Afeganistão acusa Paquistão de ataques em Cabul e no sudeste

O Afeganistão acusou hoje o Paquistão de ter "violado a soberania territorial de Cabul", atingida por duas explosões não reivindicadas que poderão ter tido como alvo o líder dos talibãs paquistaneses.

Lusa /

Cabul foi atingida por uma primeira explosão na quinta-feira à noite, pelas 21:50 (19:20 em Lisboa), que ecoou por toda a capital afegã, seguida, poucos segundos depois, por uma segunda detonação.

"O incidente está a ser investigado, mas ainda não foram registadas vítimas", afirmou o porta-voz do governo, Zabihullah Mujahid, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).

Mais tarde, já durante a madrugada, fontes locais relataram terem visto drones "a bombardear o distrito de Barmal, na província de Paktika", no sudeste do país.

Segundo relatos não confirmados, o alvo seria o líder do Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP), Noor Wali Mehsud, segundo a agência de notícias espanhola EFE.

O TTP não se pronunciou até ao momento sobre a alegada morte de Mehsud.

O governo dos talibãs afegãos também não esclareceu os motivos do ataque.

"Mais uma vez, o Paquistão invadiu o espaço aéreo afegão, bombardeando um mercado civil na província de Paktika, perto da linha Durand, e violando a soberania territorial de Cabul", afirmou o Ministério da Defesa.

O ministério disse num comunicado tratar-se de "um ato hediondo, violento e sem precedentes na história" dos dois países asiáticos vizinhos.

Advertiu ainda que "se a situação se deteriorar após estas ações, as consequências recairão sobre o exército paquistanês".

Do lado paquistanês, o porta-voz do exército, general Ahmed Chaudhry, não reivindicou as explosões, mas apelou a Cabul "para que deixe de abrigar grupos terroristas", nomeadamente os "talibãs paquistaneses".

"Para proteger a vida e os bens do povo paquistanês e preservar a integridade territorial do nosso país, estamos a fazer, e continuaremos a fazer, tudo o que for necessário", declarou, segundo a AFP.

Chaudhry falava durante uma conferência de imprensa em Peshawar, capital provincial de Khyber Pakhtunkhwa, fronteiriça com o Afeganistão.

Questionado sobre a alegada morte do líder do TTP, limitou-se a afirmar que o Paquistão tinha "tomado nota das notícias divulgadas pelos meios de comunicação".

"O Afeganistão está a ser utilizado como base de operações para levar a cabo atos terroristas contra o Paquistão. Temos provas disso", insistiu, também citado pela EFE.

Chaudhry justificou uma postura mais dura face ao aumento da violência, que atribuiu a várias causas, entre as quais a utilização do Afeganistão como "base de operações para o terrorismo" pela vizinha Índia.

Referiu também o armamento deixado pelas forças da NATO no Afeganistão, quando se retiraram em 2021 após 20 anos no país, e a "politização da questão do terrorismo" a nível interno.

A troca de acusações ocorre no dia em que o chefe da diplomacia indiana, Subrahmanyam Jaishankar, recebeu em Nova Deli o homólogo afegão, Amir Khan Muttaqi, e anunciou que a Índia vai transformar a representação em Cabul numa embaixada de pleno direito.

A Rússia é o único país a reconhecer o emirado islâmico imposto pelos talibãs após terem derrubado o governo apoiado pelo Ocidente.

Outros países que não reconheceram o governo dos talibãs mantiveram uma embaixada de pleno direito em Cabul.

"Tenho o prazer de anunciar hoje que a missão técnica da Índia em Cabul volta a ser a embaixada da Índia", disse Jaishankar no início da reunião com Muttaqi.

Jaishankar disse que os dois países enfrentam "a mesma ameaça do terrorismo transfronteiriço", uma alusão ao vizinho Paquistão, segundo a AFP.

O Paquistão viveu em 2024 o ano mais mortífero em quase uma década, com mais de 1.600 mortos devido aos episódios de violência.

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