Abertura dos arquivos secretos do Vaticano pode esclarecer papel do Papa na II Guerra
O Vaticano autorizou hoje pela primeira vez o acesso a milhões de cartas diplomáticas, correspondência privada e outros documentos dos seus arquivos secretos, referentes ao período 1922-1939 do papado de Pio XI.
Especialistas esperam que estes documentos possam ajudar a esclarecer até que ponto a Santa Sé estava preocupada com a crescente perseguição de judeus na Europa da época.
A abertura do arquivo foi ordenada pelo papa Bento XVI em 30 de Junho último e os investigadores poderão consultar toda a documentação existente até 1939 no Arquivo Secreto e no Arquivo da Segunda Sessão da Secretaria de Estado.
Durante anos, o Vaticano lutou para defender o sucessor de Pio XI - o papa da época da II Guerra Mundial, Pio XII, que fora antes secretário de Estado - de alegações de que não fez o que estava ao seu alcance para salvar judeus do Holocausto.
Investigadores afirmaram que poderiam ser necessários meses ou anos para estudar o conteúdo de cerca de 30.000 resmas de documentação de um período em que o fascismo, o nazismo, o comunismo e o nacionalismo se defrontavam no continente europeu.
Funcionários do arquivo disseram que, até ao final da manhã de hoje, cerca de 50 investigadores tinham apresentado as suas credenciais para obter acesso, embora alguns deles estivessem interessados em consultar material de anteriores papados.
"Havia um pouco de caos" nos arquivos, disse Alessandro Visani, investigador de história contemporânea na Universidade de Sapinza, em Roma, que, como muitos outros, esperava conseguir uma ideia inicial do que se encontrava nos arquivos.
"Queria ver alguma coisa, mas outra pessoa estava já a consultá-la", disse Visani, cuja investigação inclui as atitudes da hierarquia da igreja para com as leis anti-judias de 1938 do ditador fascista italiano Benito Mussolini.
Uma questão fundamental gira em redor de uma encíclica que Pio XI estava a preparar para denunciar o racismo e o nacionalismo violento na Alemanha. Contudo, morreu antes de a divulgar e nunca foi tornada pública.
Nunca foi publicada, "em parte devido à sua morte, e em parte porque foi considerada inoportuna politicamente", notou Visani.
O historiador disse esperar que os arquivos esclareçam os verdadeiros pontos de vista dos prelados, expressos em privado, sobre as leis raciais de Mussolini contra a pequena comunidade judia italiana.