ACLED aponta 10 mortos em 11 eventos violentos no início de novembro em Cabo Delgado
Um levantamento da organização ACLED estima que a província moçambicana de Cabo Delgado registou 11 eventos violentos entre 27 de outubro e 09 de novembro, essencialmente envolvendo extremistas ligados ao Estado Islâmico, provocando dez mortos entre civis.
De acordo com o mais recente relatório da organização de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês), dos 2.251 eventos violentos registados desde outubro de 2017, quando começou a insurgência armada em Cabo Delgado, um total de 2.077 envolveram elementos associados ao Estado Islâmico Moçambique (EIM).
Estes ataques provocaram em pouco mais de oito anos 6.316 mortos, refere no novo balanço, incluindo as dez vítimas reportadas nestas duas semanas, entre outubro e novembro.
No relatório da organização refere-se ainda que, neste período, em Cabo Delgado, no norte do país, província rica em gás, o EIM esteve ativo em sete distritos da província, com militantes extremistas a "voltarem a entrar na cidade de Mocímboa da Praia", desta vez "para levar dois filhos" de um comandante militar do grupo, alegadamente Farido Selemane.
A organização de investigação refere que foi na noite de 05 de novembro, conforme noticiado pela Lusa na altura, que um grupo de combatentes do ISM "sequestrou duas crianças", em Mocímboa da Praia.
"Diversas fontes concordam que se tratam de filhos de Farido Selemane, comandante militar do ISM, e que o sequestro ocorreu por ordem dele. Além do grupo que entrou em Milamba, outro grupo dirigiu-se ao bairro do aeroporto, também na zona sudeste da cidade. Nenhum dos grupos encontrou resistência ou ameaçou os moradores", refere.
A organização recorda que Farido ganhou destaque em 2022, "quando foi promovido a um cargo de liderança sénior", sendo "comandante militar desde a morte de Bonomade Machude Omar", anunciada pelas Forças Armadas e de Defesa de Moçambique (FADM) em agosto de 2023.
"Apesar de ser o comandante militar da insurgência, tem formação religiosa significativa e era líder de uma mesquita em Mocímboa da Praia antes da insurgência. Natural do bairro de Milamba, estima-se que ele tenha cerca de 30 anos, segundo fontes locais", refere o ACLED.
Ainda na análise a este período, o ACLED aponta que "houve atividade significativa nos distritos ao sul de Macomia, particularmente em Quissanga, onde a vila de Cagembe se tornou claramente um centro de operações do grupo".
A primeira-ministra moçambicana, Benvinda Levi, reconheceu na quinta-feira a "persistência de ações terroristas" como um dos principais desafios do país, mas apontou uma "estabilização" no terreno, que tem permitido o "regresso gradual" das populações às zonas de origem.
"Um dos principais desafios que o nosso país regista de momento é a persistência de ações terroristas em alguns distritos de Cabo Delgado, onde estes têm estado a recorrer, entre outros `modos operandi`, a ataques esporádicos e dispersão em pequenos grupos", reconheceu, ao intervir no parlamento para prestar informações aos deputados.
"Além de praticarem atos hediondos, os terroristas, ultimamente, têm também recorrido à prática de raptos e sequestros sistemáticos ao longo das vias públicas, nas áreas de exploração mineira e onde ocorrem outro tipo de atividades económicas para posterior pedido de valores monetários em troca da libertação das vítimas feitas reféns", reconheceu.
Para fazer face à situação, "o Estado moçambicano tem vindo a implementar um conjunto de medidas de caráter securitário e socioeconómico que estão a resultar", nomeadamente, "na estabilização das áreas anteriormente consideradas críticas, incluindo o estabelecimento de cinturões que garantam segurança às populações, às zonas de produção e às infraestruturas económicas e sociais públicas e privadas".