Empresários cabo-verdianos apreensivos com aumento dos combustíveis

por Lusa

O presidente da Câmara do Comércio de Sotavento, em Cabo Verde, Jorge Spencer Lima, disse hoje que houve uma "má gestão" relativamente à subida do preço dos combustíveis no país e manifestou "alguma apreensão" com os efeitos nas empresas.

"Vimos essas subidas com alguma apreensão, não só por ser uma subida, mas o exagero percentual da subida", disse Jorge Spencer Lima à agência Lusa, a propósito do aumento médio de 60,7% do preço médio dos combustíveis no último ano e 22,4% no ano em curso.

O representante dos empresários do Sotavento cabo-verdiano, que abarca as ilhas do Maio, Santiago, Fogo e Brava, disse que a instituição que dirige sempre tem manifestado o seu desacordo com a forma como se têm registado aumentos de preços em Cabo Verde.

"Em Cabo Verde, as coisas são assim, não se tem noção de percentual, de repente começam a fazer subidas de 30, 40%, 50%, não tem sentido em lado nenhum", disse.

"Pode ser até que se tenha de fazer subida, mas não seria dessa forma, não foi da forma mais apropriada, uma subida vertiginosa. Nós somos contra, isso quer dizer que houve uma má gestão do problema dos combustíveis", sustentou.

Segundo o empresário, os aumentos dos preços dos combustíveis, que já estão a implicar a subida do custo de muitos outros bens e serviços, é um contrassenso, numa altura em que o país está a falar na retoma económica após a pandemia da covid-19.

"Isso claro que vai ter o seu efeito negativo na retoma porque não haverá uma expansão da economia, vai haver mais uma retração, quando nós queremos uma expansão para que as cosias voltem ao normal. Vamos ver o que vai acontecer, mas não auguramos nada de bom nos próximos tempos", frisou.

Segundo agência reguladora, de novembro de 2020, então ainda fortemente marcados internacionalmente, em termos económicos, pela pandemia de covid-19, a variação média em Cabo Verde dos preços dos combustíveis "corresponde a um aumento de 60,7% e, relativamente à variação média ao longo do ano em curso, ela corresponde a um acréscimo de 22,4%".

Desde 01 de outubro está em vigor uma nova tabela de tarifas de eletricidade, com aumento, superior a 30%, justificando com a subida do preço dos combustíveis no último ano e com os "devidos ajustes decorrentes dos exercícios de indexação anteriores".

Na sequência, o Governo anunciou algumas medidas para mitigar o impacto desse aumento, como a redução do IVA na eletricidade e água de 15% para 8%, aumento da tarifa social de energia, que passa de 30% para 50%, e majoração dos custos de eletricidade e de água para as empresas.

A partir de agora, Jorge Spencer Lima disse esperar que o Governo tenha "bom senso" e controle as subidas de preços, tendo manifestado ser "absolutamente contra" a possibilidade de aumento do IVA de 15 para 17% no Orçamento do Estado para 2022.

Para o líder empresarial, os aumentos dos preços podem dificultar a retoma económica em Cabo Verde, que mesmo assim vai entrar num processo que já ninguém pode parar, estando o turismo a recomeçar, com grandes hotéis a funcionar.

"A retoma está em curso, não tem aquela rapidez que nós queríamos para tirar os efeitos positivos disso, mas ela está em curso e não vai parar", afirmou o presidente da CCIS, que aproveitou para elogiar o Governo pelo combate à pandemia da covid-19.

Cabo Verde tem registado poucos casos de covid-19, com taxa de positividade inferior a 4%, e já tem uma taxa superior a 80% de pessoas adultas com a primeira dose e mais de 60% com vacinação completa.

"Isto é positivo e é decorrente de uma política bem feita pelo Governo no que diz respeito à vacinação. Porque se não tivesse feito isso, a retoma seria muito mais difícil", notou.

O Governo já afastou a possibilidade de um aumento do salário mínimo nacional devido à crise económica, entendendo que com isso estaria a transferir para o setor privado problemas acrescidos, que podem afetar até os postos de trabalho existentes.

O presidente da Câmara de Comércio de Sotavento concorda com essa decisão, entendendo que nem o Governo nem as empresas têm condições para aumentos salariais neste momento.

"Nós temos de saber apertar o cinto, não há como avançar agora com uma política de aumento de salários em Cabo Verde", reforçou Jorge Spencer Lima, nas declarações à Lusa.

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