Ainda é provisório, mas o acordo entre os argumentistas de Hollywood e os principais estúdios de televisão e cinema norte-americanos pode colocar um ponto final na greve que decorre há cinco meses. O sindicato dos escritores e argumentistas Writers Guild of America avançou que as negociações foram "excecionais e trouxeram ganhos e proteções significativas para os escritores".
Nos últimos dias, a direção da Netflix, Disney, Universal e Warner Bros Discovery participaram pessoalmente das negociações, permitindo um novo impulso.
Presentes estiveram o CEO da Disney, Bob Iger, o CEO da Warner Bros. Discovery, David Zaslav, o CEO da Netflix, Ted Sarandos, e a diretora de conteúdos da Universal Pictures, Donna Langley.
Na noite de sábado, os principais estúdios de cinema e televisão entregaram o que chamam de “melhor e última” oferta aos escritores em greve.
“Podemos dizer, com grande orgulho, que este acordo é excepcional”, escreveu o WGA numa carta aos seus 11.500 membros, “com ganhos significativos e proteções para escritores em todos os sectores dos membros”. É acordo provisório ainda a necessitar de ser ratificado pelos membros do WGA.
Reivindicações
Entre as várias reivindicações dos argumentistas estão os salários e o receio do impacto da inteligência artificial (IA) que, a ser utilizada, pode no limite vir a substituí-los.
Os pagamentos de royalties que os escritores recebem por programas populares de streaming também estão em cima da mesa.
Os autores reclamam por pagamentos de valores mais altos porque, embora sejam apenas uma fração dos ganhos, durante a repetição do trabalho em serviços de streaming as empresas continuam a faturar – devendo por isso também fazer parte do honorário que obteriam com um programa de TV aberta.
Desta forma, os escritores pediram níveis garantidos para séries de televisão, reclamando um novo modelo de streaming.
Os dirigentes do WGA e os membros do sindicato deverão também dar o seu acordo a um contrato de três anos com a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão antes de regressarem ao trabalho.
Os estúdios concordaram com algumas exigências para proteger o trabalho do escritor do uso de inteligência artificial no processo de escrita.
Numa contraoferta anterior, a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP), que representa mais de 350 estudios, propôs proibir material produzido por software gerado de IA, dizendo que não seria considerado “material literário” ou “material original”.
E os atores?
Os actores começaram uma greve a meados de julho e são representados pelo sindicato de artistas SAG-AFTRA, que contam com 160.000 membros.
A organização sindical já saudou o acordo alcançado após a luta dos argumentistas, elogiando os “146 dias de incrível força, resiliência e solidariedade”.
“Desde o dia em que a greve do WGA começou, os membros do SAG-AFTRA estiveram ao lado dos escritores nos piquetes”, realçou.
“Continuamos em greve no nosso contrato de TV/Teatro e continuamos a instar os CEO de estúdios e streamers e a AMPTP a retornarem à mesa e fazerem o acordo justo que os nossos membros merecem e exigem” declarou o SAG-AFTRA.
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, também se manifestou a favor do acordo, sublinhando que “a indústria do entretenimento da Califórnia não seria o que é hoje sem os nossos escritores de classe mundial”.
E acrescenta: “Estou grato por os dois lados se terem unido para chegar a um acordo que beneficia todas as partes envolvidas e que pode colocar uma parte importante da economia da Califórnia de regresso ao trabalho.”
A greve de cinco meses teve impacto em muitas áreas relacionadas com a indústria do entretenimento. Os fornecedores de catering, produtores de guarda-roupa, carpinteiros, cenografia, operadores de câmara e restantes técnicos viram a atividade reduzida durante este período.
A paralisação dos escritores começou a 2 de maio. Uma estimativa feita por Kevin Klowden, economista do Milken Institute, aponta para uma perda na economia dos EUA de cerca de 4,7 mil milhões de euros.
Foram suspensas diversas produções norte-americanas como The Last of Us, Billions, Stranger Things, The Handmaid's Tale, Hacks, Severance, Yellowjackets e Abbott Elementary.