AIEA termina vistoria a central de enriquecimento de urânio no Brasil
A visita dos inspectores da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) à central de enriquecimento de urânio de Resende foi realizada, mas não haverá de imediato quaisquer resultados, informou hoje o Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil.
A AIEA deverá anunciar nos próximos 30 dias se dá ou não autorização para o início das operações de enriquecimento de urânio naquela fábrica de combustível nuclear, no Rio de Janeiro, que ainda não começaram.
A agência das Nações Unidas deverá também decidir se aceita a proposta brasileira sobre os futuros procedimentos de inspecção da fábrica.
A proposta brasileira foi apresentada formalmente na segunda-feira, durante uma reunião dos técnicos da AIEA com representantes do Conselho Nacional de Energia Nuclear (CNEN), no Rio de Janeiro.
O ministério informou ainda que os inspectores da agência nuclear da ONU ficaram satisfeitos com o que viram, apesar de não terem tido acesso visual às ultra-centrifugadoras que enriquecem o mineral.
O Ministério da Ciência e Tecnologia revelou que tudo o que constava da proposta brasileira foi cumprido e os representantes da AIEA não apresentaram novas propostas.
O governo brasileiro pretende garantir a preservação da tecnologia nacional, desenvolvida pelo Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP).
"O processo de ultra-centrifugação consome 25 vezes menos energia do que o processo de difusão gasosa, usado nos Estados Unidos e em França, responsável pelo enriquecimento de mais de 50 por cento do urânio utilizado no mundo", disse à Folha Online o almirante Alan Arthou, director do CTMSP.
O processo de ultra-centrifugação é utilizado também por outros países como o Japão, Paquistão, Alemanha, Holanda e Grã- Bretanha, mas apenas os três países europeus, por meio do consórcio Urenco, exploram comercialmente a actividade.
O governo do Brasil considera que a grande vantagem da tecnologia nacional é que as centrifugadoras flutuam num campo electromagnético, reduzindo o desgaste de equipamentos.
Os três inspectores da AIEA que estão no Brasil voltam a reunir-se hoje com a CNEN, mas apenas para a "conclusão de processos administrativos".
Apesar de terem sido convidados para conhecer outras instalações, durante as seis horas e meia de visita, os técnicos permaneceram apenas na unidade de enriquecimento de urânio da fábrica em Resende, localizada a 100 quilómetros do Rio de Janeiro.
O presidente da CNEN, Odair Dias Gonçalves, considera que, caso não haja desentendimento entre as duas partes, os inspectores da AIEA devem regressar ao Brasil dentro de duas semanas para a última visita antes do início das operações.
A tecnologia brasileira será capaz de enriquecer urânio a preços competitivos, mas na primeira fase do projecto a unidade não produzirá excedentes, podendo suprir 60 por cento das necessidades das fábricas nucleares brasileiras, Angra I e Angra II, localizadas no estado do Rio de Janeiro.
"As centrifugadoras conseguem produzir a um preço menor ou igual ao de mercado. Se ela é melhor ou pior do que as outras, ninguém pode dizer. Ninguém conhece a minha, assim como eu não conheço as outras", afirma o almirante Alan Arthou.
O enriquecimento de urânio no Brasil foi descoberto pela Marinha brasileira e é mantido de tal modo secreto que nem o governo tem pormenores de todo o processo.
O projecto prevê uma expansão da unidade de enriquecimento, ainda sem um calendário definido.
Na segunda fase, a Fábrica de Combustível Nuclear terá capacidade para atender totalmente as necessidades das fábricas nucleares brasileiras em funcionamento, além da central de Angra III , logo que esteja concluída.