Afeganistão. Mais perto de acabar com testes de virgindade

No Afeganistão, as mulheres são forçadas a fazer testes de virgindade caso se suspeite que tenham tido relações sexuais antes do casamento. Uma nova política poderá acabar com estes exames que levam à prisão das mulheres afegãs.

RTP /
A virgindade de uma mulher é vista como um bem precioso e um símbolo de pureza no Afeganistão Parwiz - Reuters

Os números são difíceis de precisar, mas milhares as adolescentes e mulheres afegãs são presas. O crime cometido consiste em terem falhado no teste de virgindade que são forçadas a fazer numa clínica ou hospital.

A sociedade afegã rege-se por valores bastantes conservadores. A virgindade de uma mulher é vista como um bem precioso e um símbolo de pureza, e por isso é esperado que permaneçam virgens até ao matrimónio.

Caso se suspeite que tais regras não são cumpridas, as mulheres são forçadas a fazer testes de virgindade que, por sua vez, em caso de resultado negativo, leva a que sejam presas.

Desde sempre, vários ativistas lutam para colocar um ponto final nestas medidas. Em 2017, Ashraf Ghani, Presidente do Afeganistão, prometeu que os testes de virgindade seriam banidos como procedimento oficial.

No entanto, os testes continuam a ser feitos e as mulheres enfrentam vergonha pública e prisão.
Vergonha, exclusão social e más condições nas celas
Em declarações ao jornal The Guardian, Farhad Javid, diretor no Afeganistão da organização Marie Stopes International, revela que já esteve dentro de uma prisão e pôde presenciar e testemunhar a realidade que as mulheres enfrentam após serem presas por não serem virgens.

“O que eu vi lá foi muito perturbador. As condições eram muito más, mais de 12 meninas estavam colocadas numa só cela muito pequena. E apesar de ser suposto estarem lá apenas três meses, muitas são mantidas na prisão durante um ano ou um ano e meio”, afirma Farhad Javid.

Para além das más condições e a vergonha que estas mulheres enfrentam, têm ainda de passar pela confrontação com as famílias. Muitas são deserdadas por levarem vergonha e desonra para o nome da família.

"A minha mãe disse-me que por causa do que eu fiz, tiveram de lidar com tribunais e com a lei. A minha família tem de enfrentar a vergonha ... e tudo isto é por minha causa", conta Neda, uma jovem afegã de 18 anos, à BBC.

Neda foi uma das muitas raparigas afegãs obrigadas a submeterem-se a um teste de virgindade. Conta que é um momento bastante embaraçoso e que mudou toda a sua vida. "Eu sabia que não tinha feito nada de errado, mas mesmo assim eu fiquei muito envergonhada", confessa. "Tudo mudou agora. Distanciei-me de todos os meus amigos", afirma.
Grandes avanços contra os testes
Soraya Sobhrang, delegada da Comissão Independente de Direitos Humanos do Afeganistão, citada pela BBC, defende que “os testes de virgindade não têm bases científicas e deviam ser banidos”. Acrescenta que constituem uma “violação da Constituição do país, da lei islâmica e dos regulamentos internacionais”.

Depois de uma dura luta, a Marie Stopes International acredita que será feito um grande avanço com a implementação de uma política oficial de saúde pública que irá impedir que se mantenha esta a prática em clínicas e hospitais no Afeganistão.

Com ajuda monetária da Suécia, a organização pretende fazer um trabalho conjunto com médicos e enfermeiros em todas as províncias afegãs, de forma a garantir que a nova política é bem recebida e comunicada.

“Tem sido uma luta muito longa mas vemos isto como um grande avanço, porque a política de saúde pública no Afeganistão é forte e respeitada, tanto no Governo como em áreas talibãs”, afirma Javid.

O diretor da organização Marie Stopes International no Afeganistão tem esperança de que o impedimento da realização dos testes de virgindade por médicos ou enfermeiros seja uma forma de “ajudar a mudar atitudes culturais entre as autoridades policiais, bem como na sociedade em geral”.

O próximo passo é, para Farhad Javid, libertar todas as mulheres e jovens adolescentes que foram presas como resultado dos testes de virgindade.
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