Ação israelita "verdadeiramente sombria". Holanda pede a Bruxelas para rever acordo comercial com Telavive

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Desde 2 de março que Israel proibiu a entrada de qualquer ajuda humanitária em Gaza, onde vivem 2,4 milhões de pessoas. Hatem Khaled - Reuters

O Governo holandês, que é visto como um dos aliados mais leais a Israel dentro da União Europeia, pediu uma revisão urgente do acordo comercial entre a União Europeia e Telavive devido ao que considera ser o bloqueio "catastrófico" da ajuda humanitária a Gaza.

Numa carta enviada à chefe da diplomacia europeia, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Holanda, Caspar Veldkamp, pede uma revisão urgente do acordo de livre comércio entre a UE e Israel devido ao bloqueio da ajuda à Faixa de Gaza.

Veldkamp descreveu o bloqueio israelita ao fornecimento de ajuda a Gaza como "catastrófico e verdadeiramente sombrio" e uma clara violação do direito internacional humanitário e do acordo de associação UE-Israel.

Esta é uma mudança de posição da parte da Holanda, que tem sido um dos aliados mais leais a Israel dentro do grupo dos 27. Anteriormente, o governo holandês chegou a liderar ações para bloquear a discussão sobre a suspensão do acordo de associação UE-Israel, uma medida defendida com mais persistência por Irlanda e Espanha.

Agora, Veldkamp condena as restrições de Israel à entrada de ajuda humanitária em Gaza. “Não se pode matar à fome o povo da Faixa de Gaza. É contra o direito internacional. É moralmente errado. É perigoso. Não acho que seja do interesse de Israel”, disse o ministro holandês dos Negócios Estrangeiros.

Veldkamp disse que o governo holandês vetará qualquer extensão do plano de ação UE-Israel, que implementa um acordo de associação que entrou em vigor em 2000.

Várias ONG têm vindo a pressionar a UE a assumir uma posição mais firme, mas nenhuma iniciativa foi tomada para suspender o acordo com Israel.

Veldkamp espera que esta questão seja discutida na reunião informal de dois dias de ministros dos Negócios Estrangeiros da UE que vai decorrer na Polónia, a partir da próxima quarta-feira.
EUA desvendam novo plano para entrega de ajuda a Gaza
Desde 2 de março que Israel proibiu a entrada de qualquer ajuda humanitária no território palestiniano, onde vivem 2,4 milhões de pessoas.  As autoridades israelitas dizem que o bloqueio tem como objetivo forçar o Hamas a libertar reféns ainda mantidos em Gaza desde o ataque sem precedentes do movimento islâmico, a 7 de outubro de 2023.

Israel, que acusa o Hamas de desviar ajuda, sugeriu ainda a sua distribuição em centros controlados pelo exército, uma proposta amplamente criticada pela ONU e pelas organizações humanitárias.

Entretanto, os Estados Unidos anunciaram que deverá entrar em vigor em breve um mecanismo apoiado por Washington para distribuir ajuda em Gaza.

O embaixador Mike Huckabee afirmou que vários parceiros já se tinham comprometido a participar no acordo de ajuda, mas recusou-se nomeá-los e a detalhar como é que este mecanismo funcionaria sem um cessar-fogo, dizendo que os pormenores seriam divulgados nos próximos dias.

Huckabee garantiu que Israel não estará envolvido neste novo plano de ajuda, apenas nas questões de segurança.

"Os israelitas estarão envolvidos no fornecimento da segurança militar necessária porque é uma zona de guerra, mas não estarão envolvidos na distribuição de alimentos ou mesmo no transporte de alimentos para Gaza", disse o embaixador norte-americano.

Questionado sobre se o fornecimento de ajuda dependia da restauração do cessar-fogo, Huckabee disse: "A ajuda humanitária não dependerá de mais nada para além da nossa capacidade de levar alimentos a Gaza".

O Tikva Forum, um grupo israelita extremista que representa alguns familiares de reféns mantidos em Gaza, criticou o anúncio, dizendo que as entregas de ajuda deveriam estar condicionadas à libertação dos 59 prisioneiros mantidos em Gaza pelo Hamas.

O anúncio sobre o novo plano de ajuda foi feito agora, nas vésperas da visita do presidente norte-americano ao Médio Oriente. Donald Trump, que procura um acordo histórico que permita a Israel e à Arábia Saudita estabelecer relações diplomáticas, visitará a Arábia Saudita, o Catar e os Emirados Árabes Unidos na próxima semana.

No início desta semana, Trump prometeu que faria um "anúncio muito, muito grande" antes da sua viagem ao Médio Oriente, mas recusou dar qualquer indicação sobre a natureza dessa comunicação.

c/agências
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