Arábia Saudita. Liderança do príncipe herdeiro alvo de várias críticas

por RTP
Reuters - Mandel Ngan

A liderança do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman está a ser posta em causa depois de ter ocorrido um dos maiores ataques contra duas instalações petrolíferas, na Arábia Saudita. Alguns membros da elite saudita mostraram-se descontentes com a atitude do próximo líder do país.

A capacidade do príncipe herdeiro para defender e liderar o maior exportador de petróleo do mundo está a ser questionada, segundo revelaram fontes ligadas à realeza, citadas pela agência noticiosa Reuters.

"Há muito ressentimento", afirmou um membro da elite saudita com conexões reais. As pessoas “não confiam” em Mohammed bin Salman (MBS), alegaram essas fontes.

Para o investigador Neil Quilliam, "há uma confiança cada vez menor na capacidade de proteger o país - e isso é uma consequência das suas políticas".

No entanto, o príncipe herdeiro parece determinado a cumprir as suas funções de líder.

"Se o mundo não empreender uma ação forte e firme para deter o Irão, assistiremos a outras escaladas que ameaçarão os interesses mundiais", disse MBS durante uma entrevista ao programa "60 Minutos" da CBS.

Na opinião de Mohammed bin Salman, caso não seja exercida uma “ação forte” contra o Irão, os preços do petróleo podem atingir "valores inimaginavelmente altos".

Ainda assim, “a solução política e pacífica é muito melhor do que a militar", ressalvou.
Dia de tensões
A Arábia Saudita continua numa onda de frustração e a estabilidade política pode estar por um fio.

Apesar de o príncipe herdeiro ter gasto centenas de milhares de milhões de dólares para melhorar a capacidade defensiva do reino, MBS não foi capaz de impedir o maior ataque de todos os tempos a duas instalações petrolíferas.

"A magnitude desses ataques não passa despercebida à população, nem o fato de que ele [o príncipe herdeiro] é o ministro da Defesa e o irmão é o vice-ministro. No entanto, o país sofreu o maior ataque de todos os tempos", sublinhou Neil Quilliam.

O ministro de Estado das Relações Exteriores da Arábia Saudita, Adel al-Jubeir, revelou que as defesas aéreas chegaram a impedir centenas de mísseis balísticos e dezenas de drones. No entanto, uma falha no sistema não conseguiu intercetar o ataque de dia 14 de setembro.

Nesse dia, as tensões entre Washington e Teerão voltaram a emergir devido ao ataque com drones contra essas duas instalações petrolíferas, na região do Golfo Pérsico.

O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, apontou imediatamente o dedo aos iranianos e acusou-os de terem "lançado um ataque sem precedentes contra o maior fornecimento energético mundial".

Contudo, o Irão negou prontamente qualquer envolvimento. Ainda assim, três dos signatários do acordo nuclear iraniano - a França, a Alemanha e a Inglaterra – voltaram a condenar “firmemente” Teerão pelas massivas explosões nas instalações sauditas.

Os Huthis, apoiados politicamente pelo Irão, grande rival regional da Arábia Saudita, reivindicaram entretanto responsabilidade pelo ataque.
O caso de Khashoggi

Ao que parece, as críticas à liderança de MBS não ficam por aqui. Na semana passada, o príncipe herdeiro esteve novamente envolvido na discussão sobre um outro episódio mediático, o caso do jornalista Jamal Khashoggi.

O colunista do Washington Post desapareceu misteriosamente, em outubro do ano passado. Jamal Khashoggi foi visto pela última vez no Consulado saudita, em Istambul. A capital da Arábia Saudita negou inicialmente qualquer conhecimento sobre o paradeiro de Khashoggi, mas acabou por admitir que o jornalista de 59 anos foi morto e desmembrado dentro das instalações.

O príncipe herdeiro negou ter ordenado a morte de Khashoggi, mas admitiu "total responsabilidade" como líder do reino.


"Aconteceu sob a minha supervisão. Assumo toda a responsabilidade, porque aconteceu sob a minha supervisão", assumiu Mohammed bin Salman num documentário norte-americano da PBS.

A morte do jornalista gerou bastante controvérsia a nível mundial e manchou a imagem do príncipe herdeiro.
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