Analistas duvidam de objetivo de acabar com Hamas

Israel tem capacidade para eliminar o líder do Hamas, mas é "muito difícil" aniquilar o movimento islamita, objetivo principal da campanha iniciada há três meses, disseram à Lusa analistas de política internacional.

Lusa /

"Há a possibilidade de eliminar o líder do Hamas [Ismail Haniyeh]. Parece-me que haverá essa intenção e há essa capacidade. Agora, se a oportunidade criada pelo Hamas e por quem protege esse líder do Hamas existe, é diferente. Há intenção, há capacidade, mas não me parece que haja, para já, oportunidade para que esse tipo de situação aconteça", afirmou à agência Lusa o analista Filipe Pathé Duarte.

Tendo como pano de fundo a morte, a 02 deste mês, do `número dois` do Hamas, Saleh al-Arouri, abatido num ataque militar de Israel no Líbano, o também académico da NOVA School of Law afirma que independentemente de se cumprirem, domingo, três meses desde os ataques de 07 de outubro a Israel, a dificuldade em aniquilar o Hamas deve-se ao facto de organizações deste género, "mais do que dependentes da estrutura e da cadeia de comando, dependem essencialmente da ideia".

"O centro de gravidade destas estruturas é essencialmente a narrativa, a ideia. Social e politicamente, a ideia continuará sempre a fazer sentido, logo erradicar o Hamas, como Israel pretende, é muito difícil, porque tem uma capacidade de resiliência significativa de adaptação estrutural e de uma certa fluidez que lhe permite continuar a representar uma ameaça e a estruturar-se, ainda que por outras formas, como sendo uma organização Jihad, como uma organização pró-Palestina e anti-Israel", acrescentou.

"Estamos a falar de uma estrutura de caráter subversivo, que privilegia ações de violência política terrorista e claramente não depende tanto da estrutura, mas essencialmente da ideia. Agora, o que pode acontecer é bloquear a capacidade operacional do Hamas, isso pode ser feito, mas erradicar o Hamas é muito difícil", insistiu.

Por seu lado, João Henriques, vice-presidente do Observatório do Mundo Islâmico (OMI), defende que a eliminação de al-Arouri "representa um ponto de viragem potencialmente perigoso" no conflito entre Israel e o Hamas.

"Este assassínio coloca claramente os líderes do Hamas na mira, estejam eles onde estiverem. De resto, a história de Israel é fértil nesses episódios. Não é menos verdade que tanto o Hamas como o Hezbollah foram lestos a jurar vingança pela morte de al-Arouri", alertou, lembrando que, nos últimos três meses de "intensa guerra urbana", Israel "não conseguiu matar muitos dos principais líderes" do movimento islamita em Gaza.

Para o analista, a morte de al-Arouri vem mostrar que fora da faixa de Gaza haverá mais e melhores condições de planificação e preparação de ataques contra Israel, "o que perspetiva uma nova e talvez mais imprevisível fase do conflito, na quase convicção de que o Hamas, enquanto organização terrorista, não tem o seu fim anunciado".

"As forças e os serviços de inteligência que previnem e combatem o flagelo terrorista sabem por experiência própria que os líderes e os membros dos grupos e das organizações islamistas podem ser eliminados, mas a sua ideologia jamais. De resto, a radicalização é crescente entre menores e é motivo de enorme preocupação num ano de atividade muito intensa, sobretudo na sua reta final, devido à guerra em Gaza e à consequente radicalização dos menores", argumentou, apontando inclusivamente ameaças na Europa.

Segundo João Henriques, a situação no Médio Oriente, por si só, não provocou um aumento de novos indivíduos radicalizados, mas a sua presença em território europeu acabou por pôr "as forças e os serviços de segurança num nível de alerta mais elevado".

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