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Anticorpos IgA neutralizam SARS-CoV-2 com mais eficácia

por Inês Moreira Santos - RTP
Alkis Konstantinidis - Reuters

Investigações recentes descobriram quais são os anticorpos que neutralizam mais eficazmente o novo coronavírus quando o organismo é infetado. Estas conclusões podem contribuir para a melhoria do processo de desenvolvimento das vacinas contra a Covid-19.

Os anticorpos IgA, abundantes nas mucosas dos infetados pelo novo coronavírus, são os primeiros a aparecer quando o organismo contrai o SARS-Cov-2 e, ao mesmo tempo, os que melhor o neutralizam. As conclusões são de duas investigações divulgaas esta semana na revista Science Translational Medicine.

Os autores destas investigações começaram por concluir que o novo coronavírus induz respostas imunes humorais - resposta imunitária realizada por anticorpos secretados por plasmócitos (células derivadas dos linfócitos B) - robustas no organismo, "incluindo a produção de anticorpos específicos para vírus dos isotipos IgM, IgG e IgA".

Como os anticorpos IgA são detetados nas mucosas e protegem as superfícies contra patógenos, neutralizando os vírus respiratórios ou impedindo que se fixem às células epiteliais, foram analisadas "as respostas humorais agudas ao SARS-CoV-2, incluindo a frequência de células secretoras de anticorpos e a presença de anticorpos neutralizantes específicos para SARS-CoV-2 no sangue, na saliva e fluido bronco-alveolar de 159 pacientes com Covid-19". Para tal, médicos do hospital Pitié-Salpêtrière em Paris analisaram a resposta imune no sangue, saliva e fluido dos pulmões desses doentes.

Segundo os dados das investigações, as células produtoras de anticorpos no sangue aumentam rapidamente nos primeiros nove dias após o início dos sintomas da Covid-19, atingem o pico entre os dias 10 e 15 e, em seguida, começam a diminuir. Mas, ao contrário do que os investigadores esperavam, os plasmócitos que aumentam primeiro são aqueles que produzem anticorpos do tipo IgA e não do tipo IgM.

"As primeiras respostas humorais específicas para SARS-CoV-2 foram dominadas por anticorpos IgA", lê-se no documento. "As respostas de anticorpos específicos para o vírus incluíram IgG, IgM e IgA, mas o IgA contribuiu para a neutralização do vírus em maior extensão em comparação com IgG".

A maioria dos testes sorológicos para a Covid-19 deteta os anticorpos IgM (já que, geralmente, são os primeiros a reagir quando o sistema imunitário deteta uma infecção viral) e os IgG (que são os mais abundantes), mas não IgA.

Contudo, já com o vírus da gripe comum (Influenza) os anticorpos IgA demonstraram ser mais eficazes na prevenção de infeções em animais e humanos em comparação aos IgG específicos esse vírus. Agora, os especialista concluem que os anticorpos IgA também podem desempenhar "um papel importante na infeção por SARS-CoV-2".

"Estes resultados sugerem que o teste de IgA pode melhorar o diagnóstico precoce da Covid-19"
, escreveram os investigadores do hospital Pitié-Salpêtrière.
Anticorpos IgA podem ser mais eficazes

Os investigadores descobriram que, para além de os IgA serem dos primeiros a serem detetados em pessoas com Covid-19, estes anticorpos neutralizam o vírus SARS-CoV-2 de forma mais eficiente do que os IgM e os IgG, uma vez que bloqueiam melhor a proteína S do vírus que se liga às células humanas para infetar o organismo.

"Os nossos resultados sugerem que a imunidade mediada por IgA pode ser um mecanismo de defesa determinante contra o SARS-CoV-2 que pode reduzir a infecciosidade das secreções humanas e, portanto, a transmissão do vírus", concluem os investigadores.

"Esta descoberta também pode ajudar no desenvolvimento de vacinas que induzem respostas IgA específicas".

À mesma conclusão chegou outra equipa de investigação da Universidade Rockefeller de Nova Iorque que analisou anticorpos IgA em 149 pessoas que recuperaram da Covid-19.

"O objetivo deste estudo foi investigar a resposta dos anticorpos IgA ao SARS-CoV-2 , uma vez que a contribuição precisa do IgA não foi descrita até agora", comçaram por explicar os especialistas, liderados por Michel Nussenzweig - uma referência mundial em imunologia e um dos líderes no estudo da resposta imunitária contra a Covid-19.

No processo mais importante da investigação, os IgA mostraram uma capacidade de neutralizar o novo coronavírus entre cinco e dez vezes maior do que os IgG. Esta maior capacidade neutralizante foi observada quando os anticorpor IgA assumiam a forma de dímero (estrutura com duas peças, predominante na mucosa da boca e faringe), mas não quando estão na forma de monômero (estrutura de uma peça).

No caso da gripe comum, os anticorpos IgA demonstraram ser mais eficazes na prevenção de infeções do que os IgA em ratos e pessoas. Já na Covid-19, uma vacina experimental administrada por via nasal nos ratos estimulou a produção de anticorpos neutralizantes e células imunes que preveniram a infeção.

Os autores referem que estes resultados representam, no entanto, "uma observação crítica" e mas podem sugerir que os processos de desenvolvimento de vacinas devem considerar "o direcionamento de uma resposta IgA potente, mas potencialmente curta".
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