Acordo entre França e Reino Unido para controlar migração no Canal da Mancha

Foi assinado esta segunda-feira um acordo entre Paris e Londres que implica um aumento de 40 por cento de novas patrulhas para reforçar a contenção da migração na Mancha. O investimento será aplicado em infraestruturas portuárias na França, uso de tecnologia para detetar cruzamentos, como drones, e maior cooperação entre a Europa e o Reino Unido.

Carla Quirino - RTP /
Henry Nicholls - Reuters

Os pequenos barcos que transportam migrantes e requerentes de asilo no Canal da Mancha vão ser mais controlados. O Governo britânico, liderado por Rishi Sunak, chegou a acordo com a vizinha França tendo em vista uma maior cooperação para conter a migração.

O compromisso assenta na participação de militares britânicos, pela primeira vez, num programa conjunto de vigilância, reforçando em cerca de 40 por cento as patrulhas francesas nas praias.

Pretende-se assim evitar as travessias, detetando pequenos barcos que estejam prestes a fazer a viagem na margem francesa. O acordo também contempla investimento adicional em infraestrutura portuária na França, uso de tecnologia para detetar cruzamentos, como drones, e maior cooperação entre a Europa. Este reforço implica o pagamento de cerca 72,2 milhões de euros em 2022/23 pelo Reino Unido para ajudar a implementar as medidas.

A prioridade absoluta que o povo britânico tem agora, assim como eu, é para conter a migração ilegal”, disse o primeiro-ministro do Reino Unido, pressionado por parlamentares conservadores para reduzir as travessias.

Sunak , citado na publicação britânica The Guardian, acrescenta: “Eu comprometi-me a agarrar a questão”.

Afirma ter estado a trabalhar muito no assunto, mas acredita que não existe uma resolução rápida. “Eu tenho sido honesto. Não conseguimos resolver da noite para o dia, mas há uma série de coisas em que estou a trabalhar, incluindo o acordo francês. Estou confiante de que podemos reduzir os números ao longo do tempo”, declarou Sunak.


Suella Braverman e Gérald Darmanin. Acordo assinado entre Reino Unido e França, esta segunda-feira | Thomas Samson - Reuters

As assinaturas de Suella Braverman, ministra do Interior do Reino Unido, e do homólogo francês, Gérald Darmanin, firmam o compromisso em melhorar a partilha de informações entre os dois países sobre as navegações na Mancha.

"Temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para impedir que as pessoas façam estas viagens perigosas e para desmantelar os grupos criminosos. Este é um problema mundial que requer soluções mundiais e é do interesse dos governos britânico e francês trabalharem em conjunto para resolver este problema complexo”, afirmou a ministra britânica.

James Cleverly, secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, disse à Sky News que acredita que “estes acordos têm efeito”, mas “não são a solução completa. Temos que trabalhar com os países pelos quais essas pessoas viajam e também, claro, precisamos de garantir que os nossos processos legais sejam rápidos, eficazes e justos e fique claro que vamos repatriar pessoas, enviar pessoas de volta, se elas não tem uma razão legítima”.

“Em última análise, o que queremos ver são essas travessias reduzidas completamente, mas temos que ser realistas”, admitiu Cleverly. Para acrescentar: “Os traficantes de pessoas trabalham de forma persistente para dissuadir a aplicação da lei. Precisamos de trabalhar firmemente para combater a atividade ilegal”.

Depois de chegar a Bali, na Indonésia, onde participa na reunião dos G20, Sunak elogiou ainda o aumento da cooperação com a França, observando que “só quando se trabalha com outros países é que se pode progredir nas coisas que afetam as pessoas em casa”.

O Ministério britânico do Interior afirma que, desde o início do ano, já foram impedidas mais de 30 mil tentativas de travessia, um aumento superior a 50 por cento relativamente ao ano passado.

A cooperação entre os dois países já permitiu o desmantelamento de 55 grupos de tráfico de pessoas e 500 detenções, das quais 140 foram julgadas a e condenadas por tráfico humano, nos últimos dois anos.

No domingo, o Governo britânico revelou que mais de 40 mil migrantes cruzaram o Canal da Mancha em barcos improvisados, durante este ano, ultrapassando as 28.526 travessias de 2021.  De acordo com os dados britânicos, a maioria dos migrantes é albanesa, iraniana e afegã.
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