Nações Unidas relatam progressos na ajuda humanitária em Gaza mas alertam para obstáculos
O responsável da ONU para os Assuntos Humanitários, Tom Fletcher, relatou hoje progressos na assistência alimentar e hospitalar em Gaza, mas alertou que "permanecem muitos obstáculos", um mês após o início do cessar-fogo no enclave.
Numa publicação nas redes sociais, Fletcher afirmou que a ONU está a "aproveitar todas as oportunidades" e já alimentou mais de um milhão de pessoas, mas poderá "fazer muito mais para salvar muito mais vidas" se forem "flexibilizadas as limitações" existentes.
No último mês de cessar-fogo entre Israel e o movimento palestiniano Hamas, os centros de distribuição de alimentos foram reabertos, os hospitais estão a atender mais doentes, as estradas foram desimpedidas e as vacinações essenciais estão a ser retomadas, referiu.
As canalizações de água potável foram reparadas, foi iniciada a distribuição de roupas de inverno e estão a ser oferecidos serviços de apoio psicossocial e de saúde mental, adiantou Fletcher.
"Muitos obstáculos ainda permanecem. Estamos a trabalhar para ultrapassar a burocracia, facilitar o trabalho dos nossos parceiros humanitários essenciais, abrir mais passagens fronteiriças e rotas, e lidar com a insegurança persistente", afirmou.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, nos quais morreram cerca de 1.200 pessoas e 251 foram feitas reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou mais de 69 mil mortos, segundo as autoridades locais, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
A primeira fase do acordo de cessar-fogo - impulsionado pelos Estados Unidos com a mediação do Egito, Qatar e Turquia - inclui a retirada parcial das forças israelitas do enclave e o acesso de ajuda humanitária ao território, além da entrega de reféns feitos pelo Hamas.
A etapa seguinte, ainda por acordar, prevê a continuação da retirada israelita, o desarmamento do Hamas, bem como a reconstrução e a futura governação do enclave.
A trégua, em vigor desde 10 de outubro, foi ameaçada em 28 de outubro, após Israel ter bombardeamento o enclave palestiniano, no seguimento de dois incidentes com o Hamas, um relacionado com a morte de um soldado israelita e outro com a entrega de um corpo que não correspondia a nenhum dos reféns ainda por devolver.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reuniu-se hoje em Jerusalém com o enviado norte-americano Jared Kushner para discutir a segunda fase do cessar-fogo na Faixa de Gaza, indicou a porta-voz do Governo de Israel.
Shosh Bedrosian relatou aos jornalistas que a reunião serviu para avaliar a primeira etapa do acordo com o grupo islamita palestiniano Hamas e o regresso dos restantes reféns que permanecem no enclave palestiniano, "bem como o futuro da segunda fase".
Ao abrigo do plano promovido pelos Estados Unidos, a próxima fase prevê a desmilitarização do território e "a garantia de que o Hamas nunca mais terá qualquer papel no futuro de Gaza", afirmou a porta-voz.
Num discurso no Knesset (parlamento), Benjamin Netanyahu avisou hoje que fará cumprir "com mão de ferro" os acordos de cessar-fogo na Faixa de Gaza e também no Líbano, onde vigora uma trégua há um ano com o movimento xiita Hezbollah.
O primeiro-ministro israelita considerou que foi a pressão militar sobre o Hamas, juntamente com a "pressão diplomática dos Estados Unidos", que permitiu o regresso dos reféns que as milícias palestinianas têm entregado no último mês.
As autoridades de Telavive estão "determinadas a trazer de volta" os corpos dos últimos quatro reféns na Faixa Gaza, disse ainda Netanyahu, embora apenas tenha mencionado os três israelitas que permanecem no território, a que se soma um cidadão tailandês.
No âmbito do acordo, foram entregues pelo Hamas 20 reféns vivos e 24 mortos, em troca de quase dois mil prisioneiros palestinianos e 315 corpos em posse de Israel.
O Hamas tem relatado dificuldades em localizar os corpos dos reféns devido à grande quantidade de escombros amontoados por dois anos de conflito e à falta de acesso a maquinaria pesada.
Israel acusa, no entanto, os islamitas de atrasarem deliberadamente a entrega destes corpos para evitar discutir o seu desarmamento, uma questão que deverá ser debatida com os mediadores internacionais na segunda fase do acordo, a negociar quando os objetivos traçados para a primeira etapa forem alcançados.