Al Qaeda na Síria ataca posições do Estado Islâmico

Um grupo filiado na al Qaeda lançou no passado domingo um ataque surpresa a posições do Estado Islâmico nas montanhas sírias de al-Qalamoun. Os islamitas do Daesh repeliram o ataque, mas sofreram mais baixas do que o seus rivais, segundo a agência iraniana de notícias Ahlul Bayt.

Graça Andrade Ramos - RTP /
A al Qaeda e o Estado Islâmico são as duas maiores organizações islamitas terroristas em todo o mundo Reuters

O grupo Jabhat al-Joulan, filiado da Frente al-Nusra – considerada a al Qaeda na Síria – atacou as forças do Estado Islâmico nas aldeias de Wadi Al-Zamrani e Wadi Al-Murtabiyah, nas encostas ocidentais das montanhas que se erguem na fronteira entre a Síria e o Líbano, perto da autoestrada de Homs.

A área é uma das mais disputadas por vários grupos - entre os quais o Exército da Síria Livre (ESL) e a guerrilha xiita libanesa do Hezbollah - e inclui zonas de tréguas e zonas de combate que oscilam ao longo dos meses. Em maio de 2015, após uma ofensiva contra a al Nusra, o Hezbollah e as forças sírias cortaram as rotas de abastecimento do grupo na zona, selando a fronteira com o Líbano.

No dia 27, ao ataque surpresa ao Estado Islâmico seguiu-se uma batalha violenta que resultou na morte de 23 islamitas – 13 do grupo Estado Islâmico, dez do Jabhat al-Joulan.

As duas organizações inimigas não estão abrangidas pelos acordos de cessar-fogo, mas estarão a aproveitar a cessação das hostilidades para tentarem ganhar território uma à outra.

O Daesh tem sido igualmente mais atacado pela coligação internacional liderada pelos Estados Unidos e pelas forças russas e sírias do que os seus rivais da Frente al-Nusra e está, por isso, mais enfranquecido. Uma debilidade que a al Nusra estará a tentar aproveitar.
Inimigos e rivais
A al Qaeda e o Estado Islâmico são as duas maiores organizações islamitas terroristas em todo o mundo e, apesar de partilharem a ideologia de base, são inimigas desde que o grupo então conhecido como ISIS rompeu com a Frente al-Nusra.
 
A Síria é o seu teatro de combate mais frequente, embora as batalhas sejam habitualmente pouco referidas no Ocidente.Antes de se declarar simplesmente Estado Islâmico, após a ofensiva relâmpago no norte do Iraque em junho de 2014, que levou também ao anúncio da criação de um califado, o ISIS esteve integrado nas estruturas hierárquicas da al Qaeda.

A rivalidade iniciou-se depois da insurreição na Síria iniciada há cinco anos.

A al Qaeda no Iraque era então representada pelo grupo de Abu Bakr al-Bagdadi,  conhecido na altura como Estado Islâmico do Iraque.

A partir de 2011 o grupo alargou a sua base de ação para incluir a Síria, tornando-se o Estado Islâmico do Iraque e da Síria (EIIS ou ISIS, no acrónimo inglês de Islamic State of Iraq and Syria).

Na Síria, ganhou território e poder, sobretudo no leste. Abu Bakr al-Bagdadi tentou então fundir a sua organização com a Frente al-Nusra, que comandava nominalmente as operações da rede de extremistas sírios.

A proposta foi recusada, sobretudo devido à crueldade das ações dos militantes do ISIS, e o grupo rompeu com a al Qaeda, tornando-se sua principal rival.

A vitória de domingo nas montanhas de Qalamoun foi amplamente noticiada pela agência oficial de notícias do grupo Estado Islâmico – Al Amaq News –, incluindo um comunicado e fotografias da batalha.


Outras frentes

A Frente al-Nusra acusou entretanto a Divisão 13 do ESL de romper acordos e atacar postos de controlo e as suas bases no norte da Síria.

De acordo com um membro da al-Nusra, Abu Saeed al-Holandi, as duas organizações tinham acordado resolver disputas “sem violência através de tribunais. Mas a Divisão 13 tem estado a incitar os seus apoiantes”.

“A Frente al-Nusra tem-se até agora conformado com as decisões judiciais e mantido à distância,” acrescentou. Al-Holandi não referiu que tribunais têm jurisdição para decidir sobre as questões que dividem as duas organizações.

Os dois grupos disputam áreas no ocidente da província de Idlib. São esperadas retaliações da al-Nusra contra a Divisão 13 na região nas próximas horas.

Por seu lado, o exército sírio leal a Damasco está a dirigir-se para Al-Sukhn, uma cidade 70 quilómetros a leste da cidade de Palmiram reconquistada ao grupo Estado Islâmico durante o fim de semana.

A cidade de Al-Sukhna fica num oásis estratégico, ao longo de uma das principais estradas da província, a M20, que leva a Deir Ezzor.

"Caças continuam a bombardear as posições do ISIS em Al-Sukhna e arredores, preparando um ataque à cidade", escreveu esta quinta-feira o jornal pró-governamental Al-Watan.
Momento crucial
Alguns analistas consideram a atual fase crucial para o futuro do poder na província de Idlib e um teste para a diplomacia norte-americana.

"Este é um teste para a política norte-americana da Síria. Os Estados Unidos afirmam que querem reduzir a sua influência e derrotar a al Qaida na Síria, tanto como querem eliminar o ISIS", disse Nicholas Heras à ARA News.

Heras, um investigador no Centro para a Nova Segurança Americana, refere que esta é uma fase crucial na guerra. "Existe uma verdadeira oportunidade para a oposição moderada obter vantagens do cessar-fogo para enfraquecer os elementos extremistas violentos no país", refere.

"Se os EUA perderem a oportunidade de redobrar os seus apoios à Divisião 13 e seus aliados no ESL, poderá não ter outra oportunidade antes da al Qaida se infiltrar como uma carraça na sociedade civil de Idlib", avisa Heras.
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