Mundo
Europa
A longa maratona do Montenegro rumo à integração europeia
Com a cimeira União Europeia - Balcãs Ocidentais a decorrer em Bruxelas nesta quarta-feira, 17 de dezembro, analisamos mais de perto a situação do Montenegro, um pequeno país que há muito bate à porta da UE. Tem uma caraterística única em comparação com outros países candidatos: já utiliza o euro.
Irá o Montenegro aderir à União Europeia em 2030? Esta é uma "perspetiva realista", segundo Marta Klos, a comissária europeia eslovena para o alargamento. De acordo com o relatório sobre o alargamento publicado pela Comissão Europeia a 4 de novembro, a candidatura deste Estado de 630.000 habitantes "está a progredir mais rapidamente do que nos últimos quinze anos".
Bruxelas "congratula-se com os progressos realizados" por Podgorica. Juntamente com a Albânia, o "país da montanha negra" (nome dado pelos venezianos na Idade Média) é um dos que apresenta bons resultados. No fórum organizado pela Euronews em Bruxelas, António Costa, presidente do Conselho Europeu, disse mesmo que "o Montenegro pode ser o 28º Estado-Membro em 2028".
A adesão à UE nunca é fácil. Trata-se de um processo longo, difícil, técnico e altamente político. Um candidato tem de obter o apoio unânime de todos os Estados membros da União Europeia. Uma maratona. O Montenegro, que declarou a independência em 2006, começou por obter um Acordo de Parceria com a UE em janeiro de 2007 e, posteriormente, um Acordo de Estabilização e Associação (AEA) em 15 de outubro do mesmo ano. O pedido de adesão à UE foi feito em 15 de dezembro de 2008. Dois anos mais tarde, o estatuto de candidato oficial foi ratificado pelo Conselho Europeu, que representa todos os governos da UEEuro é moeda oficial desde 2006
Este pequeno país adotou o euro como moeda, embora não seja membro da zona euro. Entre 1906 (Reino do Montenegro) e 1918 (nascimento do Reino da Jugoslávia), a moeda do Montenegro era o perper (que remonta ao Império Bizantino). Aquando da independência em 2006, o país estava relutante em repor o perper em circulação. A pensar no futuro europeu, o Banco Nacional do Montenegro acabou por optar pelo marco alemão antes de escolher o euro. Atualmente, existem duas opções no caso de o Montenegro aderir à UE: ou mantém o euro sem fazer mais testes, ou utiliza uma moeda "transitória" enquanto o processo de adesão à zona euro é validado. Para já, nada foi decidido por Bruxelas.
Mais de 80% dos cidadãos montenegrinos são a favor da adesão à UE. E os partidos políticos seguem o mesmo exemplo. É o caso, nomeadamente, do partido que está no poder há três décadas: o Partido Democrático dos Socialistas do Montenegro (DPS). O seu líder, Milo Djukanović, antigo membro da Liga dos Comunistas do Montenegro, um ramo do partido jugoslavo de Tito, é o "pai" da independência. E foi sob o seu reinado que o Montenegro aderiu à NATO e começou a aproximar-se da UE. Milo Djukanović perdeu as eleições legislativas de 2023. Atualmente, é o movimento centrista, liberal e pró-europeu Europa Agora! (PSE!) que está no poder. Este partido acelerou a candidatura europeia do Montenegro. O primeiro-ministro Milojko Spajić e o presidente Jakov Milatović trabalharam arduamente no sentido da integração. Para o presidente, "o alargamento é a melhor estratégia para lidar com a Rússia". Os outros partidos do espetro político também são a favor da adesão à UE. Até o movimento populista de direita pró-sérvio se juntou ao campo pró-europeu.O país "mais adiantado na via da adesão
O Montenegro pretende ser um modelo para outros países candidatos. A 31 de outubro de 2023, durante uma visita de Ursula Von Der Leyen, o presidente, Jakov Milatović, afirmou: "O Montenegro está a harmonizar plenamente a sua política externa e de segurança com a política da UE e tem atualmente uma maioria orientada para as reformas. Nenhum outro país que quer tornar-se membro da UE tem tudo isto. A adesão do Montenegro à UE (...) seria um incentivo adicional para os outros países candidatos prosseguirem o seu programa de reformas de forma ainda mais vigorosa". Esforços reconhecidos pela presidente da Comissão Europeia. Durante a sua visita a Podgorica, Ursula Von der Leyen disse o seguinte ao Presidente Milatović: "O Montenegro é, desde há muito, o país mais avançado dos Balcãs Ocidentais na via da adesão à UE. Congratulo-me com o facto de poderem agora concentrar-se plenamente no objetivo da adesão e de, juntos, podermos atravessar o último quilómetro e a linha de chegada".
O mais pequeno dos nove países reconhecidos como candidatos à adesão à UE está ansioso por se juntar à União. Na cimeira sobre o alargamento organizada pela Euronews, a 4 de novembro, o vice-primeiro-ministro Filip Ivanović foi claro: "Se o alargamento não se concretizar, o próprio conceito de União Europeia perde a credibilidade: deixa de ser uma União". Filip Ivanović pôs os pontos nos i's e acrescentou: "Para nós, seria uma situação devastadora e um sinal terrível para todos os outros países candidatos, porque iriam perceber que tudo o que estão a fazer é em vão. E isso é algo que não podemos aceitar". O Montenegro está a exercer máxima pressão sobre a UE, salientando todos os esforços feitos por Podgorica: "Estamos num período experimental há treze anos. Assim que encerrarmos os capítulos de negociação, no que me diz respeito, o julgamento terá terminado."
Bruno Cadène / 17 dezembro 2025 05:00 GMT
Edição e tradução / Joana Bénard da Costa - RTP