Os tumultos que estão a pôr à prova as autoridades norte-americanas, no seguimento da morte de um cidadão negro às mãos de uma patrulha policial em Minneapolis, alastraram inesperadamente à maior rede social da Internet. Mark Zuckerberg, criador e patrão do Facebook, está a enfrentar uma onda de críticas inédita por parte de quadros de topo da empresa, após nada fazer quanto às mensagens inflamadas de Donald Trump num momento em que o Twitter resolveu enfrentar o presidente e bloquear alguns dos seus conteúdos.
....These THUGS are dishonoring the memory of George Floyd, and I won’t let that happen. Just spoke to Governor Tim Walz and told him that the Military is with him all the way. Any difficulty and we will assume control but, when the looting starts, the shooting starts. Thank you!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) May 29, 2020
A polémica entre Trump e o Twitter estava já em franca progressão depois do libelo presidencial contra o voto postal (que, apesar de criticar, é exercido pelo próprio Trump), mas atingiria um pico crítico neste período em que a onda de contestação à violência policial conseguiu abafar os números dramáticos da pandemia do novo coronavírus. Os tweets do presidente começaram por ser contrabalançados com uma sinalética de “verificação de factos” (fact check), até que alguns textos acabaram ocultados por ultrapassarem essa linha vermelha em que - refere a rede social Twitter - não são permitidos incitamentos à violência.
Mark is wrong, and I will endeavor in the loudest possible way to change his mind.
— Ryan Freitas (@ryanchris) June 1, 2020
Mas não é caso único. A onda de contestação interna às políticas do Facebook está a ganhar corpo na rede rival. Na conta de Jason Stirman, que trabalha no desenvolvimento de produtos do Facebook, pode ler-se esta mensagem: “Não sei o que há a fazer, mas nada fazer não é aceitável. Sou um funcionário do FB que está em total desacordo com a decisão de Mark [Zuckerberg] de não fazer nada em relação aos posts recentes de [Donald] Trump, que incitam claramente à violência. Não estou sozinho nisto dentro do FB. Não há posição neutral em relação ao racismo”.
I don't know what to do, but I know doing nothing is not acceptable. I'm a FB employee that completely disagrees with Mark's decision to do nothing about Trump's recent posts, which clearly incite violence. I'm not alone inside of FB. There isn't a neutral position on racism.
— Stirman (@stirman) May 30, 2020
Outro funcionário ao nível de direcção e gestão de produto, Jason Toff, escreve que trabalha no Facebook e não se sente bem com a posição empresa.
I work at Facebook and I am not proud of how we’re showing up. The majority of coworkers I’ve spoken to feel the same way. We are making our voice heard.
— Jason Toff (@jasontoff) June 1, 2020
Os tweets de descontentamento e contestação em relação à direcção que Mark Zuckerberg está a imprimir à sua rede social são inúmeros e um sinal nunca visto que constitui, por si só, uma rebelião, que se saiba, incontida.
Em linha de fundo estarão a Primeira Emenda à Constituição dos Estados Unidos, que determina a liberdade de expressão, e a leitura do texto fundador feita pelo CEO do Facebook, em oposição à linha editorial do Twitter. Um ponto e contraponto que levou Donald Trump a ameaçar acabar com a rede Twitter por decreto.
Mark Zuckerberg defende que, ao deixar disponíveis essas mensagens de validade ou carácter duvidosos, permite a cada um dos membros da rede avaliar por si próprio esses mesmos conteúdos. No entanto, um artigo do New York Times aponta discussões internas do pessoal do Facebook em que é colocada a questão de uma maior permissividade em relação a Trump para não haver o risco de confrontar o presidente.