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Acolhidos por Trump. Dezenas de sul-africanos nos EUA para receberem estatuto de refugiados

por Joana Raposo Santos - RTP
O governo sul-africano garante que o grupo de cidadãos não estava a sofrer qualquer perseguição que justificasse o estatuto de refugiado. Foto: Kevin Lamarque - Reuters

Já chegou aos Estados Unidos um grupo de 59 sul-africanos brancos a quem vai ser concedido o estatuto de refugiado, ao abrigo de um programa lançado por Donald Trump para acolher cidadãos da África do Sul que diz serem vítimas de "genocídio" e "discriminação racial".

Os afrikaners, minoria descendente de colonos maioritariamente holandeses, foram recebidos no aeroporto internacional de Dulles, nos arredores de Washington DC, pelo vice-secretário de Estado dos EUA, Christopher Landau, e pelo vice-secretário da Segurança Interna, Troy Edgar.

“É uma grande honra para nós recebê-los aqui hoje”, declarou Landau. “O meu pai nasceu na Europa e teve de deixar o seu país quando Hitler chegou (…). Respeitamos o que tiveram de enfrentar nestes últimos anos”.

“Estamos a enviar uma mensagem clara de que os Estados Unidos rejeitam realmente a perseguição flagrante de pessoas com base na raça na África do Sul”, acrescentou. O governo sul-africano garante que o grupo de cidadãos não estava a sofrer qualquer perseguição que justificasse o estatuto de refugiado.

Apesar de ter recebido este grupo, a Administração Trump suspendeu todas as outras admissões de refugiados, incluindo os candidatos provenientes de zonas de guerra.

A organização de Direitos Humanos Human Rights Watch já descreveu a medida como uma cruel reviravolta racial, afirmando que milhares de pessoas em necessidade viram os seus pedidos de asilo negados pelos EUA.
"Por acaso são brancos"

Geralmente o processo de acolhimento de refugiados nos Estados Unidos demora meses ou anos, mas este grupo recebeu tratamento prioritário. A Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) confirmou à BBC que não esteve envolvida no processo de seleção, ao contrário do que é habitual.

Questionado na segunda-feira sobre a razão pela qual os pedidos de refúgio destes sul-africanos foram processados mais rapidamente, Donald Trump respondeu que está a decorrer um "genocídio" e que os "agricultores brancos" estão a ser especificamente visados.

"Estão a ser mortos agricultores, que por acaso são brancos, mas o facto de serem brancos ou negros não me faz diferença", assegurou.

O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, disse a Trump, durante uma chamada telefónica, que a avaliação dos EUA sobre a situação "não é verdadeira".

"Um refugiado é alguém que tem de deixar o seu país por medo de perseguição política, religiosa ou económica", explicou Ramaphosa. "E eles não se enquadram nessa categoria".
África do Sul quer confiscar algumas terras privadas

Os EUA têm criticado a política interna sul-africana, acusando o Governo de confiscar terras de agricultores brancos sem qualquer indemnização.

Em janeiro, o presidente Ramaphosa assinou uma lei que permite ao Governo confiscar terras privadas sem compensação em determinadas circunstâncias, quando tal for considerado "equitativo e de interesse público". Até agora, porém, ainda nenhuma terra terá sido apreendida ao abrigo desta lei.

De acordo com um relatório de 2017, embora os sul-africanos negros constituam mais de 90 por cento da população do país, detêm apenas quatro por cento de todas as terras privadas.

Um dos conselheiros mais próximos de Trump, Elon Musk, nascido na África do Sul, chegou a afirmar que existe um "genocídio de pessoas brancas" nesse país e acusou o Governo de aprovar "leis de propriedade racistas".

c/ agências
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