Abu Ghraib um dos casos mais graves de 2004

A Human Rights Watch (HRW) destaca no seu relatório anual sobre os Direitos Humanos, publicado quinta- feira, o escândalo das sevícias na prisão de Abu Ghraib, no Iraque, e reclama às autoridades norte-americanos a nomeação de um procurador especial.

Agência LUSA /
DR

Segundo a organização de defesa dos direitos humanos, com sede em Nova Iorque, os casos de abuso infligidos por militares norte- americanos a detidos iraquianos em Abu Ghraib constituem um dos mais flagrantes exemplos de violação dos Direitos Humanos em 2004, pelo que exorta as autoridades norte-americanas a nomear um procurador especial encarregue de investigar este caso.

No seu relatório anual sobre o estado dos Direitos Humanos no mundo, a HWR chega a pôr em paralelo Abu Ghraib e a situação na região de Darfur (Sudão).

O sistema internacional de protecção dos Direitos Humanos foi consideravelmente fragilizado o ano passado pela crise no Darfur e o escândalo de Abu Ghraib, sustenta a organização.

O relatório faz um balanço da situação em matéria dos Direitos Humanos em mais de 60 países no ano de 2004.

Regressando à situação do Darfur e ao escândalo de Abu Ghraib, a organização sublinha que as duas ameaças não são comparáveis, mas estima que a vitalidade dos Direitos Humanos ao nível internacional dependerá da firmeza da resposta dada "por um lado, para pôr termo a um massacre perpetrado pelo governo sudanês no Darfur, e, por outro lado, para conduzir um inquérito aprofundado e perseguir na Justiça todos os responsáveis pelas torturas e maus tratos no Iraque, Afeganistão e Guantanamo".

A HRW pede à administração norte-americana para nomear um procurador especial encarregado de conduzir um inquérito junto dos funcionários norte-americanos que participaram em actos de tortura ou outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, e junto daqueles que lhas ordenaram ou ocupavam postos de comando.

"A nossa organização sublinhou que os altos responsáveis da administração procuraram atirar a culpa para os jovens soldados que eles enviaram para combater no Iraque e no Afeganistão, em vez de aceitarem a responsabilidade das politicas e das ordens que enfraqueceram as regras que proíbem a tortura e os tratamentos desumanos", salientou o director de HRW, Kenneth Roth, durante uma conferência de imprensa em Washington.

"O governo norte-americano é cada vez menos capaz de fazer pressão para que a justiça seja respeitada no estrangeiro porque mesmo não está disposto a que a justiça seja feita nos Estados Unidos", apontou Roth, sublinhando que as acções recentes das autoridades norte-americanas no quadro da "guerra contra o terrorismo" comprometeram a autoridade de Washington nos domínios dos Direitos Humanos e da justiça.

A administração norte-americana reagiu aos atentados do 11 de Setembro em 2001 eximindo-se às normas relativas aos Direitos Humanos e em todo o mundo governos citaram o exemplo norte-americano como pretexto para desrespeitar os direitos, sublinha o relatório.

"Para os governos confrontados com as pressões norte-americanas em matéria de Direitos Humanos, é hoje fácil inverter os papéis", explicou Roth.

"A administração Bush dificilmente pode defender os princípios que ela mesma viola", constatou.

Sobre o Darfur, Roth defendeu a necessidade de uma larga força militar colocada sobre a autoridade da ONU para proteger os habitantes desta região.

"Os Estados Unidos e outros governos ocidentais - afirma - enganam-se ao querer simplesmente remeter o problema para a União Africana, uma nova instituição que dispõe de poucos recursos e sem experiência para conduzir operações militares de uma tal envergadura.

"O Darfur põe a ridículo as nossas promessas de +isso nunca mais+", lamentou.

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