América Latina poderá ser o próximo epicentro da pandemia

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Ricardo Moraes - Reuters

O aumento exponencial do número de casos de infeção por Covid-19 em países como o Brasil, México e Peru está a preocupar as autoridades regionais de saúde. Com mais de 600 mil casos de infeção e 30 mil mortos, especula-se que a região será o próximo foco da pandemia.

Enquanto a grande maioria dos países europeus já se encontra na fase de desconfinamento, na América Latina os países ainda não atingiram o pico da pandemia e lutam para controlar os surtos.

Comparando o Brasil, México e Peru com os três países europeus mais atingidos pela pandemia em termos de mortes – Reino Unido, Itália e França – é possível verificar que o número de óbitos nos países latino-americanos ainda está em curva ascendente, à medida que os países europeus já estão em declive.

O primeiro caso confirmado nesta região foi no Brasil em fevereiro, embora investigadores considerem que existem indícios de que já existiam casos no país em janeiro. Desde essa altura, o vírus propagou-se para os restantes países da América Latina. Até ao momento, a região conta com mais de 600 mil casos de infeção e um número de óbitos superior a 30 mil, de acordo com os dados do Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC).

Os números são muito inferiores aos da Europa e dos Estados Unidos onde existem perto de dois milhões de infetados. No entanto, na América Latina, o número de testes realizados é também inferior e os especialistas alertam que o número de mortos poderá ser superior ao registado.

Brasil e México são os países mais populosos da América Latina e é onde se regista o maior número de mortos. O Brasil, por exemplo, é já o terceiro país em todo o mundo mais afetado pela pandemia, com mais de 300 mil casos confirmados e cerca de 20 mil mortos. Esta sexta-feira voltou a atingir um novo recorde, com mais 1.168 vítimas mortais em 24 horas.

O Peru regista mais casos do que toda a China e é o segundo país da região com maior número de infetados (mais de 104 mil). No entanto, o México, apesar de registar menos infetados (perto de 60 mil), supera no número de mortos, com mais do dobro dos registados no Peru.

Já o Equador, apesar de observar uma queda no número de casos diários, é o país com um maior número de mortes per capita na América Latina, com cerca de 17 óbitos por 100 mil pessoas.

Comparando os dados atuais, no Brasil, México e Peru, o número de mortes duplica, aproximadamente, a cada duas semanas, enquanto no Reino Unido é a cada dois meses e em França a cada quatro. Especialistas considera, por isso, que o pico da pandemia em alguns países latinos está ainda a algumas semanas de distância.
Como estão estes países a tentar travar a Covid-19?
México e Brasil são os países que impuseram medidas de restrição menos rigorosas do que os restantes países da América Latina. Ambos os governos deram indicações aos seus habitantes, mas não foram impostas restrições nacionais como por exemplo na Argentina e no Chile, onde foi decretada uma quarentena obrigatória em certas regiões.

O Peru teve um dos primeiros e mais rigorosos bloqueios, apesar de o número de casos e de mortes não dar sinais de abrandamento.

No Brasil é onde se gerou uma maior polémica, com o presidente Jair Bolsonaro a subestimar constantemente o novo coronavírus. Depois de ter apelidado a doença de uma “gripezinha”, Bolsonaro reagiu ao novo máximo de mortes no país ao dizer que “é a vida, é a realidade” e que o pavor mata mais do que a própria doença.

O presidente brasileiro já demonstrou intenções de reabrir as fronteiras, o que gerou receios por parte dos restantes países da América Latina pela possibilidade de importação de casos do Brasil. O Paraguai, por exemplo, apesar de ter a pandemia controlada, já anunciou que vai manter as fronteiras com o Brasil fechadas enquanto o país vizinho demonstrar "uma forte propagação da Covid-19".
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