Analistas duvidam de objetivo de acabar com Hamas
Israel tem capacidade para eliminar o líder do Hamas, mas é "muito difícil" aniquilar o movimento islamita, objetivo principal da campanha iniciada há três meses, disseram à Lusa analistas de política internacional.
"O centro de gravidade destas estruturas é essencialmente a narrativa, a ideia. Social e politicamente, a ideia continuará sempre a fazer sentido, logo erradicar o Hamas, como Israel pretende, é muito difícil, porque tem uma capacidade de resiliência significativa de adaptação estrutural e de uma certa fluidez que lhe permite continuar a representar uma ameaça e a estruturar-se, ainda que por outras formas, como sendo uma organização Jihad, como uma organização pró-Palestina e anti-Israel", acrescentou.
"Estamos a falar de uma estrutura de caráter subversivo, que privilegia ações de violência política terrorista e claramente não depende tanto da estrutura, mas essencialmente da ideia. Agora, o que pode acontecer é bloquear a capacidade operacional do Hamas, isso pode ser feito, mas erradicar o Hamas é muito difícil", insistiu.
Por seu lado, João Henriques, vice-presidente do Observatório do Mundo Islâmico (OMI), defende que a eliminação de al-Arouri "representa um ponto de viragem potencialmente perigoso" no conflito entre Israel e o Hamas.
"Este assassínio coloca claramente os líderes do Hamas na mira, estejam eles onde estiverem. De resto, a história de Israel é fértil nesses episódios. Não é menos verdade que tanto o Hamas como o Hezbollah foram lestos a jurar vingança pela morte de al-Arouri", alertou, lembrando que, nos últimos três meses de "intensa guerra urbana", Israel "não conseguiu matar muitos dos principais líderes" do movimento islamita em Gaza.
Para o analista, a morte de al-Arouri vem mostrar que fora da faixa de Gaza haverá mais e melhores condições de planificação e preparação de ataques contra Israel, "o que perspetiva uma nova e talvez mais imprevisível fase do conflito, na quase convicção de que o Hamas, enquanto organização terrorista, não tem o seu fim anunciado".
"As forças e os serviços de inteligência que previnem e combatem o flagelo terrorista sabem por experiência própria que os líderes e os membros dos grupos e das organizações islamistas podem ser eliminados, mas a sua ideologia jamais. De resto, a radicalização é crescente entre menores e é motivo de enorme preocupação num ano de atividade muito intensa, sobretudo na sua reta final, devido à guerra em Gaza e à consequente radicalização dos menores", argumentou, apontando inclusivamente ameaças na Europa.
Segundo João Henriques, a situação no Médio Oriente, por si só, não provocou um aumento de novos indivíduos radicalizados, mas a sua presença em território europeu acabou por pôr "as forças e os serviços de segurança num nível de alerta mais elevado".