Alemanha. Deutsche Bank envolvido em lavagem de dinheiro russo

O Deutsche Bank enfrenta multas, ações legais e julgamento devido ao seu envolvimento num escândalo de lavagem de dinheiro russo no valor de 20 mil milhões de dólares, de acordo com um relatório confidencial do Guardian.

RTP /
Kai Pfaffenbach, Reuters

O banco alemão está a ser alvo de investigação, sob a suspeita de envolvimento numa operação de lavagem de dinheiro, apelidada de Global Laundromat, revelada em Março de 2017 pelo Guardian.

Quando o Projeto de Relatório do Crime Organizado e da Corrupção (OCCRP) foi publicado pelo Guardian, em 2017, o banco negou qualquer envolvimento com o esquema financeiro.

O exclusivo do jornal britânico revelou que entre 2010 e 2014, oligarcas, banqueiros e criminosos russos ligados ao Kremlin e ao FSB – agência de serviços de informação sucessora do KGB – estiveram envolvidos nesta operação de lavagem de dinheiro.

A investigação demonstrou que cerca de 20 mil milhões de dólares foram retirados à Rússia e os investigadores estimam que este valor poderia ter atingido os 80 mil milhões de dólares.

Esta operação envolveu maioritariamente transações fictícias de dinheiro entre as empresas, como o caso da Shell, no Reino Unido. As empresas “emprestavam” dinheiro umas às outras, enquanto empresas fictícias russas e inglesas chefiadas por moldavos garantiam estes “empréstimos”.

As transações permitiram assim que mil milhões de dólares fossem transferidos para bancos na Moldávia e na Letónia, e passassem pelo sistema financeiro de 96 países. O Deutsche Bank envolveu-se neste esquema através da canalização de transferências ilegais da Rússia para os Estados Unidos, a União Europeia e a Ásia.

O banco admite que há um grande risco de as entidades reguladoras do Reino Unido e dos Estados Unidos avançarem com “medidas disciplinares significativas”. O banco refere ainda que este escândalo pode atingir a sua reputação e levar à perda de clientes e de investidores.
Investigação interna do Deutsche Bank
Face ao envolvimento nesta grande polémica, o banco pediu a dois investigadores internos do crime financeiro – Philippe Vollot e Hinrich Völcker – que abrissem uma investigação sobre o caso. O relatório de nove páginas “estritamente confidencial”, que resultou desta investigação, foi apresentado no ano passado ao Conselho Geral de Supervisão e Auditoria do Deutsche Bank.

Os investigadores identificaram inúmeras “entidades de alto risco” – 1.244 nos EUA; 329 no Reino Unido; e 950 na Alemanha – responsáveis por 700 000 transações ilegais. Como parte desta investigação, o Deutsche Bank enviou, à Agência Nacional do Crime, em Londres, 149 relatórios de “atividades suspeitas”, que envolveram 30 clientes do banco.

O relatório revelou ainda que o Deutsche Bank parou de fazer negócios com os dois bancos envolvidos na operação – Moldindonbank, da Moldávia, e Trasta Komercbanka, da Letônia – e reduziu as suas atividades comerciais na Rússia e na Ucrânia.
Historial de lavagem de dinheiro
Nos últimos anos, o banco enfrentou várias ações legais de entidades reguladoras internacionais. Entre 2011 e 2018, pagou 14,5 mil milhões de dólares em multas, pelo envolvimento em esquemas financeiros ilegais, maioritariamente com a Rússia.

O banco esteve também envolvido no maior escândalo de lavagem de dinheiro da Europa, em que o Danske Bank da Dinamarca lavou 200 mil milhões de euros russos na sua filial na Estónia.

Meses depois de a polícia alemã ter investigado os escritórios do banco, sob a suspeita de envolvimento em operações de lavagem de dinheiro, resultado da publicação dos Panama Papers, o Deutsche Bank está de novo sob investigação.
Transações financeiras a Donald Trump
O banco alemão está ainda a ser alvo de investigação em Washington devido às suas transações financeiras com Donald Trump.

O jornal americano New York Times divulgou em Março de 2019 um relatório detalhado com o historial do presidente Donald Trump no Deutsche Bank, que revela que o banco alemão emprestou ao magnate um total de 2 mil milhões de dólares no período de 20 anos.

O NYT entrevistou mais de 20 antigos executivos e diretores do Deutsche Bank para o relatório, que explica como é que o presidente norte-americano conseguiu o financiamento do banco alemão, apesar de ser considerado um cliente de risco devido aos seus negócios falidos.

O Deutsche Bank disse que não pode comentar as “potenciais investigações em curso”, admitindo apenas que, nos últimos anos, o banco aumentou consideravelmente o número de funcionários envolvidos em crimes financeiros.
PUB