foi libertado com vida a 1 de fevereiro, após 16 meses de cativeiro. Mas segundo o braço armado do Hamas, a família tinha sido morta em bombardeamentos israelitas na Faixa de Gaza, o que Israel não pôde confirmar.

Al Hayya garantiu, citado pelo Times of Israel, que entre os seis reféns vivos se incluem dois israelitas, Avera Mengistu e Hisham al-Sayed, que estão em cativeiro há mais de uma década - Mengistu, um etíope-israelita, e Al-Sayed, um beduíno israelita, entraram por sua iniciativa na Faixa de Gaza em 2014 e 2015, respetivamente, tendo sido detidos e colocados sob custódia do Hamas.

Segundo o responsável do Hamas, o grupo palestiniano decidiu entregar os corpos “como parte dos preparativos para a segunda fase das negociações sobre os colonatos”.

“Sublinhamos a necessidade de obrigar a ocupação [Israel] a aplicar todas as cláusulas do acordo, sem exceções nem adiamentos
”, disse Al-Hayya, apelando ainda à entrada de equipamento pesado em Gaza “para recuperar os corpos dos martirizados” pela ofensiva de Israel contra o enclave que se seguiu ao ataque de 7 de outubro.

Cada refém israelita será trocado por 77 prisioneiros palestinianos, tal como estipulado no acordo, incluindo 47 dos mil que foram libertados no chamado acordo Shalit de 2011 e novamente detidos algum tempo depois.
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