Acordo nuclear. Irão congratula-se com alívio de sanções mas aponta insuficiência

O ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Hossein Amirabdollahian, comentou como "boas mas não suficientes" as medidas de afrouxamento das sanções económicas norte-americanas. A Administração Biden tinha anunciado o cancelamento de sanções decretadas por Donald Trump em maio de 2020, dois anos depois de ter saído do acordo nuclear.

RTP /
Dado Ruvic, Reuters

O chefe da diplomacia iraniana, Hossein Amirabdollahian, declarou que "o levantamento de algumas sanções pode, a bem dizer, traduzir-se em boa vontade deles. Os americanos falam sobre isso, mas é preciso saber que não basta aquilo que aparece no papel", segundo citação da agência noticiosa ISNA. E acrescentou: "Do nosso ponto de vista, a boa vontade significa que alguma coisa palpável aconteça no terreno". O ministro precisou depois: "Nós procuramos e exigimos garantias nos sectores político, legal e económico", fazendo ainda referência a "acordos [que] foram alcançados noutras áreas", durante as conversações actualmente em pausa.

O anúncio de afrouxamento de sanções norte-americanas contra o Irão surge na iminência de as conversações de Viena serem retomadas, para uma sessão que pode ser decisiva.

O que o compromisso da Administração de Joe Biden poderá mudar é o fim das sanções, não tanto directamente contra o Irão, mas contra países ou empresas que vendam bens e/ou serviços ao sector civil da indústria nuclear iraniana. Por isso o porta-voz do MNE iraniano, Saeed Khatibzadeh, sublinhou que o aliviar das sanções é insuficiente e que Teerão espera de um acordo nuclear o levantamento total das sanções: "Toda a gente sabe que não é suficiente. Na verdade, a República Islâmica do Irão espera que os EUA cumpram os seus deveres e compromissos de acordo com as dimensões do acordo nuclear".

Imprensa israelita atenta à política de Biden

O Governo israelita não tem feito segredo da sua inquietude com as aberturas proclamadas pela Administração Biden no que diz respeito à reanimação do acordo nuclear de 2015, em flagrante contraste com a denúncia do mesmo pelo seu antecessor, Donald Trump.

Contudo, um artigo de análise hoje publicado no diário conservador israelita Jerusalm Post, da autoria de um seu editor, Yonah Jeremy Bob, admite que a parte das sanções norte-americanas agora levantada pela Administração Biden apenas se referia ao sector civil da indústria nuclear iraniana, não tendo qualquer relevância para as capacidades iranianas de fabricar armamento nuclear.

Segundo Bob, as sanções decretadas por Trump contra países ou empresas que tivessem negócios com o nuclear civil do Irão apenas constituía uma provocação para impedir que o Irão pudesse voltar ao acordo nuclear e que Biden, já então com fortes probabilidades de ganhar as eleições, pudesse dar ao Irão condições satisfatórias para esse regresso.

"A verdade, afirma Bob, é que a decisão da Administração Trump em maio de 2020, apenas uns meses antes da eleição presidencial de novembro de 2020, de cancelar a suspensão daquelas sanções era bizarra. Ela não servia para mais nada senão para retirar a ponte do Irão para regressar ao acordo nuclear, se quisesse fazê-lo"

O autor do artigo vê no recente passo da Administração Biden, pelo contrário, uma forma de incrementar a pressão sobre Teerão para que feche as condições de regresso ao acordo em meados de fevereiro e que estas sejam confirmadas na próxima reunião da Agência Internacional de Energia Atómica, em 7 de março.

Segundo as suas próprias palavras, "a Administração Biden está a mostrar tacticamente que se dispõe a facilitar a máquina do JCPOA [o acordo nuclear] e pode encurralar Teerão e obrigar [o Irão] a mostrar boa fé da sua parte, correndo o risco de ser responsabilizado pelo fracasso das negociações".

Finalmente, o artigo prevê que, caso se avance no sentido de uma renovação do acordo nuclear, os sinais da iminência desse acordo, total ou parcial, "incluiriam o alívio de sanções a países como China, Índia, Grécia, Itália, Taiwan, Japão, Turquia e Coreia do Sul". E lembra que já a própria Administração Trump entre maio de 2018 e maio de 2019  tinha concedido a esta lista de países isenções da parafrenália sancionatória.




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