Alterações climáticas redesenham o ecossistema do Ártico

por RTP
Para as espécies do Ártico, as baleias eram um animal quase desconhecido, o que atualmente já não acontece Alistair Scrutton - Reuters

A subida de temperatura e o consequente degelo das superfícies têm afetado o ecossistema do Ártico, especialmente a zona do mar da Chukota, delimitado pelo estreito de Bering. Várias espécies do sul têm-se deslocado para esta área, algo que não deveria acontecer se a temperatura se mantivesse dentro dos valores normais.

“A piscina fria do mar de Bering desapareceu completamente em 2017,2018 e 2019”, salientou o pesquisador e principal autor do estudo Henry Huntington. A porção fria de água é criada pela transferência de calor para a atmosfera e está localizada a norte do mar de Bering.

Seth Danielson, da Universidade do Alasca, em Fairbanks, afirma que a piscina fria “funciona como uma rolha: os peixes subárticos não podem atravessar água tão fria para passar o estreito e chegar ao mar de CHukotka”.

O mesmo acrescenta que, se “a piscina fria acabar, a rolha desaparece e não há nada que impeça as espécies subárticas de chegarem a Chukotka, como estamos a verificar nos últimos anos”.

Os dados coletados no estudo Nature Climate Change vão ao encontro das observações feitas que indicam uma transferência em massa de espécies de peixe de sul para norte. Entre elas está o bacalhau, o salmão e a arinca.

Contudo, a principal mudança ocorreu no topo do ecossistema com a permanência alongada das baleias assassinas no mar da Chukota. "No ano passado, gravei vários delas no mar de Beaufort, no extremo norte e leste", afirmou a oceanógrafa da Universidade de Washington Kate Stafford, especializada em acústica da vida marinha.

"Elas provavelmente passam mais tempo no mar de Chukota porque, primeiro, há menos gelo e portanto têm mais espaço livre durante mais tempo ao longo do ano. Há também muito mais espécies subárticas, baleias jubarte, baleias, baleias Minke ou cinza na área e possíveis presas, especialmente os filhotes de baleias ", acrescenta a oceanógrafa.

Para as espécies do Ártico, as baleias eram um animal quase desconhecido, o que atualmente já não acontece.
O facto de estas mudanças serem ou não definitivas é o que irá determinar a passagem de um ecossistema para o outro, onde a espessura do gelo tem um papel importante nesta decisão.

"Nos últimos 40 anos, não houve uma extensão de gelo tão baixa quanto a de 2018 e 2019”, afirma o cientista da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica.

Segundo o principal autor do estudo, a prova definitiva de que o Ártico já se alterou seria o assentamento de grandes populações reprodutoras de espécies subárticas: "Já observamos frituras de gadídeos [espécies da família do bacalhau] no sul do mar de Chukchota, mas ainda não está claro se esses peixes sobreviverão ao inverno. É um processo de transformação que levará alguns anos".
Quais as consequências que o degelo do Ártico?
O aquecimento global está a mudar o modo de vida do mundo, em especial das populações que vivem junto dos polos, bem como a fauna e a flora dessas regiões.

Uma das consequências mais preocupantes é o crescimento de vegetação de tundra nas planícies do Ártico em substituição da neve e do gelo. Esta vegetação não tem a capacidade de refletir a luz e o calor acabando por o absorver e libertar gás metano - mais nocivo para a atmosfera do que o próprio CO2.

Em associação, a própria cadeia alimentar irá também sofrer devido ao degelo. O fitoplâncton que alimenta várias espécies e que cresce sob o gelo e o mar é cada vez mais escasso, o que irá prejudicar a alimentação das espécies.

A extinção de vários animais também se encontra em causa com o degelo. A taxa de mortalidade das focas está aumentar e outras espécies como o pinguim imperador está a ser afetada. Os habitats das baleias e dos ursos polares também estão a sofrer constantes transformações.
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