"A bola já não está no nosso lado". Moscovo exige que Kiev abdique de territórios ocupados

por Cristina Sambado - RTP
Evgenia Novozhenina - Reuters

O ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, considerou esta segunda-feira que o reconhecimento internacional da anexação da Crimeia e de outras regiões ucranianas pela Rússia é uma condição para quaisquer negociações com Kiev, depois de o Kremlin ter repetido que estava pronto para conversações “sem condições prévias”.

O reconhecimento internacional do facto de a Crimeia, Sebastopol, a República Popular de Donetsk, a República Popular de Lugansk, a região de Kherson e a região de Zaporizhia pertencerem à Rússia é imperativo”, afirmou Lavrov ao jornal brasileiro O Globo, usando os nomes russos para as regiões ucranianas.

Sergei Lavrov participa na cimeira dos organização internacional BRICS, no Rio de Janeiro. Os países que formaram inicialmente a organização são o Brasil, a Rússia, a Índia, a República Popular da China e a África do Sul. Mais recentemente, passou a integrar o Egito, os Emirados Árabes Unidos, o Irão, a Etiópia e a Indonésia.

Na entrevista, o responsável pela diplomacia russa frisou ainda que “a bola já não está no nosso lado”, enquanto tenta pressionar Kiev a fazer concessões para avançar com as conversações.

Também esta segunda-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, reiterou a “disponibilidade” de Moscovo para manter conversações com Kiev.

“A vontade do lado russo já foi afirmada muitas vezes, afirmada pelo presidente (Putin), de iniciar um processo de negociações com a Ucrânia sem condições prévias para chegar a um resultado pacífico”, afirmou Peskov, citado pela agência noticiosa estatal TASS.

O comentário do Kremlin surge dois dias depois de Donald Trump ter manifestado dúvidas sobre as verdadeiras intenções de Vladimir Putin: “Talvez (ele) não queira parar a guerra e esteja a levar-me a dar uma volta”, escreveu na sua rede social Truth Social.

Acima de tudo, o discurso do Kremlin contrasta com a retórica diária de Vladimir Putin, apoiada por Sergei Lavrov esta segunda-feira, segundo a qual só a derrota da Ucrânia será aceitável para Moscovo.

Desde que ordenou ao seu exército que atacasse a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, o presidente russo, Vladimir Putin, tem mantido condições para que o conflito termine a seu favor.

Exige que a Ucrânia se renda, desmilitarize e renuncie à sua adesão à NATO, bem como garantias de que manterá a península da Crimeia, anexada em 2014, e as quatro regiões ucranianas que Moscovo anexou em setembro de 2022.Trinta e oito meses após o lançamento de uma invasão em grande escala da Ucrânia, em fevereiro de 2022, a Rússia ocupa cerca de 20 por cento do território ucraniano, incluindo a Crimeia.

Vladimir Putin acredita que o tempo está do seu lado, com o exército ucraniano a lutar na linha da frente e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cujo país tem sido até agora o principal apoiante de Kiev, determinado a pôr fim às hostilidades o mais rapidamente possível, mesmo que isso signifique aceitar um acordo desfavorável aos ucranianos.

Neste contexto e apesar das suas exigências inaceitáveis para Kiev e para os seus aliados ocidentais, o presidente russo garante quase diariamente que está pronto para as negociações de paz.
Trump confiante de que Zelensky vai desistir da Crimeia

O presidente norte-americano vê o seu homólogo ucraniano mais calmo e a postos para fazer um acordo, depois do frente-a-frente com Volodymyr Zelensky, no fim de semana. O presidente norte-americano diz que o encontro entre os dois no Vaticano correu bem, mas assume estar insatisfeito com a Rússia.
Segundo Trump, as negociações para um eventual acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia entram numa “semana crucial” esta segunda-feira e está confiante que o presidente ucraniano desista do objetivo de recuperar a Península da Crimeia.

Acho que sim. A Crimeia foi há 12 anos”, disse Trump aos jornalistas quando questionado sobre a possibilidade de Kiev desistir do território no contexto de uma retirada das tropas ucranianas na frente.

Em declarações a partir de Nova Jérsia, antes de entrar para um helicóptero, Donald Trump afirmou ainda que Vladimir Putin precisa de demonstrar que quer acabar com a guerra e pede ao presidente russo para parar de atacar civis e sentar à mesa das negociações.

“Quero que ele pare de disparar. Sentem-se e assinem o acordo”, afirmou o presidente americano no domingo. “Temos a base de um acordo, penso eu, e quero que ele o assine”, acrescentou.Apesar de Kiev ter sempre descartado a ideia de desistir da península, que foi anexada pela Rússia em 2014, a renúncia da Ucrânia à Crimeia é regularmente proposta por Washington como condição para um plano de paz com Moscovo.

Horas antes, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, frisou que um acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia está “mais próximo do que em qualquer outro momento nos últimos três anos, mas ainda não foi alcançado”.

Em relação ao estado das negociações, Rubio disse, durante um programa da televisão NBC, que “tem motivos para ser otimista e também para se preocupar”.

“Se esta fosse uma guerra fácil de terminar, outra pessoa já a teria terminado há muito tempo”, enfatizou.

c/ agências
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