Arcebispo de Juba no Sudão do Sul alerta que guerra é contagiosa

O arcebispo de Juba, capital do Sudão do Sul, alertou hoje que a guerra no Sudão é contagiosa e que pode alastrar-se na região, e salientou serem gigantescas as necessidades dos que fogem do país vizinho.

Lusa /

"A guerra é contagiosa. Esperamos que se possa conter esta guerra, dentro do Sudão, porque se o conflito se espalhar para o nosso país, vai haver um segundo deslocamento interno de pessoas", afirmou Stephen Mulla, referindo que, "por isso, os organismos regionais e a União Africana estão a dar o seu melhor para que as duas partes entrem em negociações e assinem a paz".

Aos jornalistas, na Cidade do Vaticano, onde no sábado vai ser investido cardeal, o arcebispo admitiu mesmo que a guerra "pode alastrar-se para o Sudão do Sul", para o Chade e outros países, dizendo rezar e esperar para "que as pessoas tenham bom senso e se sentem para negociar a paz".

O Sudão mergulhou num conflito interno em 15 de abril último, quando tensões há muito latentes entre os militares, liderados por al-Burhan, e as Forças de Apoio Rápido (FAR, paramilitares) rivais, comandadas por Mohamed Hamdan Dagalo evoluíram para o combate aberto nas ruas de Cartum, a capital sudanesa, alastrando-se, entretanto, a todo o país.

O conflito já matou pelo menos 5.000 pessoas e feriu outras 12.000, segundo as Nações Unidas (ONU).

Há uma semana, o líder da junta militar no poder no Sudão afirmou na Assembleia Geral da ONU que a guerra no seu país pode alastrar-se para além das fronteiras sudanesas, exortando a que a força rival seja designada grupo terrorista.

Segundo o arcebispo de Juba, "o que é único nesta guerra, no Sudão, é que é travada na capital, por isso afeta muitas pessoas que viviam, pacificamente, no país".

"Esta guerra criou muitos problemas, muitas pessoas estão a fugir de Cartum para o Sudão do Sul, a Etiópia, o Egito, para a República Centro-Africana e o Chade", adiantou, destacando que as pessoas deslocadas têm muitas necessidades.

Considerando que "o Sudão do Sul se tornou, agora, um refúgio seguro para os sudaneses que estão a fugir do norte", Stephen Mulla assinalou: "Não fazemos diferença entre quem é do norte e do sul, deixamos as pessoas entrar".

"O Governo do Sudão do Sul também tem cooperado, desde o início, afirmando que todas as pessoas devem ser acolhidas, abrindo as fronteiras", observou, adiantando que devido a esta situação, o seu país um "enorme número de pessoas que entram no país, algumas junto à fronteira, algumas já em Juba, onde estão a ser instalados campos".

"As necessidades são gigantescas, precisamos, realmente, de apelar às organizações internacionais, para que venham em ajuda destas pessoas deslocadas, que não têm comida, não têm água, não têm tendas nem as coisas básicas. Deixaram tudo para trás, fugindo pelas suas vidas", realçou, notando que, "por isso, há necessidades enormes no Sudão do Sul, atualmente".

Questionado sobre se o diálogo inter-religioso pode ter um papel para se alcançar a paz, o futuro cardeal realçou que se está "perante um conflito político".

Sobre isto, o arcebispo acrescentou que "são questões políticas, no Sudão e no Sudão do Sul", onde em ambos os países o papel do diálogo inter-religioso "é muito importante".

"Ainda hoje, persistem grupos fundamentalistas, em particular no Sudão, que não estão dispostos a ceder facilmente, por pensarem que a guerra é a forma de resolver os problemas", acrescentou, desejando que, "através do diálogo, se possam resolver estes problemas políticos".

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