Acordo de Paris. "Temos de questionar porque é que os países não fizeram o que era suposto"

O subsecretário-geral das Nações Unidas critica a falta de ação dos países no cumprimento do Acordo de Paris, passados dez anos. Apesar dos progressos que trouxe, Jorge Moreira da Silva recorda que nem tudo foi feito e que os cidadãos podem pressionar os países.

Gonçalo Costa Martins - Antena 1 /
Stephane Mahe - Reuters

O acordo foi adotado no dia 12 de dezembro de 2015, entrando em vigor em 4 de novembro de 2016. Ficou definido que o aumento da temperatura média mundial não deveria exceder 1,5º C em relação aos níveis pré-industriais.

Passados 10 anos, Jorge Moreira da Silva nota que "houve imenso progresso, mas estamos muito longe do que é necessário", referindo que já houve previsões para um aumento da temperatura em 4ºC quando as atuais rondam entre 2,3ºC e 2,5ºC.

"O Acordo de Paris tem tudo o que precisamos, nós só precisamos de o cumprir", afirma Jorge Moreira da Silva à Antena 1, pelo que o responsável da ONU aponta: "Mais do que questionar o acordo, temos de questionar porque é que os países não fizeram o que era suposto para cumprir o Acordo de Paris".
Já na COP 30, no Brasil este ano, embora melhores, defende que as medidas continuaram a não ser suficientes.

Entrevistado no Ponto Central do Programa da Manhã, Moreira da Silva realça que os cidadãos têm poder para pressionar os países.

Aos críticos mais ferozes do Acordo de Paris a pedirem um compromisso novo para conter a subida da temperatura por falta de mecanismos vinculativos para os países, responde que está atual e tem carácter vinculativo.

"O Tribunal de Justiça Internacional emitiu um acórdão há poucos meses, dizendo que o Acordo de Paris é vinculativo e que os cidadãos podem levar os países aos tribunais por não cumprirem o Acordo de Paris", diz.

No ano passado, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos rejeitou a queixa apresentada contra 32 países por um grupo de seis jovens portugueses, por não terem sido esgotadas todas as vias jurídicas em Portugal.
Entrevista de Eduarda Maio a Jorge Moreira da Silva, no Ponto Central"Multilateralismo é solução"
O antigo ministro do Ambiente em Portugal assinala também que o Acordo de Paris trouxe uma mensagem de solidariedade para os países em desenvolvimento.

"A principal mensagem que retiro de todo este processo é que o multilateralismo é solução", sublinha Jorge Moreira da Silva, com a lição que leva da pandemia de que "pouco serve resolvermos o problema em casa se não apoiarmos os outros na sua resolução".


"O nosso problema não é de caminho", mas é preciso antes "acelerar a velocidade" e "fazer tudo para apoiar os países em desenvolvimento".
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