Antigo mayor de Nova Iorque Rudolph Giuliani na defesa de Trump

O republicano Rudolph Giuliani, mayor de Nova Iorque à época dos atentados do 11 de Setembro de 2001, é um dos três novos advogados chamados a reforçar a equipa de defesa do Presidente dos Estados Unidos para o processo do alegado conluio com Moscovo. Resolver “rapidamente” a investigação liderada pelo procurador especial Robert Mueller é o objetivo assumido pelos representantes de Donald Trump.

Carlos Santos Neves - RTP /
Donald Trump a ouvir Rudolph Giuliani durante uma reunião sobre cibersegurança na Casa Branca, em janeiro de 2017 Kevin Lamarque - Reuters

Além de Giuliani, há anos no círculo mais próximo de Trump, a defesa do Presidente passará a contar com Jane Serene Raskin e Martin R. Raskin, antigos procuradores federais do Estado da Florida. Experiência profissional que faz também parte do currículo do antigo mayor de Nova Iorque – que foi em tempos procurador em Manhattan e um nome destacado no Departamento de Justiça.

Estes reforços foram confirmados nas últimas horas, em comunicado, por Jay Sekulow, outro dos advogados do 45.º Presidente norte-americano.

“O Presidente disse: Rudy é muito bom. Ele é meu amigo há muito e quer ver este assunto rapidamente resolvido para o bem do país”, citou o representante legal.Na semana passada, agentes do FBI fizeram buscas no escritório e num quarto de hotel do advogado Michael Cohen.


A expansão da equipa de defesa é ditada pelo contexto de aperto da malha judicial em redor da Sala Oval. Trump enfrenta não só a investigação conduzida por Robert S. Mueller III, mas igualmente o risco muito sólido de um segundo processo por parte de procuradores federais de Manhattan, a propósito da natureza dos serviços prestados pelo seu advogado pessoal Michael Cohen.

O diário norte-americano The New York Times observa que, entre a equipa de advogados do Presidente, o caso de Nova Iorque está a ser encarado como uma ameaça mais severa do que os riscos políticos inerentes à investigação de Mueller, que incide sobre as suspeitas de concluio com agentes russos na eleição presidencial que transportou Trump para a Casa Branca.

Até porque a defesa “não sabe o que foi levado do gabinete” de Michael Cohen “e não é claro” o objeto desta investigação, lê-se na edição online do mesmo jornal. E a inquietação é reforçada pelo facto de as autoridades “terem sido capazes de obter autorização de um juiz federal” para escrutinar o escritório do advogado.

Ou seja, a convicção é a de que haverá indícios suficientemente robustos de práticas ilícitas. Algo que os advogados esperam contrariar com o argumento de que o FBI atropelou o princípio da confidencialidade da relação de trabalho entre Trump e Cohen.
Dias de tempestade

O recrutamento do antigo mayor de Nova Iorque, que se afastará temporariamente da sua firma de advocacia, a Greenberg Traurig, acontece num momento especialmente conturbado de uma Presidência que, desde o seu advento, assume contornos erráticos.

A 22 de março, John Dowd, número um da equipa de defesa de Donald J. Trump, saiu de cena a queixar-se de um Presidente pouco interessado em seguir o aconselhamento jurídico. A liderança cabe, desde então, a Jay Sekulow.
Sobre Trump incide também a suspeita de compra do silêncio de várias mulheres com quem terá mantido ligações íntimas.
A par da frente nova-iorquina, o procurador especial tem vindo a acentuar a pressão sobre o Presidente para que este aceite prestar-lhe declarações presenciais. De início, Trump clamou estar preparado para responder, sob juramento, a todas as perguntas de Mueller. Agora o clima mudou.

Rudolph Giuliani, hoje com 73 anos, foi batido em 2008 nas eleições primárias republicanas. Cerrou depois fileiras com John McCain, que viria a ser derrotado por Barack Obama na eleição presidencial. O nome do antigo mayor - o equivalente a um presidente de câmara - da Big Apple surge nas páginas do recém-lançado livro do ex-diretor do FBI James Comey, “A Higher Loyalty: Truth, Lies, and Leadership”. E não em tom lisonjeiro.

Escreve Comey – ele mesmo um antigo subordinado de Rudolph Giuliani na Procuradoria de Manhattan, no final dos anos de 1980 – que “embora a confiança de Giuliani fosse excitante, esta alimentava um estilo imperial que limitava o círculo de pessoas com quem interagia, o que eu só percebi ser perigoso muito mais tarde: um líder precisa da verdade, mas um imperador não a ouve consistentemente dos seus subalternos”.

Ao Washington Post, Giuliani explica ter anuído a defender Donald Trump por ter a expectativa de “poder negociar um entendimento que seja bom para o país” e por ter “muito respeito pelo Presidente e Robert Mueller”.
Tópicos
PUB