Administração Trump quer que Ucrânia abdique do Donbass

O presidente ucraniano afirmou na quinta-feira que os Estados Unidos continuam a exigir concessões significativas do seu país nas negociações para o fim da guerra com a Rússia, incluindo a retirada das suas tropas da região do Donbass.

Cristina Sambado - RTP /
Sofia Gatilova - Reuters

"Os EUA querem que a Ucrânia retire as suas tropas da região do Donbass e, em seguida, Washington criará uma “zona económica livre” nas partes atualmente controladas por Kiev", afirmou Volodymyr Zelensky. O presidente ucraniano afirma que plano não será implementado sem garantias de que a Rússia não assumirá o controlo da zona.

“Quem governará este território, a que chamam ‘zona económica livre’ ou ‘zona desmilitarizada’ – não sabem”, avançou o presidente ucraniano, em declarações aos jornalistas em Kiev na quinta-feira.

Em troca, o exército russo retiraria das áreas sob o seu controlo nas regiões de Sumy, Kharkiv e Dnipropetrovsk (norte, nordeste e centro-leste), mas permaneceria nas regiões de Kherson e Zaporizhia (sul).Zelensky frisa que a Ucrânia não considera o plano norte-americano justo sem garantias de que as tropas russas não assumirão o controlo da zona após a retirada ucraniana.

Se as tropas de um lado tiverem de recuar e o outro lado se mantiver onde está, o que impedirá estas outras tropas, as russas? Ou o que as impedirá de se disfarçarem de civis e tomarem posse desta zona económica livre? Tudo isto é muito grave. Não é certo que a Ucrânia concorde com isto, mas se estamos a falar de um acordo, então é necessário que seja um acordo justo”, acrescentou o presidente ucraniano.

Segundo Zelensky, as duas principais questões que ainda têm de ser negociadas são o controlo da região leste de Donetsk, onde decorre a maior parte dos combates, e o estatuto da central nuclear de Zaporizhzhia, ocupada por Moscovo no sul da Ucrânia.

A região de Donetsk, controlada em mais de 80 por cento pela Rússia, e a região vizinha de Luhansk, quase totalmente sob o seu controlo, são a principal prioridade do Kremlin na Ucrânia.


Moscovo reivindica a anexação destas regiões desde 2022, bem como de outras duas regiões do sul, Kherson e Zaporizhia, que estão parcialmente ocupadas pelas forças russas.

De acordo com os planos dos EUA, explicou Zelensky, a Ucrânia retirar-se-ia do Donbass, onde a Rússia está a avançar, enquanto as linhas da frente seriam congeladas nas regiões de Kherson e Zaporizhia. A Rússia abdicaria de algumas pequenas porções de terra que controla noutras regiões.

Zelensky acrescentou que a equipa de negociação ucraniana enviou o seu plano revisto de volta para Washington na quarta-feira e que as questões sobre o território e o controlo da central nuclear de Zaporizhzhia eram dois dos pontos de fricção restantes. “Não é o plano final; é uma reação ao que recebemos… o plano está constantemente a ser trabalhado e editado, e este é um processo contínuo que ainda está em curso”, esclareceu.Trump extremamente frustrado
Por sua vez, Donald Trump disse estar "extremamente frustrado" com Moscovo e com Kiev avançou a secretária de imprensa da Casa Branca na quinta-feira, sublinhando que agora quer "ações" para pôr fim à guerra.

O presidente está extremamente frustrado com ambos os lados desta guerra e está farto de reuniões feitas apenas por fazer”, afirmou Karoline Leavitt.O presidente ucraniano confirmou na quinta-feira que os Estados Unidos desejam chegar a um acordo "o mais rapidamente possível".

A versão do plano americano revista pelos ucranianos durante as negociações em Genebra e na Florida não foi divulgada. Um documento dividido em quatro partes foi também entregue ao Kremlin durante uma viagem do enviado norte-americano Steve Witkoff a Moscovo, na semana passada.

As negociações intensificaram-se desde que o governo dos EUA propôs um plano, há quase três semanas, para resolver a guerra desencadeada pela invasão em grande escala da Rússia em fevereiro de 2022, que incorporava importantes exigências de Moscovo.


Os esforços americanos ocorrem num momento difícil para a Ucrânia: a presidência foi destabilizada por um vasto escândalo de corrupção envolvendo associados de Volodymyr Zelensky, o exército está em retirada nas linhas da frente e a população sofre com apagões devido aos ataques aéreos russos.

Zelensky tem sofrido imensa pressão por parte de Donald Trump para aderir ao plano de paz dos EUA. Nos últimos dias, Trump atacou Zelensky, alegando que “nem sequer leu” a minuta do plano de paz e sugerindo que lhe falta legitimidade e que a Ucrânia deveria realizar eleições.

Zelensky afirmou que, em qualquer caso, seria necessária uma "eleição" ou um "referendo" na Ucrânia para resolver as questões territoriais. Na terça-feira, declarou a sua disponibilidade para realizar uma eleição presidencial se a segurança do voto pudesse ser garantida pelos Estados Unidos, em conjunto com os europeus.

c/ agências 
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