Académico chinês defende integração de cadeias industriais China-África

O académico chinês Tang Xiaoyang defendeu hoje uma nova fase na cooperação entre China e África, centrada na integração de cadeias de valor industriais, aproveitando os polos empresariais chineses já estabelecidos no continente africano.

Lusa /
Reuters

Professor e diretor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade de Tsinghua, Tang argumentou num artigo publicado no Orange News, um portal de notícias em Hong Kong, que os fundamentos estruturais da relação comercial entre a China e África permanecem sólidos, apesar do abrandamento do comércio e das pressões geopolíticas.

Em vez de apostar apenas na escala, é tempo de aprofundar a qualidade e integração dos projetos existentes, defendeu.

"O momento é propício para transformar projetos dispersos em cadeias completas e integradas, com investimento coordenado nos segmentos industrial, logístico e financeiro", escreveu Tang.

Desde o início do século, impulsionado pela Iniciativa Faixa e Rota e pelo Fórum de Cooperação China - África (FOCAC), o comércio bilateral cresceu a uma média anual de quase 14%, passando de 39,6 mil milhões de dólares (34,1 mil milhões de euros) em 2005 para 295,4 mil milhões (255 mil milhões de euros) em 2024, segundo dados oficiais. A China é o maior parceiro comercial de África há 16 anos consecutivos.

África fornece sobretudo matérias-primas, como petróleo, minérios e cobre, enquanto a China exporta maquinaria, equipamentos de transporte e bens de consumo.

Para ultrapassar este modelo, Tang defendeu o reforço do investimento chinês em setores industriais africanos, com base em três eixos: cadeias de valor completas na mineração, na agricultura e na indústria ligeira de bens de consumo. Cada eixo deve incluir não apenas produção, mas também etapas intermédias, como refinação, transformação e logística.

"Um dos grandes entraves ao desenvolvimento industrial de África são cadeias de fornecimento fragmentadas e pouco fiáveis", afirmou. "Mesmo embalagens ou componentes básicos precisam de ser importados, elevando os custos de produção e comprometendo a competitividade", descreveu.

Tang identificou dezenas de polos industriais chineses já operacionais em África -- em setores como têxteis, calçado, reciclagem de plásticos e aço, ou agroalimentar -- que podem ancorar cadeias produtivas locais e regionais.

A digitalização e os setores extrativos também são centrais nesta visão. A presença de empresas como Huawei, ZTE, Transsion ou StarTimes tem contribuído para transformar as telecomunicações em África. No setor da mineração, Tang salientou o contributo da tecnologia e gestão chinesas para modernizar a exploração de recursos e aumentar a eficiência.

O académico notou que as autoridades africanas têm vindo a reforçar as suas estratégias de industrialização. Planos como a Agenda 2063 da União Africana ou iniciativas nacionais na Etiópia, Ruanda e África do Sul apontam nesse sentido.

"A complementaridade estrutural entre África e a China é evidente: África carece de capacidades industriais, enquanto a China detém o sistema produtivo mais completo do mundo", escreveu Tang.

Em 2024, a China representou 28% do valor acrescentado industrial global e lidera a escala industrial mundial há 15 anos consecutivos.

O artigo defendeu que o modelo de infraestrutura e industrialização sino-africano deve equilibrar sustentabilidade comercial com benefícios públicos, como tem sido feito em grandes projetos ferroviários, portuários e energéticos em África. O objetivo é criar "um ciclo virtuoso em que infraestrutura e indústria se reforcem mutuamente", lê-se no artigo.

A opinião de Tang Xiaoyang surge numa altura em que os Estados Unidos ultrapassaram a China como maior investidor direto estrangeiro em África em 2023, de acordo com dados da China Africa Research Initiative, da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, nos Estados Unidos.

 

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