Afeganistão. Um país à beira do colapso humanitário

A situação no Afeganistão agravou-se, quase dois anos após o regresso dos talibãs, com milhões de pessoas a viverem numa situação de pobreza extrema, fruto de décadas de conflito, do colapso da economia e das alterações climáticas. Cerca de 28 milhões de pessoas - mais de metade da população afegã - necessita de assistência urgente, entre as quais seis milhões estão em risco de fome extrema, alerta o Alto Comissariado das Nações para os Refugiados (ACNUR).

Rachel Mestre Mesquita - RTP /
Cerca de 97% da população vive muito abaixo do limiar da pobreza, de acordo com dados do ACNUR © UNHCR/Oxygen Film Studio (AFG)

A tomada do poder pelos talibãs, a 15 de agosto de 2021, representou o regresso ao Afeganistão da interpretação mais severa da sharia, a lei islâmica, que não só retirou direitos fundamentais às mulheres, como provocou o isolamento do país, tendo a maioria da comunidade internacional virado as costas ao novo Governo e aplicado sanções económicas que afetaram a maior parte da população afegã.

Dois anos depois, cerca de 97 por cento da população afegã vive muito abaixo do limiar da pobreza, segundo os dados do ACNUR.
O momento mais negro do país Desde a saída das forças militares ocidentais que o país atravessa uma das piores crises humanitárias e económicas do mundo, com apenas três por cento dos afegãos a ter dinheiro para suprir as suas necessidades básicas.

Atualmente são múltiplas as crises que o Afeganistão enfrenta, desde a insegurança alimentar e subnutrição graves de que sofrem 20 milhões de afegãos, a alterações climáticas, à crise das pessoas deslocadas.

De acordo com dados do ACNUR, mais de três milhões de pessoas estão deslocadas internamente no país devido a conflitos e cerca de dois milhões de refugiados e requerentes de asilo estão nos países vizinhos.

As catástrofes naturais têm sido cada vez mais frequentes no país. Terramotos, secas e inundações extremas provocaram ainda mais miséria e pioram a vida das comunidades devastadas do país. O Afeganistão enfrenta, pelo terceiro ano consecutivo, uma seca prolongada.

Para agravar a situação, por si já muito complicada da população afegã, a crise ucraniana veio aumentar o preço dos bens alimentares, tornando os produtos mais básicos inacessíveis para muitos cidadãos. … à mercê da ajuda humanitária
(© UNHCR/Oxygen Film Studio (AFG)) 

Uma grande parte da população afegã necessita de ajuda urgente e sua sobrevivência está dependente da ajuda das organizações humanitárias no terreno, como a ACNUR, que tentam responder às necessidades dos mais vulneráveis e assistir os afegãos deslocados e retornados, tanto no Afeganistão como nos países vizinhos, providenciando-lhes abrigo, alimentação, água e artigos de primeira necessidade. "28.3 milhões de pessoas necessitarão de ajuda humanitária em 2023", segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, informa a Fundação Portugal com ACNUR.

O ACNUR apoiou, no ano passado, mais de seis milhões de pessoas no Afeganistão. Tendo conseguido ajudar diretamente, através de assistência monetária, artigos para o lar e meios de subsistência, mais de dois milhões de pessoas, cerca de 80% das quais eram mulheres e crianças.

De forma indireta conseguiu prestar ajuda a mais de quatro milhões de pessoas, através da construção de infraestruturas, como escolas e centros de saúde e a assistência a projetos de abastecimento de água e de energia solar.
Principais vítimas desta crise  
(© UNHCR/Oxygen Film Studio (AFG))

As mulheres e as crianças são as principais vítimas das crises que o Afeganistão enfrenta, estando expostas a um maior risco de violência e exploração. Desde a subida ao poder dos talibãs, que as mulheres e as raparigas foram afastadas da vida quotidiana do país, devido às restrições impostas à sua plena participação.

"Os primeiros decretos do novo regime dos talibãs visaram logo as mulheres: foram proibidas de trabalhar fora de casa, forçadas a usar burcas, proibidas de frequentar as escolas e impedidas de ser vistas por médicos masculinos", de acordo com Salam al-Janabi, representante da UNICEF no Afeganistão. A Fundação Portugal com ACNUR, parceiro nacional do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, através de um comunicado, apela a um apoio das pessoas e organizações para que o ACNUR e os seus parceiros continuem a prestar ajuda humanitária no terreno.

Mais informações poderão ser obtidas na página da Fundação Portugal com ACNUR.

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