África. Turistas arriscam contagiar com Covid-19 gorilas em risco de extinção

por RTP
Os gorilas-das-montanhas estão identificados como uma espécie em risco de extinção. Restam apenas 1063 exemplares em meio selvagem. Ken Bohn via Reuters

Turistas que tiram fotografias com gorilas-das-montanhas em países africanos estão a colocá-los em risco de contraírem o novo coronavírus, assim como outros vírus e doenças. A conclusão é de investigadores britânicos, que pedem maior responsabilidade a quem visita estes primatas.

Cientistas da Universidade Oxford Brookes, em Inglaterra, analisaram quase um milhar de publicações na rede social Instagram e constataram que a maioria dos turistas nas fotografias estava tão perto dos gorilas-das-montanhas - subespécie encontrada no centro do Continente Africano - que poderia transmitir-lhes vírus e doenças.

“O risco de transmissão de doenças entre os visitantes e os gorilas é preocupante”, alertou o principal autor do estudo, Gaspard Van Hamme, citado pela CNN. “É crucial que reforcemos e asseguremos os regulamentos das visitas guiadas para que estas atividades com os gorilas não ameacem ainda mais os primatas”.

Os gorilas-das-montanhas estão identificados como uma espécie em risco de extinção. Restam apenas 1063 exemplares em meio selvagem, segundo o estudo britânico publicado na revista People and Nature.

Estes animais podem ser encontrados na República Democrática do Congo (no Parque Nacional Virunga), no Uganda (Parque Nacional Impenetrável de Bwind e Parque Nacional de Gorilas de Mgahinga) e no Ruanda (no Parque Nacional dos Vulcões).
Genética semelhante possibilita contágio
O estudo da Universidade Oxford Brookes focou-se em 858 fotografias publicadas no Instagram com o hashtag #gorillatrekking e #gorillatracking. Das publicações, 86 por cento mostravam pessoas a menos de quatro metros dos gorilas e 25 imagens mostravam turistas a tocar nos primatas.

Segundo os investigadores, essa distância é a suficiente para permitir um eventual contágio. “Verificámos que raramente os turistas [nas fotografias] utilizavam máscaras, e isso facilita a transmissão de doenças dos visitantes para os animais”, alertou à CNN Magdalena Svensson, professora na Oxford Brookes.

A explicação para este possível contágio é, segundo a especialista, que os gorilas “são tão geneticamente próximos dos humanos que apanham a maioria das coisas que nós apanhamos”, entre as quais o vírus da gripe, o Ébola ou constipações comuns. Em janeiro deste ano, oito gorilas-do-ocidente do Jardim Zoológico de São Diego, na Califórnia, contraíram o SARS-CoV-2. Todos foram já dados como recuperados.

Mesmo antes da pandemia de Covid-19 ter surgido, há pouco mais de um ano, os organizadores de visitas aos gorilas já pediam aos turistas que utilizassem máscaras, segundo uma orientação da União Internacional de Conservação da Natureza para impedir a transmissão de doenças aos animais.

Agora, com uma pandemia a circular, torna-se ainda mais importante que os visitantes desta espécie protegida coloquem máscara e fiquem a pelo menos sete metros de distância dos animais, aconselha Svensson.

Também Gladys Kalema-Zikusoka, porta-voz de uma organização não-governamental de proteção de gorilas no Uganda, pede uma maior responsabilidade também nas redes sociais. “Os turistas estão dispostos a partilhar os seus encontros demasiado próximos com os gorilas-das-montanhas no Instagram e isso cria expectativas para futuros turistas”, criticou.

A solução não passa contudo pelo fim do turismo nas áreas protegidas onde vivem os primatas, até porque as receitas originadas pelos visitantes contribuem fortemente para os esforços de conservação da espécie e para as comunidades locais. O necessário é reeducar as pessoas sobre os riscos, propugnam os especialistas.
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