Alterações climáticas. Cidades costeiras em risco com a subida do nível do mar

por Carla Quirino - RTP
Santa Mónica, Califórnia, EUA DR / Twitter - Climate Central

As áreas ribeirinhas de Lisboa poderão ficar alagadas com a temperatura global a subir 1,5 graus, mas isso é no cenário otimista, caso o efeito de estufa começar a diminuir hoje, até 2050. "As escolhas de hoje definirão o nosso caminho", diz Benjamin Strauss, investigador da organização Climate Central, que apresenta um estudo onde simula a subida das águas em dezenas de cidades costeiras.

Se as emissões continuarem a subir, a outra hipótese, menos otimista, aponta para a subida de temperatura do planeta atingir os três graus, já em 2060. Neste caso a linha de costa modifica-se totalmente e o mar invade terra atingindo mais de 800 milhões de pessoas.

A organização sem fins lucrativos Climate Central associou à investigação simulações visuais do impacto do nivel do mar, comparando áreas urbanas costeiras. O lado esquerdo da imagem documenta a zona alagada em 2050, no caso de a temperatura global atingir 1,5 graus, e do lado direito, representa o mesmo lugar mas com o aquecimento de 3 graus.

Sob o título "Que Futuro iremos escolher" , o gráfico interativo permite deslocar a linha vertical revelando o novo aspeto da cidade, perante os dois possiveis cenários.

No caso de Lisboa, a simulação foi feita na área da antiga Expo 98, atual Parque das Nações, onde a conhecida Torre Galp fica rodeada de água.

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Os cálculos da investigação tiveram em conta o crescimento da população global, as cotas costeiras e diversas variáveis referentes ao efeito de estufa produzido pelo homem.

"Vimos subir no século passado cerca de trinta centímetros do nível do mar", descreveu Strauss. "Olhando para o futuro, estamos a falar de 3 metros de altura  no melhor cenário e 9 metros no pior" acrescentou o cientista, citado no The Guardian. Num cenário de aquecimento superior de 4 graus, o nível do mar pode cobrir territórios onde vive 15% da população global.

Uma vez emitido, o dióxido de carbono permanece na atmosfera por séculos. O carbono que já está na atmosfera está atualmente a aquecer o planeta em 1,1 ° C - o que significa que, mesmo sem emissões líquidas após 2020, o nível médio global do mar deverá subir cerca de 1,9 metros  nos próximos séculos.

O estudo conclui que as regiões da Ásia e do Pacífico serão as mais vulneráveis à subida das águas. Os países insulares correm o risco de verem a maior parte da terra ficar submersa. China, Vietname, Indonésia são países identificados como alguns dos mais expostos.

Se a subida de temperatura no planeta atingir 3 graus, o Climate Central estima que, em 2100, cerca de 43 milhões de pessoas na China viverão em terras que estarão abaixo do nível da maré alta. A somar, 200 milhões de pessoas ocuparão áreas em risco da subida das águas na região.

Simulação de inundações provocadas pelas mudanças climáticas no museu Chhatrapati Shivaji Maharaj Vastu Sangrahalaya em Bombaím, Índia. Perspectiva debaixo de água.
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A cada fração subida de temperatura, as consequências das mudanças climáticas pioram. Mesmo limitando o aquecimento a 1,5 graus, os cientistas afirmam que os tipos de clima extremo que o mundo experimentou neste verão se tornarão mais severos e frequentes.

"Níveis mais altos de aquecimento exigirão defesas sem precedentes globalmente ou abandono em dezenas das principais cidades costeiras do mundo", escreveram os autores, citados na CNN.
Se o acordo de Paris já estivesse a ser cumprido e o aquecimento global já limitado a 1,5 graus, o impacto da subida das águas seria menor, dizem os cientistas.

Na véspera da Cop26, Conferência sobre Alterações Climáticas da ONU, a realizar-se na Escócia em novembro,"os líderes mundiais têm uma oportunidade fugaz de ajudar ou trair o futuro da humanidade com suas ações de hoje em relação às mudanças climáticas", disse Strauss.

E acrescentou: "Esta investigação e as imagens criadas a partir dela, ilustram as enormes apostas por trás das negociações sobre o clima, em Glasgow."

E precisamente, a Climate Central produziu para a área ribeirinha da cidade de Glasgow uma simulação interativa da altura do nivel da água, para melhor percepção do que o futuro pode trazer.

"Uma imagem vale 1.000 palavras", rematou Benjamin Strauss.

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Na conferência de 2017 da ONU dedicada à Conservação dos Oceanos, ficou descrito que "a elevação do nível do mar está entre os impactos mais severos da mudança climática, com consequências potenciais de longo alcance para humanos e ecossistemas em todo o mundo".


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