Analistas consideram descidas de rating em Moçambique negativas mas com impacto económico limitado

O corte no `rating` de Moçambique pela Moody`s e pela Standard & Poor`s é uma notícia negativa, mas tem um impacto menor que noutros países africanos mais expostos aos mercados internacionais, como Gana, Quénia ou Zâmbia.

Lusa /

De acordo com os analistas ouvidos pela agência de notícias financeira Bloomberg, o custo de servir a dívida pública de Moçambique equivale a 1,5% do Produto Interno Bruto e 10% das receitas fiscais, o que compara com valores de 7% e um terço do PIB, respetivamente, no Gana, por exemplo.

"Moçambique não é um país particularmente condicionado do ponto de vista fiscal como os seus pares, disse o economista Mark Bohlund, da Bloomberg Intelligence, uma unidade de análise económica da Bloomberg.

"Devemos ter em conta que a participação estrangeira nos mercados financeiros de Moçambique é significativamente menor que no Quénia, Zâmbia ou Gana, o que quer dizer que uma descida do `rating` tem um impacto económico muito mais baixo", acrescentou o especialista.

Hoje, a Standard & Poor`s desceu o `rating` de Moçambique em quatro níveis, para CC, dez passos abaixo da recomendação de investimento, ao passo que a Moody`s desceu o `rating` de B2 para B3.

A Fitch mantém o `rating` em análise negativa desde a semana passada, mas ainda não baixou o nível de avaliação que faz do país.

Do ponto de vista dos investidores, a grande dúvida que ainda se mantém é o valor que o Governo está disposto a oferecer pela aceitação da troca dos títulos atuais, que venciam em 2020, por novos títulos com uma taxa de juro fixa e em dólares, com uma extensão de maturidade em três anos, para 2023.

Os investidores, diz a Bloomberg, parecem ter acolhido bem as primeiras notícias, uma vez que as taxas de juro exigidas pelos investidores para negociarem os títulos da Ematum desceram de 19,12% para 16,77% no dia em que o acordo foi anunciado, a 09 de março.

"O Governo está num processo de reestruturação dos títulos da Ematum, o que pode dar alguma liberdade relativamente à moeda estrangeira no país", comentou o economista sénior da consultora NKC African Economics, Hanns Spangenberg.

"Isto deverá aliviar a pressão sobre o metical, por isso a inflação deve estabilizar no segundo trimestre e daí começar a descer", acrescentou o economista.

No ano passado, a quebra dos preços nos mercados internacionais das matérias-primas fez o metical desvalorizar-se 32% face ao dólar, o pior desempenho em África a seguir à moeda da Zâmbia.

Para Moçambique, além das notícias negativas sobre incumprimento nos pagamentos, a grande preocupação é o efeito que isso terá nos custos de financiamento dos megaprojetos de que o país precisa para dar seguimento à disseminação das infraestruturas que vão sustentar o desenvolvimento económico mais diversificado.

"Problemas como o desmoronamento da Ematum só serve para criar mais complicações aos investimentos em Moçambique, numa altura em que os fluxos financeiros são essenciais", concluiu Spangenberg.

O escândalo da Ematum envolve uma empresa atuneira detida por várias entidades públicas, incluindo a secreta moçambicana, que se endividou à custa da intervenção do Governo como avalista e à revelia das contas do Estado e dos financiadores externos.

Inicialmente tido como um negócio privado, através de empréstimos de centenas de milhões de dólares para a aquisição de uma frota pesqueira em França, foi recentemente assumido que a Ematum serviu também para a compra de equipamento militar e, por pressão dos países doadores, o negócio acabou por ser inscrito num orçamento retificativo no ano passado.

As contas da Ematum, nomeadamente a emissão de dívida de 850 milhões de dólares com garantia estatal, têm sido recorrentemente apresentadas pelas instituições financeiras internacionais como um exemplo negativo do estado das contas do país, nomeadamente em termos de transparência.

Moçambique é um dos países mais pobres do mundo e está com dificuldades de pagamento da sua dívida devido à descida do preço das matérias-primas e ao abrandamento da China, que originou uma significativa desvalorização do metical no ano passado, o que, por seu turno, encarece ainda mais os pagamentos dos empréstimos contraídos em dólares.

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