A extrema-direita conquistou assento no Parlamento Regional da Andaluzia, em Espanha, pela primeira vez em 36 anos. O partido Vox elegeu 12 deputados nas eleições autonómicas. A ascensão do Vox, juntamente com a subida do Ciudadanos (elegeu 21 deputados), associada à baixa participação (58,6 por cento), contribuiu para a derrocada dos socialistas, que venceram mas têm agora 33 deputados. Os partidos de direita, em conjunto, conseguem maioria parlamentar.
No entanto, a continuidade do domínio do baluarte socialista está em causa após Susana Díaz ter registado o pior resultado de sempre ao perder mais de meio milhão de votos.
Com um total de 109 lugares, o novo parlamento andaluz terá 33 deputados socialistas, em vez dos 47 parlamentares eleitos em 2015. Os socialistas perderam 14 lugares.
O bastião socialista está em perigo porque a esquerda, ao contrário da direita, não consegue somar maioria absoluta. A Adiante Andaluzia (encabeçada pelo Podemos da esquerda populista em coligação com a Esquerda Unida) desceu de 20 para 17 deputados. Em coligação, a esquerda ficaria com 50 deputados, longe do limiar da maioria absoluta dos 55 deputados.
Abstenção histórica
Estas eleições tiveram a mais baixa participação desde 1990. A abstenção, que superou os 41 por cento, influenciou os resultados dos socialistas, uma vez que a ausência às urnas foi mais forte em feudos do PSOE, como Sevilha e Jaén.
Os socialistas perderam deputados em todas as circunscrições, em detrimento do Ciudadanos.
Direita garante maioria parlamentar
O Partido Popular de Juan Manuel Moreno ficou em segundo lugar, caindo de 33 para 26 deputados regionais. No entanto Pablo Casado, líder nacional do PP afirmou que planeava manter contactos com todos os partidos à direita dos socialistas.
O Ciudadanos, de centro-direita, subiu de 9 para 21 deputados e poderá ter a vida facilitada para formar Governo. Em entrevista a uma rádio, o candidato do Ciudadanos anunciou que vai apresentar-se à liderança da região. "Não apoiamos um Governo da Susana Diaz ou com o Partido Socialista. Perderam a confiança do povo andaluz e por isso essa possibilidade não existe", declarou Juan Marin.
Os partidos de direita, em conjunto, conseguem maioria parlamentar. Os líderes das três forças saudaram o resultado e disseram que queriam expulsar os socialistas da região.
Pedro Sanchéz tem um problema
Na manhã desta segunda-feira, o primeiro-ministro garantia nas redes sociais que os resultados na Andaluzia vinham fortalecer o compromisso com a defesa da Constituição e da Democracia frente ao medo.
Mi Gobierno seguirá impulsando un proyecto regenerador y europeísta para España. Los resultados en Andalucía refuerzan nuestro compromiso de defender la #Constitución y la #Democracia frente al miedo.
— Pedro Sánchez (@sanchezcastejon) 3 de dezembro de 2018
O governo socialista da região da Andaluzia pode ter os dias contados porque, na campanha eleitoral, todas as forças políticas recusaram dar apoio a um executivo liderado pela atual presidente do PSOE.
"Este fenómeno que já vimos no resto da Europa e no mundo chegou agora a Espanha e está a entrar no Parlamento andaluz”, dizia Susana Diaz, considerando “muito grave” a entrada dos populistas no parlamento andaluz.
Formado em 2014, por um antigo militante do Partido Popular, o Vox conseguiu mais de 400 mil votos. Presidido por Santiago Abascal, o partido travou o debate interno até à última hora sobre a eventual participação nas eleições andaluzes. Temiam não ter estrutura e meios suficientes para alavancar votos.
Os seus líderes tiraram proveito do elevado desemprego e dos receios relacionados com afluência de imigrantes chegados de África à província com 87 mil quilómetros quadrados e mais de oito milhões de habitantes.
Para conter o que classifica de "invasão", o partido propõe a construção de um "muro" em Ceuta e Melilla ou até o recurso ao Exército para reforçar as fronteiras.
Opositor à entrada da Turquia na União Europeia, Santiago Abascal esteve, durante a campanha, acompanhado de membros dos partidos eurocéticos, que tal como ele pedem alterações aos tratados europeus Europeia no sentido de recuperar a soberania.
O resultado do partido foi saudado pela francesa Marine Le Pen, líder da União Nacional, que vê no Vox um partido amigo e com ideais europeus comuns.
🇪🇸 Mes vives et chaleureuses félicitations à nos amis de @vox_es qui, ce soir en #Espagne, font un score très significatif pour un jeune et dynamique mouvement. 👏🏻 MLP #Andalousie Cc @Santi_ABASCAL
— Marine Le Pen (@MLP_officiel) 2 de dezembro de 2018
O programa político do Vox pede o fim das comunidades autónomas em detrimento de um “Estado unitário”, com o intuito de “reduzir a despesa pública”. Prevê a suspensão das polícias autonómicas, como os Mossos d’Esquadra ou a Ertzaintza, bem como a redução do número de alcaides em 50 por cento.
O partido sugere um corte "radical" do Imposto de Renda, deixando isentos os rendimentos abaixo de 12.000 euros, e fixando uma taxa fixa única de 20 por cento para rendimentos até 60.000 euros.
O corte nos impostos para as empresas, reduzindo a carga tributária para 20 por cento, é outro dos pontos no programa, bem como o fim da tributação de pensões e a eliminação de outros impostos.
A revogação das leis do aborto, da violência de género e da memória histórica são também propostas do Vox.
A proteção da tauromaquia através da declaração da atividade como “Património Cultural e Histórico” também consta do programa do partido.
Uma das linhas fortes do Vox é a luta contra o Islão, através do encerramento de “mesquitas fundamentalistas” e a expulsão de imãs com discurso extremista, bem como a proibição de "todas as práticas humilhantes contra as mulheres, como a burca".
Outra das propostas é a investigação ao financiamento das mesquitas pelos países árabes, como a campanha para que a Mesquita de Córdoba seja novamente um local de culto islâmico.