A preparar a campanha. Netanyahu procura "resgatar" espião israelo-americano

por RTP
Lucas Jackson, Reuters

Depois de garantir um assim chamado acordo israelo-palestiniano com todas as concessões a que Washington poderia aceder - legitimação dos colonatos e soberania do Vale do Jordão, por exemplo -, o primeiro-ministro israelita deixa os Estados Unidos com um dossier por fechar, mas que seria mais uma bandeira para acenar na campanha para as eleições terceiras eleições consecutivas para o Knesset: conseguir a permissão para levar para Israel Jonathan Pollard, norte-americano que espiou para Telavive nos anos 80 e cumpriu uma pena de três décadas nos Estados Unidos.

A questão Pollard é ainda apimentada com um pormenor de última hora, já que, a caminho de Moscovo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu viu o presidente russo a conceder um indulto a Naama Issachar, de 26 anos, detida num aeroporto de Moscovo quando em Abril de 2019 estava em trânsito da Índia para Israel. A polícia russa do aeroporto acusou Issachar de ter na sua posse nove gramas de marijuana, o que a israelo-americana negou.

Até chegar a tribunal, a acusação subiu entretanto para contrabando. Foi condenada a sete anos e meio de prisão. Esta quarta-feira recebeu um indulto de Vladimir Putin, no que poderá ser um acordo a envolver a extradição para a Rússia de um cidadão russo acusado de crime informático e que estaria em vias de ser enviado para os Estados Unidos.

De qualquer forma, com livre passe para Jonathan Pollard ou não, o início de semana para Netanyahu na Casa Branca não podia ser mais frutuoso: o presidente Donald Trump apresentou finalmente o plano de paz para o Médio Oriente trabalhado pela equipa do seu genro Jared Kuschner e os bónus vão todos para os israelitas. A fava, para os palestinianos que, aliás, estiveram ausentes de qualquer fase deste novo acordo entre Israel e os Estados Unidos.

Trump concedeu a Israel tudo o que Israel vinha reivindicando: a legitimação dos colonatos, a capital em Jerusalém, o controle do Vale do Jordão e da Judeia e Samaria, na Cisjordânia. Em suma, nas palavras da liderança palestiniana: a última machadada sobre as aspirações do povo palestiniano.

Mas Bibi quer mais. A cerca de um mês de eleições – cujo resultado pode catapultá-lo para mais um mandato no gabinete de primeiro-ministro ou atirá-lo para os braços da justiça para responder por vários casos de corrupção em que terá estado envolvido com a família –, o ainda primeiro-ministro põe todas as fichas na mesa e é nesse cenário que não ficará mal conseguir levar para Israel um norte-americano que já na cadeia adquiriu cidadania israelita.

Jonathan Pollard, uma personagem de filme, com uma adolescência quase paranóica, conseguiu após vários esquemas, entrar no mundo dos serviços de informações do exército. Passaria, em meados dos anos 1980, a trabalhar para Israel e seria apanhado pelos seus superiores.

Condenado a prisão perpétua, acabaria – eventualmente já com intervenção de "Bibi" Netanyahu – a sair em liberdade condicional em 2015, impedido contudo de se ausentar do país e sendo obrigado a pernoitar em sua casa entre as sete da noite e as sete da manhã.

Agora, Pollard pede que lhe seja permitido juntar-se à sua mulher, Esther Pollard, por questões de saúde. Esther, que se terá casado com Jonathan ainda durante o período em que o antigo espião cumpria pena, vive em Israel e enfrenta pela terceira vez um tumor agressivo.

“É uma questão de vida ou morte, é uma questão de humanidade, é uma crise para a minha mulher e para mim”, declarou o espião. Mas onde Pollard vê uma questão de humanidade, Benjamin Netanyahu vê um trunfo eleitoral que lhe garanta a vitória nas eleições de Março e consequente prorrogação da imunidade face a uma acusação pendente na justiça.
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