Visita de Carlos III a França adiada. Protestos contra lei das reformas alastram a Bordéus

por Cristina Sambado, Carlos Santos Neves - RTP
Mohammed Badra - EPA

Manifestantes franceses atearam, na noite de quinta-feira, fogo ao edifício da Câmara Municipal de Bordéus. As chamas acabaram por ser apagadas pelos bombeiros e uma pessoa foi detida. Mais de um milhão de pessoas saíram às ruas de diferentes cidades em protestos contra o alargamento da idade da reforma. A vaga de contestação obrigou já o Eliseu a anunciar o adiamento da visita do monarca britânico a França, que estava prevista para a próxima semana.

O incêndio no edifício da Câmara de Bordéus aconteceu durante os protestos contra o aumento da idade de reforma dos 62 para os 64 anos, que continuam a ser pautados pela violência em várias cidades francesas.
O presidente da Câmara de Bordéus afirmou-se "extremamente chocado", dizendo que o direito de manifestação é um direito constitucional, mas saquear não o é.

“Esta quinta-feira à noite, a porta de acesso à Câmara Municipal de Bordéus foi incendiada”, lê-se na conta de Twitter do presidente da autarquia, Pierre Hurmic.


“Condeno com a maior veemência esta violência que não tem outro significado que não o de atacar a casa comum do povo de Bordéus”, acrescentou o autarca, que, pouco depois, revelou que “a intervenção dos serviços de incêndio e salvamento e dos agentes municipais permitiu conter o incêndio, preservando assim a integridade das instalações”.

O edifício da câmara irá reabrir normalmente na sexta-feira “às horas habituais para garantir a continuidade do serviço público à população”, acrescentou o autarca.
Visita de Carlos III "será reprogramada"

Os sindicatos apelaram a mais protestos na próxima terça-feira, dia em que o rei Carlos III estaria em Bordéus. A Presidência francesa fez saber, entretanto, que a visita do monarca foi adiada.

"Tendo em conta o anúncio, ontem, de uma nova jornada de ação nacional contra a reforma das pensões na terça-feira, 28 de março, em França, a visita do rei Carlos III, inicialmente prevista para 26 a 29 de março, ao nosso país será adiada"
, lê-se numa nota do Eliseu.

O gabinete de Emmanuel Macron acrescenta que "esta decisão foi tomada pelos governos francês e britânico, após uma conversa telefónica entre o presidente da República e o rei esta manhã", enfatizando a necessidade de acautelar "condições que correspondam à relação de amizade" entre os dois países.

A visita de Estado "será reprogramada" para data a definir.
Nono dia de protestos nacionais
Na quinta-feira, o país viveu o nono dia de protestos a nível nacional, desde 16 de janeiro, mas o primeiro desde que o Executivo francês recorreu, a 16 de março, a uma disposição constitucional para fazer passar o texto em causa sem votação parlamentar.

Estações de comboio, aeroportos e refinarias foram bloqueados por manifestantes. Os oito principais sindicatos convocaram ainda greves que afetaram vários sectores, em especial os transportes.
Os números da participação nas manifestações que se registaram quinta-feira em França variam consoante as fontes: o sindicato CGT fala na mobilização de 3,5 milhões de pessoas em 300 cidades, ao passo que o Governo diz que foram pouco mais de um milhão, segundo a France Presse; as autoridades policiais afirmaram que 80 pessoas foram detidas em todo o país.Em Paris, onde se manifestaram mais de 119 mil pessoas, a polícia dispersou os protestos com recurso a gás lacrimogéneo. Foram detidas 33 pessoas.

Na capital, atrações turísticas como a Torre Eiffel e o Palácio de Versailles, onde está previsto um jantar com Carlos III e Emmanuel Macron na próxima semana, estiveram encerradas na quinta-feira.

A primeira-ministra, Élisabeth Borne, reagiu no Twitter: “Demonstrar e expressar desacordo é um direito. A violência e a destruição a que assistimos são inaceitáveis. Toda a minha gratidão às forças de segurança mobilizadas”.


Houve ainda confrontos entre os manifestantes e a polícia nas cidades de Rouen, Nantes, Rennes e Lorient.

Para os sindicatos e a oposição de esquerda, o dia foi um sucesso. No entanto, o futuro dos protestos é uma incógnita. O Governo espera que os protestos vão perdendo intensidade e que a violência afaste a população das ruas. Já a oposição acredita não vão diminuir, mas que os sindicatos terão de conceber uma estratégia para avançar.

Desde janeiro já se realizaram nove dias de protestos nacionais e as forças sindicais apelaram a um décimo na próxima terça-feira.

c/ agências
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